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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Uma contradição persegue o Brasil

"O país não consegue romper com as forças conservadoras e atrasadas. O coronelismo, tal qual interpretado na transição dos séculos XIX e XX, já não existe, mas continua presente até os dias de hoje como se vê na coalizão de governo, mesmo num governo que se arvora como sendo de esquerda."


Uma contradição persegue o Brasil. O país não consegue romper com as forças conservadoras e atrasadas. A recente nomeação para o ministério das Cidades do deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) põe a nu as entranhas da aliança entre o “moderno” e o “atrasado” e explicita a natureza e o caráter do governo de coalizão.
Aguinaldo Ribeiro é neto do tristemente famoso usineiro Aguinaldo Velloso Borges, “coronel” do agreste paraibano, acusado de mandar matar, em 1962, João Pedro Teixeira então à frente da Liga Camponesa de Sapé e de encomendar o assassinato em 1983 de Maria Margarida Alves, presidenta do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande (PB).
Outro ministro ligado às forças do atraso é Fernando Bezerra de Souza Coelho, ministro da Integração Nacional. O ministro foi acusado de ter destinado para Pernambuco, sua base eleitoral, 90% das verbas de prevenção e preparação de desastres naturais, como enchentes e desmoronamentos. Isso em pleno janeiro de aguaceiros país afora, problemas de desmoronamento de encostas e milhares de desabrigados.
Fernando Bezerra tem sua origem política ligada ao coronelismo do clã Coelho em Pernambuco. O ministro teve ainda ativo papel na tentativa de substituição das cisternas de placas de alvenaria por cisternas de plástico. No episódio que ficou conhecido como a “guerra das cisternas”, fez-se necessário a forte pressão e mobilização do movimento social para que o governo mudasse de opinião.
Outro exemplo da aliança com o atraso: a arrogância do deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB – RN) que ameaçou a presidenta Dilma ao saber que um apadrinhado político seu, diretor-geral do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), corria o risco de ser demitido por corrupção. De 47 convênios assinados pelo Dnocs com prefeituras, 37 contemplaram cidades do Rio Grande do Norte, base eleitoral do deputado.
Em todos esses casos recentes – outros poderiam ser citados –, vê-se que o Brasil arcaico, patrimonialista, autoritário, clientelista, refratário à participação popular continua presente, ativo e compondo o governo. As forças progressistas defendem que a aliança com os setores atrasados é necessária para se governar. Trata-se da denominada realpolitik que defende a tese de que é preciso muitas vezes recuar para paradoxalmente avançar.
Nas últimas semanas a presidenta tem cobrado postura republicana dos seus ministros. É possível gestão eficiente, cumprimento de metas e postura republicana à frente dos cargos do primeiro escalão num governo cheio de figuras que se formaram politicamente em ambientes onde se pratica o patrimonialismo e o clientelismo como regras do jogo? Destaque-se que a “faxina” de Dilma sequer arranhou a coalizão de governo.
O coronelismo, tal qual interpretado na transição dos séculos XIX e XX, já não existe, mas continua presente até os dias de hoje como se vê na coalizão de governo, mesmo num governo que se arvora como sendo de esquerda.
*Cesar Sanson é professor de sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Publicado pela Rádioagência NP

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