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terça-feira, 16 de outubro de 2012

Deputadas do Parlamento europeu dizem que Prêmio Nobel da Paz à União Europeia é no mínimo, chocante".



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As eurodeputadas do Bloco de Esquerda, Alda Sousa e Marisa Matias, consideram que a atribuição do Prémio Nobel da Paz à União Europeia, "num momento em que se trava no seio da mesma uma guerra de austeridade contra os seus cidadãos, é no mínimo, chocante".
As duas deputadas emitiram em Bruxelas uma declaração sobre o Nobel da Paz na qual consideram que "não correspondem à verdade" as justificações avançadas através do presidente do Comité Nobel sobre o "papel estabilizador da UE" e se interrogam sobre se quem receberá o prémio será mesmo Durão Barroso, "o anfitrião da Cimeira das Lajes onde foi decidida a invasão do Iraque".
É a seguinte, na íntegra, a declaração de Alda Sousa e Marisa Matias 
A atribuição do Prémio Nobel da Paz à União Europeia, num momento em que se trava no seio da mesma uma guerra de austeridade contra os seus cidadãos, é no mínimo, chocante.
A justificação adiantada pelo Presidente do Comité Nobel, Thorbjoern Jagland, salientando o êxito na luta pela paz e pela reconciliação, pela democracia e pelos direitos humanos, e o reconhecimento do papel estabilizador desempenhado pela UE, que ajudou a transformar a Europa de um continente de guerra num continente de paz, não corresponde à verdade. Essa é uma Europa que existiu há mais de 6 décadas, no pós II Guerra Mundial, e configurou um momento histórico essencial para a paz interna entre os países que vieram a implementar o projecto da União. Contudo, não foi capaz de aplicar a mesma política para além dos membros do "clube" e ficou fechada sobre si própria. A Europa que agora é reconhecida com o Nobel, está muito distante dessa época.
Dentro das suas fronteiras a União Europeia impôs como modelo e verdade absoluta as políticas neo-liberais, cujos resultados são evidentes, criou mais de 25 milhões de desempregados, e ao invés de relançar a economia apenas têm contribuído para uma cada vez maior recessão. A austeridade atingiu as bases da coesão social e territorial e fez refém a própria democracia.
A crise, aliás, apenas veio demonstrar a debilidade de uma construção europeia assente na união dos mercados e de costas voltadas para as pessoas, recusando defender o emprego, promover a igualdade, combater a pobreza ou aprofundar a protecção social.
Esta é uma Europa que conduziu e conduz cada vez mais cidadãos à miséria, que perante a constatação da falência das medidas aplicadas, insiste na receita: ir buscar ao trabalho para dar ao capital. Uma Europa que promove e acentua as divisões entre os Estados-Membros, fomentando, constantemente a lógica do "cada um por si" ou a ideia da necessidade de disciplinar os "preguiçosos" países do sul.
A violência destas medidas é inequívoca, nelas não há o menor vislumbre de algo que possa ser apelidado de Paz, aliás, a atribuição do prémio ocorre na mesma semana em que a Troika impõe a Portugal o aumento de impostos mais brutal de que há memória em democracia e impõe aos gregos um novo pacote de medidas, entre as quais a evacuação de todas as ilhas com menos de 150 habitantes, de forma a poupar na despesa.
Esta é uma Europa que enche a boca para falar de democracia e dar lições aos outros povos e continentes sobre direitos fundamentais, mas que não olha para si própria.
Para fora das suas fronteiras, a Europa erigiu-se como uma fortaleza, reduzindo a letra morta os direitos fundamentais de todos os que a ela querem chegar, em fuga de cenários de guerra, de miséria, ou de mera perspectiva de solução de vida. Para eles não há lugar aqui, e os que conseguem ultrapassar o muro vivem no limiar da escravidão.
Esta não é, também, uma Europa que se possa afirmar de mãos limpas quando falamos em cenários de guerra, veja-se os Balcãs, ou o Afeganistão, o Iraque ou a Líbia, ou os acordos comerciais com Israel, assim como a produção e venda de armamento que é usado nas guerras em todo o mundo.
Quem irá receber este prémio? Durão Barroso, o anfitrião da Cimeira das Lages onde foi decidida a invasão do Iraque?
Lamentavelmente, constata-se que a política de paz na Europa é uma mera conveniência e não uma verdadeira convicção da paz universal, a única que poderia justificar a atribuição de um prémio Nobel. Esperemos que os líderes europeus, tenham capacidade de ver neste prémio um reconhecimento por esse projecto inicial e dele retirem as consequências certas.

BE Internacional

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