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quarta-feira, 27 de julho de 2011

Marcha das Margaridas cobrará ampliação de recursos para atender mulheres rurais em situação de violência

Cut.org.br

CUT reforça que fim dos assassinatos no campo depende de mudança no modelo agrário

A reivindicação da CUT para que as investigações a respeito dos crimes contra lideranças sindicais passem para as mãos da Polícia Federal é apenas uma das ações que a entidade cobra do governo como forma de solucionar o processo de criminalização dos movimentos sociais no país.


Para a Central, o desenrolar dessa questão passa pela mudança da estrutura agrária no Brasil. “O conflito não se restringe mais à terra, inclui também a disputa por recursos que existem nas propriedades, principalmente pela madeira. Hoje, os grandes proprietários vão aos assentamentos e oferecem dinheiro para que os assentados desmatem áreas de preservação e vendam os recursos. Quem não aceita essa situação é vítima da violência”, explica Elisângela Araújo, diretora Executiva da CUT e presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (Fetraf).

A dirigente lembra que apesar dos avanços nos últimos 8 anos, com o aumento do investimento na agricultura familiar, dos R$ 2 bilhões, de 2002, durante o governo FHC, para os R$ 16 bilhões do Plano Safra 2011-2012, a agricultura empresarial ainda abocanha a maior parte do programa: R$ 107,2 bilhões. “Apesar de a agricultura familiar ser responsável por 70% dos alimentos na mesa dos brasileiros, a prioridade vai para um modelo de produção em que prevalece a monocultura, traz cada mais êxodo rural e está devastando biomas como a caatinga e o cerrado”, diz Elisângela.

A transformação do modelo de produção foi uma das pautas do Dia Nacional de Mobilização, em 6 de julho, quando a CUT destacou a necessidade de ampliar o acesso dos agricultores familiares ao crédito e à assistência técnica, como uma forma de desonerar a cesta básica de alimentos na reforma tributária. Os trabalhadores também defendem a aprovação da PEC do Trabalho Escravo e do limite da propriedade da terra no Congresso como outras ações necessárias para democratizar o campo.

Impunidade continua
Mesmo as medidas urgentes deixam a desejar, avalia José Batista, advogado da Comissão Pastoral da Terra (CPT), no Marabá. Prova disso é a investigação sobre o assassinato dos líderes extrativistas José Cláudio da Silva e Maria Espírito Santo da Silva, executados no dia 24 de maio, em Nova Ipixuna, no Pará, por conta da luta contra a extração ilegal de madeira. “A Polícia Civil concluiu as investigações, mas a Justiça se nega a decretar a prisão dos acusados. Fez dois pedidos de prisão preventiva, que foram negados, e o terceiro ainda está para ser decidido”, afirmou.

Após a decisão do juiz responsável pelo caso, Murilo Lemos Leão, o fazendeiro José Rodrigues Moreira, acusado de ser o mandante do crime, ao lado de Lindon Jonhson Silva e Alberto Lopes do Nascimento, apontados como executores, fugiram e estão desaparecidos. O fato revolta os movimentos sociais e familiares do casal, que pedem o afastamento do magistrado do caso.

“Passados dois meses, não temos nada a comemorar, só a lamentar. Outras ações que foram prometidas quando da vinda do ministro e da representante do governo no Estado, como as investigações de ameaça de morte contra defensores da região e o atendimento à família do casal, não ocorreram”, diz Batista.

Questão social – Também para ele, a tensão não diminuirá se o Estado não adotar políticas que interfiram no modelo de desenvolvimento. “Estamos em uma região de fronteira de expansão de várias frentes do capital em direção à Amazônia, principalmente empresas do agronegócio, madeireiras e mineradores.”

“As políticas paliativas e pontuais, como mandar grupo pequeno da Força Nacional, não resolve, primeiro por ser extremamente pequeno e, segundo, porque não vamos resolver um problema social apenas com a polícia”, acrescentou. “Basta ver que após o assassinato do casal, outros crimes ocorreram e não foram solucionados”, ressaltou.

Marcha contra a violência
O combate à violência será um das pautas principais da Marcha das Margaridas, que levará mais de 100 mil trabalhadoras rurais a Brasília, nos dias 16 e 17 de agosto, e conta com a CUT em sua organização.

Entre as propostas entregues estão a criação de fóruns estaduais permanentes para acelerar a implementação e monitorar a política de enfrentamento a violência contra as mulheres do campo e da floresta. Para as entidades que integraram a manifestação, também é necessário que União, estados e municípios trabalhem juntos e garantam o patrulhamento rural por policiais qualificados nas comunidades rurais e assentamentos, um sistema de acolhida de denúncias, além do mapeamento sistemático da situação de violência no campo e na floresta, principalmente em regiões de fronteiras.

“Há um grupo interministerial trabalhando a questão, mas as medidas, até agora, foram muito tímidas. Destinaram R$ 150 milhões para o Incra (Instituto de Colonização e Reforma Agrária), em Marabá, para cuidar dos assentamentos, mas não dá conta dos problemas graves que existem na região amazônica, como a falta de infraestrutura nos assentamentos e a necessidade de uma ampla regularização fundiária, inclusive porque a maior parte das terras griladas são do governo”, define a secretária de Meio Ambiente da CUT, Carmen Foro.

Federalização no Congresso – Para a dirigente, é necessário que o governo federal tenha um plano estratégico envolvendo todos os governos da região, ao invés de tratar pontualmente cada caso.

Ao mesmo tempo, destaca que a Central pressionará o Congresso Nacional para aprovar um projeto de lei ampliando o número de instituições passíveis de solicitar a federalização da investigação dos crimes contra lideranças sindicais e camponesas. Atualmente, a requisição cabe apenas ao Procurador Geral da República.

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