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sábado, 22 de outubro de 2011

Uma crise muito além da União Europeia


As Bolsas do planeta, na sua esmagadora maioria, caíram fortemente em 2011 (entre o 1° de janeiro e o 15 de outubro de 2011, caíram 15% na zona euro, no Japão e na China, 4% nos Estados Unidos, 8% na Grã-Bretanha, 22% no Brasil, 19% na Rússia e 17% na Índia.) O ouro, um valor-refúgio em tempo de crise, subiu acentuadamente (20% entre janeiro e outubro de 2011).

O que mais impressiona é a acentuada volatilidade que caracteriza um rol de preços: as Bolsas registam quedas mas também ressaltos extraordinários; o dólar cai mas regista momentos de subida; as paridades entre o dólar, o euro, o iene, a libra esterlina, o franco suíço (outro valor refúgio) são igualmente instáveis; os preços das matérias-primas mantêm-se a um nível elevado mas conhecem abalos importantes. Em poucas palavras, a economia real (a produção) diminui e a esfera financeira estremece. Os bancos constituem o elo fraco, sendo sustentados com imensa dificuldade pelos poderes públicos.

Na perspectiva das relações Norte-Sul, a situação econômica dos países emergentes e em desenvolvimento é invejável quando comparada com aquela dos países do Norte . Se tomarmos como indicador o estado das reservas de câmbio, os países emergentes detêm duas vezes mais reservas que os países mais industrializados. De facto, os países emergentes dispõem de 6 500 mil milhões de dólares em reservas de câmbio (cuja metade pertence à China, 400 mil milhões à Índia, 350 ao Brasil e 500 à Rússia) comparado com 3200 mil milhões para o Norte (um terço ao Japão). O G20, um clube tao ilegítimo como o G7 que o convocou, não consegue arranjar soluções.

Uma nova expressão ficou na moda: “países ricos muito endividados”, que oculta uma expressão na moda desde quinze anos nos corredores do FMI e do Banco Mundial, a expressão “países pobres muito endividados”. A dívida pública e a dívida privada estão no cerne da crise.

Do ponto de vista das relações entre classes sociais à escala do planeta, as classes dominantes aumentam a sua riqueza em toda a parte, e utilizam a crise para aprofundar a precariedade da condição dos assalariados e dos pequenos produtores. Nos países do Atlântico norte, da Europa mediterrânica e central, o reembolso da divida pública é usado como pretexto para impor uma nova vaga de austeridade.

O custo das catástrofes produzidas pelo sistema financeiro privado está sistematicamente a cargo dos poderes públicos que passam a factura para os assalariados e pequenos produtores (por meio dos impostos, do corte nas despesas sociais e dos despedimentos). As desigualdades sociais agravam-se. Os movimentos cívicos organizados pelos que estão no fundo da escada social têm enorme dificuldade em constituir uma frente de resistência coerente, já para não falar de levar a cabo uma contra-ofensiva.

Novos fenômenos de protesto de rua aparecem na sequência da Primavera árabe na Tunísia e no Egipto. Deste modo, o movimento dos indignados ganhou muita amplitude na Espanha e na Grécia, e começa a encontrar eco nos Estados Unidos e em outros continentes. Essas mobilizações, embora muito importantes, ainda não permitem alterar a tendência. É preciso apoiá-las activamente. Nesse sentido, o sucesso do dia 15 de outubro de 2011 é prometedor. 

Fonte: Alainet

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