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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Drogas: consumo (in)consciente


"A mercadoria droga exige que mentes e corpos dos sujeitos envolvidos, via consumo, sejam anestesiados ao longo do tempo, saqueados na sua capacidade reflexiva, re(a)tiva, enquanto poder ser, poder popular. "
O dicionário Aurélio define droga como "coisa de pouco valor; enfadonha; desagradável". Esta definição superficial não nos ajuda a entender o complexo processo de desenvolvimento social e científico feito pelo ser humano ao longo de seu caminhar histórico.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define como droga, “qualquer entidade química ou mistura de entidades que alteram a função biológica e possivelmente a sua estrutura".
Esta definição nos coloca frente a um debate complexo sobre os tipos de droga existentes, o sentido dado às mesmas em cada contexto histórico e o real combate à cadeia produtiva das drogas na era do capital.
O relatório mundial sobre as drogas das Nações Unidas, de 2011, relata que em 2009/2010, existia até 270 milhões de pessoas no mundo, consumindo drogas ilícitas com idade entre 15 e 64 anos, o que corresponde a 6% da população deste grupo.
A movimentação anual do mercado de drogas é de 500 bilhões de dólares.
Somente com o consumo de maconha, o mercado norte-americano movimentou US$ 37 bilhões de dólares e o europeu, US$ 33 bilhões. Estes dois mercados também são os campeões no consumo de cocaína: EUA com 167 toneladas e Europa com 123 toneladas.
O controle deste mercado está diretamente relacionado ao comando das regras do jogo que o dirigem, ou por ele são dirigidas, através das politicas formais do Estado de direito no âmbito nacional e internacional.
Drogas para dormir e para ficar acordado, drogas para emagrecer e para engordar, drogas para estimular o desenvolvimento físico, drogas para provocar sensações físicas de êxtase, entre outras, são algumas das várias facetas deste universo desconhecido em sua substância.
Utilizadas tanto para diminuir na superfície a dor, quanto para aumentar o apego à dependência social, as drogas têm uma lógica que não pode ser entendida fora do modo de produção capitalista.
A contradição principal inerente às drogas está em revelar a forma concreta de produzir e realizar lucro a partir do uso ampliado desta mercadoria, consumida de várias formas, com vários sentidos.
Para isto, é necessário entender como funciona a cadeia produtiva, a exploração do trabalho, e a realização de enormes lucros, oriundos dessa gigante e internacional cadeia produtiva das drogas.
A ocupação, em nome da pacificação, dos morros do Rio, da Cracolândia em São Paulo e das demais periferias brasileiras, são apenas um ponto particular da cadeia produtiva global articulada do crime organizado e demonstram a lógica isolada da ação governamental no combate real ao tráfico de drogas.
Ao não assumir a totalidade, a criminalização continua nas costas dos usuários e dos traficantes, desconectados da totalidade do crime organizado por trás da produção-realização desta mercadoria.
Os meios de comunicação, aliados à logica fragmentada do capital, propagandeiam o combate ao crime, a partir da prisão de sujeitos concretos, como forma de melhoria da situação social. Esta construção aparece na sociedade adormecida como resolução do problema principal.
Assim também atuam os partidos, quando assumem sua plataforma de agitação e propaganda nos territórios a serem pacificados, como o da Cracolândia. Palco eleitoral em disputa, o debate superficial, ganha a dimensão de profundidade. 
A mercadoria droga exige que mentes e corpos dos sujeitos envolvidos, via consumo, sejam anestesiados ao longo do tempo, saqueados na sua capacidade reflexiva, re(a)tiva, enquanto poder ser, poder popular. 
Ao conduzir a droga sobre as veias abertas do nosso povo, como classe, o capital, erva daninha a ser combatida em suas raízes, apodera-se das instâncias formais da política e executa um poder que pretende aniquilar a voz, o corpo, os sentidos da nossa trajetória popular.
Uma opção clara de classe exige tomar partido por um mundo sem drogas daninhas. Para isto, temos que redefinir o conceito de droga, e incluir nesta definição a ação do ser humano sobre os demais seres humanos, sobre a natureza, sobre os demais seres, em sua capacidade histórica de se refazer enquanto sujeito político.
Roberta Traspadini é economista, educadora popular e integrante da Consulta Popular/ ES
Rádio AgênciaNP

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