Enviado por: Joel
Mesquita – Cientista Social, professor e Escrivão de Polícia*.
Eu
sou adepto da seguinte filosofia: na condução das questões ligadas a educação
não existe lei melhor do que a rigidez e perseverança. E se o mérito de dizer verdades inconvenientes é ser vaiado e incompreendido,
num contexto de desesperanças, di-las-ei quantas vezes achar prudente e conveniente
e nesse diapasão, quero divagar e devanear sobre a situação escabrosa em que se
acha a educação básica na escola pública no Brasil.
Para
constar cabe registrar que em pesquisa encomendada à consultoria britânica Economist Intelligence Unit (EIU), pela
Pearson, o Brasil conseguiu a façanha
de ficar em penúltimo lugar em um ranking global de educação que comparou 40
países levando em conta notas de testes e qualidade de professores, dentre
outros fatores. Estamos entre os países que possuem um dos piores sistemas de educação do mundo.
Assim
é compreensível reconhecer que a coisa já degringolou há algum tempo e que
pecamos pela ausência de qualidade e pelo fato de não buscarmos a excelência. O
resultado da pesquisa é mera constatação do que é visível no quotidiano do
professor da educação básica na rede pública de ensino país afora.
Enquanto
professor de Teoria Sociológica, não me resta dúvida: a escola ciclada tem se mostrado um desastre e
assim como resultados cirúrgicos está condenando uma geração de jovens ao
fracasso. Esse modelo de escola em ciclo é instrumento reprodutor das
desigualdades de oportunidades na educação, pois as escolas particulares, na
prática, continuam com o modelo tradicional e preparando seus alunos para os
desafios da vida, coisa que a escola pública e ciclada da forma que está é
incapaz de fazer.
As avaliações aplicadas nas
escolas públicas cicladas são provinhas mamão com açúcar, para inglês ver, e
reprovar um aluno tem se tornado uma missão quase que impossível, mesmo que ele
apresente todos os quesitos negativos para ser retido, a moda do momento é
evitar a evasão e empurrar o aluno para a série seguinte. No meu entendimento
não adianta ter pena do aluno e dar tratamento especial. O mercado é selvagem e
não será benévolo com ninguém, ou preparamos o aluno para enfrentar os desafios
da vida ou seremos um dos responsáveis pelo fracasso desse aluno despreparado.
A
meritocracia já não é buscada mais. Que lamentável! Outro dia fiquei
horrorizado quando uma professora de carreira da escola pública veio me dizer
que eu deveria pegar leve com os
alunos, só porque exigi que eles estudassem 10 páginas para uma avaliação.
Na
visão da professora se eu não maneirasse no conteúdo, alguns deles,
poderiam se evadir e assim perderíamos alunos e teríamos que fechar a turma; ou
seja, a preocupação está em manter a turma e consequentemente o emprego; há um
conformismo exacerbado com a situação deplorável da educação básica na rede
pública no Brasil. Conformismo que começa com a figura do professor, pois este
não tem denunciado a real situação do sistema educacional básico no país.
Às
vezes tenho a impressão que no Brasil ser professor é coisa de gente
fracassada, de pessoas que não deram certo na vida, ou seja, ser professor não
foi opção, foi falta dela; nesse diapasão a profissão é vista de forma
pejorativa e digna de anedotas. Nossos governantes comandam o país ao sabor da
alta popularidade e pouco se dedicam a melhorar a qualidade da educação básica
na rede pública. Aliás, para que mudar se são essas massas facilmente
manipuláveis que mantém as oligarquias no poder?
Sempre
que entro em sala de aula na escola onde ministro aulas, fico com a sensação
que estou em qualquer lugar, menos em uma sala de aula. Alunos que não
respeitam o professor, que mal sabem ler e escrevem muito mal, etc. É relevante
dizer que os professores são gente mal remunerada, desprezada pelos gestores
públicos e em sua maioria já desistiram da missão de educar.
Apesar
de continuar sendo idealista e a todo o momento tentar acrescentar algo mais de
conhecimento na vivência de meus alunos, me sinto esvaído de razão para
continuar tentando. Eles não estão nem aí para a educação, simplesmente não se reconhecem
na condição de alunos e preferem a ignorância ao conhecimento, pois não foram
treinados para se comportarem doutra maneira. É deplorável ter alunos
concluindo o Ensino Médio, sem saber ler corretamente, e salas abarrotadas de
analfabetos funcionais.
Toda
essa situação tende a se deteriorar. Não há investimentos, faltam profissionais
qualificados e que goste do que faz. A educação já não atrai as mentes brilhantes
de outrora e que querem evoluir. Ao contrário temos uma porção de professores medianos
e que estão endossando o fracasso de uma geração de alunos que se destacam pelo
excesso de mediocridade.
Ultimando
é necessário reconhecer que dentre tantos culpados, está o governo que é omisso,
permissivo e retrogrado em relação à educação básica. Há um interesse evidente
em manter o povo sob a égide da ignorância. A mudança de paradigmas não é
conveniente para um sistema deformado pela corrupção e para um povo disposto a
se corromper.
*Textos enviados não necessariamente seguem a linha editorial de ACRÍTICA.ORG
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