O Pantanal é a maior planície inundável do planeta. Os ciclos de cheias e secas são fundamentais para a vida de milhares de espécies animais e vegetais, além de possibilitar variadas atividades econômicas.
Consta no relatório a previsão de que serão construídas 115 barragens para a instalação de centrais hidrelétricas na região. Elas ameaçam a duração e a intensidade dos ciclos de cheias e vazantes, representando sério risco de desequilíbrio ecológico.
A criação de novas unidades de proteção, principalmente em áreas de cabeceiras, é apresentada como uma medida para reduzir os impactos. Outra medida seria a implantação de medidas de conservação em terras privadas.
De São Paulo, da Radioagência NP, Jorge Américo.
*Com informações do G1
Dia Mundial das Áreas Úmidas: estudo mostra um Pantanal ameaçado
Estudo inédito englobando Brasil, Bolívia, Paraguai e Argentina aponta áreas que precisam de mais atenção para garantir a sobrevivência da maior planície alagável do planeta, de populações e de economias
A conservação da Bacia do rio Paraguai1 e a sobrevivência do Pantanal estão ameaçadas, principalmente pela degradação de nascentes e barramento de rios que fluem de áreas de planalto (Cerrado) para a planície pantaneira.
Neste dia Mundial das Áreas Úmidas (2 de fevereiro) as instituições parceiras apresentam a Análise de Risco Ecológico da Bacia do Rio Paraguai2. Os estudos revelam que metade da bacia pantaneira está sob alto e médio riscos ambientais, e que 14% dela necessitam ser protegidos com urgência, dada sua grande capacidade de fornecer água e manter os ciclos de cheias e vazantes que dão vida ao Pantanal.
O estudo contou com mais de 30 especialistas dos quatro países e exigiu três anos de esforços, evidenciando que essas áreas (em vermelho e amarelo no mapa) estão majoritariamente em porções elevadas nas bordas da bacia e são as maiores fornecedoras de água à planície, área que ainda apresenta boas condições ecológicas. “Conhecendo a ‘saúde’ do Pantanal, podemos nos antecipar a problemas futuros, como os efeitos das mudanças climáticas, mas a saúde pantaneira está ameaçada por ações em curso, no presente”, ressaltou Glauco Kimura, coordenador interino do Programa Água para a Vida do WWF-Brasil.
As principais ameaças à bacia do rio Paraguai são o desmatamento e o manejo inadequado de terras para agropecuária, causadores de erosões e sedimentação de rios, por exemplo. Barramentos hidrelétricos estão alterando o regime hídrico natural do Pantanal. O crescimento urbano e populacional é seguido por mais obras de infraestrutura, como rodovias, barragens, portos e hidrovias que – se construídas sem critérios de sustentabilidade – colocam em risco o frágil equilíbrio ambiental pantaneiro.
Essas ameaças interagem em conjunto ou isoladamente em cada região mais crítica analisada: cabeceiras e tributários no Cerrado e Bosque Chiquitano brasileiros; Mata Atlântica da Bacia do rio Paraguai; Eixo de Desenvolvimento Salta/Jujuy; e Puerto Suarez e vale do Tucavaca (Bolívia).
Apenas 11% (ou 123.600 Km²) da bacia estão protegidos de alguma forma, e meros 5% (56.800 Km²) sob proteção integral, em parques nacionais ou estaduais e estações ecológicas. Além disso, as mais de 170 áreas protegidas não estão distribuídas de forma adequada para proteger as regiões que mais fornecem água, ou as mais ricas em biodiversidade.
O estudo, realizado em parceria pelo WWF, The Nature Conservancy e Centro de Pesquisas do Pantanal, com apoio do HSBC e Caterpillar, é um forte alerta para que países, estados e municípios adotem uma agenda de redução de riscos e revertam modelos insustentáveis de desenvolvimento. Para os pesquisadores, não há mais espaço para uma cultura de abundância e de desperdício, como se houvesse um estoque infinito de florestas nativas para derrubar, de água onde lançar poluentes e de terras para minerar.
A Bacia do rio Paraguai e o Pantanal não devem ser protegidos apenas pelas incontáveis espécies de animais e plantas lá abrigados, pelas belezas e serviços ambientais3 que oferecem, mas também porque da saúde regional dependem mais de oito milhões de pessoas e economias hoje focadas em 30 milhões de cabeças de gado e quase sete milhões de hectares plantados, área equivalente a um terço do estado de São Paulo.
Recomendações - O Pantanal, além de ser um abrigo natural de espécies e mantenedor de populações e economias, também é uma preciosa reserva estratégica de água doce, ainda mais importante frente ao futuro incerto das mudanças climáticas.
Logo, alterar modelos de desenvolvimento e criar mais áreas protegidas (públicas e privadas), especialmente em regiões de cabeceiras, são ações inteligentes e estratégicas para os quatro países responsáveis por sua manutenção, bem como desenvolver uma agenda de adaptação da bacia às alterações do clima.
A pecuária extensiva precisa de maior apoio técnico e econômico para que melhores práticas cheguem aos produtores, como conservação de água e solo, manejo e recuperação de pastagens e integração lavoura-pecuária. “O plantio direto na palha é uma boa alternativa, porque protege o solo da chuva e dos ventos, mantendo-o mais rico e produtivo. Mesmo assim, persiste o uso extensivo de agrotóxicos em culturas como a da soja, venenos que chegam aos rios que abastecem o Pantanal”, comentou Kimura.
Além da agropecuária, a bacia tem importantes áreas de mineração, destacando-se regiões andinas como a de Potosi (Bolívia), de extração de gás natural, na transição do Chaco para os Andes, de ouro e diamantes, no Mato Grosso, e ainda de ferro, manganês e calcário, no Mato Grosso do Sul.
No caso de hidrelétricas em operação, o caminho é implantar esquemas de operação que mantenham os ciclos de cheias e vazantes de modo semelhante ao natural. Para barragens em planejamento, é necessário avaliar seus impactos cumulativos nos rios e na bacia, apontando quais áreas poderão ou não arcar com esses custos ambientais sem prejudicar o Pantanal.
“Barramentos ameaçam a duração e a intensidade dos ciclos de cheias e vazantes, colocando em cheque a vida, economias e populações que dependem do equilíbrio ecológico do Pantanal. Reservatórios alteram a circulação de nutrientes e as emissões de gases de efeito estufa, parâmetros que precisam ser mais bem dimensionados”, destacou Albano Araújo, coordenador da Estratégia de Água Doce do Programa de Conservação da Mata Atlântica e das Savanas Centrais da The Nature Conservancy.
WWF
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