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quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Amanda Gurgel: “Minha candidatura não representa os vereadores, mas a população”

JORNAL DE hOJE
A professora Amanda Gurgel (PSTU), eleita a vereadora mais votada de Natal, com 32.819 votos, confirmou na manhã desta segunda-feira sua candidatura à Presidência da Câmara, que acontece amanhã, logo após a posse dos 29 vereadores eleitos no último outubro. Em entrevista ao Jornal de Hoje, ela também antecipou suas propostas, que serão entregues aos vereadores durante a posse e antes da eleição legislativa presidencial.
Amanda Gurgel, que deverá concorrer com as candidaturas de Albert Dickson (PP) e Hugo Manso (PT), avisa, sem nenhum subterfúgio, que sua candidatura não representa os vereadores, mas o povo que a elegeu. “Não precisa ser cientista político para saber que minha candidatura não representa os vereadores, mas a população”, afirma, ao concluir que suas propostas dificilmente serão acatadas pelos colegas, mas causarão reflexões na Casa e na sociedade. Embora não contando com a simpatia da maioria, a candidatura de Amanda contabiliza os apoios do seu partido, o PSTU, representado por ela, e do PSOL, dos vereadores Sandro Pimentel e Marcos do PSOL.
“Sou candidatíssima, com uma articulação previamente estabelecida com o PSOL, com base em um programa, em princípios, e ideias, e não com base em vantagens políticas ou vantagens monetárias, ou de cargos ou de trocas de favores”, diz a vereadora, que entregará aos colegas um convite durante a posse para que eles se somem a ela.
GRUPO DOS 20
Indagada sobre as chances de sua candidatura diante da formação de grupos majoritários na Câmara voltados para a eleição da próxima mesa diretor, como o “Grupo dos 20”, que votará em Albert Dickson para presidente da Casa, Amanda faz reflexões sobre o que teria motivado a formação do grupo, deixando claro que os vereadores estão privando pelos interesses próprios e não realizando na Casa o que seria o interesse da população.
“A primeira pergunta que deve ser feita tanto aos vereadores quanto aos leitores, é: Em torno de que esses 20 vereadores se organizaram? Qual a ligação entre eles? Eu respondo facilmente: O que me une aos vereadores do PSOL é um programa mínimo que a gente estabeleceu que seria cumprido na Câmara. E esses 20 é o que? Estão unidos em torno de quê? Qual foi a conversa que eles tiveram para ficar, assim, tão coesos?”, provoca Amanda Gurgel.
NEGOCIATAS
Na carta-proposta que Amanda Gurgel entregará aos vereadores durante a posse, haverá pontos que ela defende para o funcionamento da Câmara, como melhorar a democracia entre os próprios vereadores. “Hoje é uma reclamação comum dos vereadores, tanto os novos como os antigos, que dizem que são boicotados. Um exemplo é o que os vereadores novos que não têm nenhum vínculo com os vereadores anteriores estão passando, que é o fato de a gente não saber quais são os critérios para a distribuição dos gabinetes. Isso é muito constrangedor”, afirma Amanda.
Segundo ela, a divisão dos gabinetes deveria ser um ato meramente organizativo da Casa, mas o que se vê é que há uma espécie de tráfico de influência. “A gente sabe que os vereadores estão repassando suas chaves sem que haja transparência em relação a isso. Por que o direito de um vereador pode se sobrepor ao meu? Que critérios são usados? A gente estava propondo que fosse sorteado”, criticou a vereadora. “Isso é símbolo do que acontece dentro da Câmara. Até para isso, que é uma coisa organizativa e não tem nada de político, são feitas negociatas e acordos escusos”.
Para Amanda Gurgel, a presidência não deveria sequer se ater a questões organizativas, apenas às políticas. “Não é correto, gabinete não é coisa privada, aquilo tem que ser entendido como coisa pública. Se eu sair, tenho que entregar. Não deveria ser sequer a presidência a lidar com isso”, afirma.
SALÁRIOS
Enquanto a Câmara aprovou aumento dos vencimentos dos vereadores para R$ 17 mil, Amanda quer propor a redução dos salários, dos atuais R$ 15 mil, para R$ 3,3 mil. Segundo ela, este é o salário vital do Dieese (Departamento Intersindical Estatística e Estudos Socioeconômicos).
“Observando-se as possibilidades legais, nossa proposta é apresentar um projeto de lei para reduzir. Hoje o Dieese calcula o salário mínimo vital, suficiente para o trabalhador ter uma vida digna, com acesso à saúde, educação transporte, em R$ 3.300,00, para uma jornada de 20 horas. Esse seria um salário justo, digno, que se aproxima do salário dos trabalhadores, e é nossa proposta”.
Amanda diz que na campanha eleitoral defendia que o salário do vereador era alto, destoando do salário dos trabalhadores. “O professor do município recebe R$ 1.212, enquanto que o vereador recebe R$ 15 mil, mais de dez vezes mais. Não é salário que pode se chamar de justo. Por isso, desde a campanha defendi a redução, e agora, com o aumento, que era para R$ 18 mil e baixou para R$ 17 mil, minha proposta é que o projeto não entre nem na ordem do dia”, defende Amanda Gurgel, em mais uma das suas propostas polêmicas.
Segundo a vereadora, é inconcebível a cidade passar por um caos e os vereadores aprovarem uma proposta de aumento salarial. “Nas escolas, o ano letivo terminou mais cedo porque as escolas não tinham estrutura. A saúde está em calamidade. O lixo espalhado pelas ruas e os vereadores preocupados em aumento dos próprios salários. Considero um absurdo essa proposta e está lá no meu programa”, afirma Amanda.
Para ela, a questão dos salário é de princípios. “Os parlamentares do PSTU devem manter seu padrão de vida, e, consequentemente, o seu salário, para não distanciarem da realidade dos trabalhadores. Não posso receber R$ 15 mil enquanto os professores recebem R$ 1.200. Minha alimentação será diferente, meu tipo de roupa, o local que frequento será diferente. Em pouco tempo estarei pensando como os vereadores atuais, que aprovaram um aumento desses e ficam como se fossem a coisa mais normal do mundo. É uma questão de princípios, para não me distanciar dos trabalhadores”.
ELEIÇÃO
Amanda diz que sua candidatura à Presdiência da CMN é uma “questão” de coerência. “Somos candidata para a apresentação de um programa que nós consideramos muito caro para o PSTU, para mim, para o PSOL, que integrou com a gente uma frente para esse pleito, e por uma questão de coerência, já que passamos a campanha inteira dizendo que nenhum daqueles partidos representava uma alternativa para os trabalhadores”, afirmou.
clima de paz
Amanda Gurgel espera que os colegas entendam que sua postura é de debate ideológico e programático. “Pretendo fazer parte da Comissão de Educação da Câmara, e não sei se vou conseguir, porque, para você conseguir fazer parte de uma comissão, você precisa ter a aprovação dos demais vereadores. Então, não sei, assim como não sei se vou conseguir ser presidente da Câmara, não sei se vou conseguir ser membro desta comissão”.
Ao responder se chega à Câmara em clima beligerante com os colegas, Amanda diz que chega em paz. “Politicamente, lógico que estamos em campos opostos. Os vereadores sabem o que penso deles, nunca escondi isso, do jeito que sei o que eles pensam de mim. Agora, acho que essas diferenças, programas ideológicos, devem ser tratadas no campo da ideologia e do programa, e não do boicote à participação em determinados espaços que teoricamente são democráticos, se nós estamos de um lado e de outro”, entende.
Amanda diz , por fim, que está acostumada ao debate, mas a agressividade e a arrogância não são traços característicos de sua personalidade. “Faço parte de um partido revolucionário, em que o debate é a base para a tomada de decisões. Mas chego à Câmara em clima de paz. Não estou querendo briga com ninguém. Até porque não faz parte da minha personalidade. Sou uma pessoa tranquila, não sou de estar tratando ninguém com agressividade e arrogância, e não vai ser diferente na Câmara. Espero que a recíproca seja verdadeira. Mas o debate político vai acontecer”.

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