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terça-feira, 2 de julho de 2013

Sobre as jornadas de Junho

Por - Valério Arcary

Milhões de jovens já estão votando com os pés nas Jornadas de Junho 


Um dos traços fundamentais da nova situação aberta neste “inverno do nosso descontentamento” brasileiro, para lembrar o fascinante romance de John Steinbeck, é que a mobilização das massas está em relativo descompasso com a consciência. A ação é mais avançada que a consciência. As massas juvenis nas ruas sabem o que não querem. O ódio às formas que assume a dominação, seja o regime político uma ditadura ou uma democracia eleitoral, amadurece mais rápido que o apoio a uma solução política afirmativa.

Nossas Jornadas de Junho foram marcadas tanto pela explosividade da disposição de luta, quanto pela diversidade de reivindicações e pela acefalia. O que tem causado perplexidade e preocupação legítimas. Deslumbrar-se com a força das marchas, e desconhecer suas limitações seria um erro. Enxergar com ceticismo a dimensão destas três semanas de lutas, ou seja, perceber somente suas inconsistências, também. As ações desta primeira onda de revolta estão muito à frente da consciência. Mas, o mais importante, é que estamos diante de uma explosão contagiante de protesto popular. Foi por isso que esperamos, pelo menos, nas últimas duas décadas.

Força e limites da primeira onda
Todas as experiências históricas confirmam que a primeira onda de um processo revolucionário começa na forma do Basta! Em diferentes graus, e sob outras formas, este desenvolvimento desigual da disposição para a ação, e o grau de consciência médio entre os que lutam foi um traço comum no início de todos os grandes processos de mobilizações de massas dos últimos cem anos. Foi assim nos meses iniciais da revolução de fevereiro na Rússia de 1917, na Alemanha em novembro de 1918, nas semanas do Maio de 68 francês, ou depois do 25 de Abril em Portugal. Diante de acontecimentos desta grandeza estamos sempre diante do duplo perigo – simétrico - do fascínio ou da descrença. A idealização do que deveria ser um processo revolucionário não é incomum. Se for confirmada uma importante adesão à greve geral convocada pelas Centrais Sindicais para o dia 11 de julho, já poderemos falar da entrada em cena do proletariado. O que confirmaria uma mudança qualitativa da situação: uma nova relação de forças entre as classes no país, muito mais desfavorável à dominação burguesa, muito mais favorável para a transformação que as ruas estão exigindo.

Perigo de Golpe?
Não há qualquer perigo de golpe porque a esmagadora maioria da classe dominante não quer desafiar o governo Dilma. Não sonha em derrubá-la, não estamos nem em Honduras, nem no Paraguai. 

Agitar o perigo do golpe imaginário significa fechar os olhos diante do perigo real: o maior perigo é que as massas juvenis abandonem as ruas antes de conquistarem as vitórias que estão seu alcance, aqui e agora. E elas podem se ver forçadas a recuar, por vários fatores. A repressão é o primeiro deles. A violência brutal das Polícias, da Força Nacional de Segurança Pública deixa sequelas. 

O segundo perigo é a confusão. Há dezenas de iniciativas sendo convocadas pela internet, por exemplo. Aquilo que foi um ponto de apoio para organizar o movimento, as redes sociais, pode se transformar no seu Calcanhar de Aquiles. O chamado à greve geral para o dia 1 de julho no Facebook por um grupúsculo de extrema direita foi só um exemplo. A ausência de uma mínima auto-organização representativa resulta em uma cacofonia ensurdedora de atos. 

O terceiro perigo é a disputa ainda em aberto das perspectivas imediatas do movimento com o fim da Copa. Dilma reagiu, e chamou a Brasília os movimentos para tirar uma foto no Palácio, e criar um fato para as TV’s filmarem que o governo já estaria negociando, e era a hora de voltar para casa. Anunciou o que já estava previsto em investimentos (obras para transportes públicos que estão paradas, ou em ritmo de tartaruga distraída), reafirmou o ajuste fiscal (para tranquilizar a Av.Paulista), e convocou o plebiscito para a reforma política. 

Diante destes três perigos são necessárias três iniciativas: denunciar a repressão; organizar o movimento a partir das experiências mais bem sucedidas de frente única dos que querem lutar como no Rio de Janeiro e Belo Horizonte; e construir um programa nacional para o movimento. Esse é o desafio colocado para a greve geral que precisamos construir para o dia 11 de Julho.

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