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quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Forró eletrônico: Reprocessamento da identidade nordestina



“No forró eletrônico, a autonomia dos artistas que estão no palco é relativamente pequena e todos trabalham para o empregador”

Thalles Gomes,de Maceió (AL)

Doutor em comunicação e cultura pela UFRJ e professor da UFPE, Felipe Trotta vem desenvolvendo nos últimos anos pesquisas sobre o universo do forró contemporâneo no Nordeste brasileiro. Em entrevista ao Brasil de Fato, Trotta destrincha os elementos principais para compreender a ascensão e sucesso do forró eletrônico na cultura nordestina.

Brasil de Fato – Qual a definição para o forró eletrônico? Como ele surgiu e o que o caracteriza como gênero musical?
Felipe Trotta – O forró eletrônico opera como uma espécie de variante do forró tradicional. Intencionalmente, as bandas fundadoras (Mastruz com Leite, Magníficos, Limão com Mel etc.) buscavam negar o referencial saudosista e rural do forró tradicional. Assim, incorporaram instrumentos e estilos de performance e interpretação que se aproximavam do pop internacional.

Como se constrói uma banda de forró eletrônico? Qual o papel exercido pelos empresários?
Os empresários foram os protagonistas da criação das bandas, e isso é alvo de muitas críticas. A rigor, a parte artística é decidida quase integralmente por eles, salvo raras exceções. Quase sempre os empresários são músicos de estúdio e fazem uma função que nas grandes gravadoras era do produtor artístico: adequar estética e mercado na esfera da criação. No forró eletrônico, a autonomia dos artistas que estão no palco é relativamente pequena e todos trabalham para o empregador, como os músicos das bandas de artistas consagrados. A diferença é que os cantores também são contratados.

Quais os temas mais recorrentes no universo do forró eletrônico?
Festa, amor e sexo. A temática é semelhante à do forró tradicional, com exceção dos aspectos ligados à ruralidade, à saudade. O eletrônico canta o urbano, o jovem e está constantemente em busca de festa, diversão, alegria e sexo, com amor ou sem amor (dependendo da música). O ambiente é altamente erotizado, mas a ideia de festa se sobrepõe, numa atmosfera de informalidade (como o forró tradicional).

Quais são os padrões de comportamento e visão de mundo presentes no universo do forró eletrônico?
O principal é o aspecto jovem da vertente eletrônica. Enquanto o forró tradicional é uma festa regulada moralmente pela esfera da família (o dono da festa, o patriarca, o pai controlam o andamento da festa), o eletrônico é uma festa que ocorre fora da opressão da moral familiar, pelo menos no terreno do imaginário. Assim, pode ser mais licencioso e operar nas frestas e nos limites do vocabulário, danças e modos de relação social.

Quem é o público que consome o forró eletrônico?
Prioritariamente jovens urbanos nordestinos. A identidade nordestina é um elemento muito importante do forró, e o eletrônico funciona como um reprocessamento dessa identidade rural tradicional, refletindo um Nordeste cosmopolita, urbano e antenado com as tendências estéticas do mundo pop transnacional. 
Brasil de Fato

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