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quinta-feira, 10 de outubro de 2013

A quanto ascende a fatura da crise?

Os Estados Unidos proporcionaram mais de 16 biliões de dólares (16.115.000.000.000 de dólares) em empréstimos secretos para resgatar bancos e grandes empresas dos Estados Unidos e da Europa da maior crise financeira desde a Grande Depressão. Por Marco Antonio Moreno
A Reserva Federal dos EUA proporcionou mais de 16 biliões de dólares em assistência financeira total a algumas das maiores instituições financeiras e empresas nos Estados Unidos e em todo mundo…
Depois da falência do Lehman Brothers a 15 de setembro de 2008, o sistema financeiro viu-se envolvido num caos sistémico. E as culpas da Reserva Federal por não ter sustentado esse banco de 151 anos de história, que tinha sobrevivido à guerra civil, à Grande Depressão e a duas guerras mundiais não se fizeram esperar. Por isso a Fed reagiu de imediato quando a seguradora AIG se viu com problemas e no dia seguinte a deixar cair o Lehman injetava na AIG 85.000 milhões de dólares. Os bancos centrais de Europa, Reino Unido e Japão somavam-se às ações da Fed e em conjunto sustentavam o sistema financeiro com 224.000 milhões de euros.
A força virulenta da crise obrigou a Reserva Federal a criar o Programa de Alívio de Ativos com Problemas conhecido como TARP (Troubled Asset Relief Program) que significou uma despesa de 700.000 milhões de dólares que o Congresso inicialmente recusou mas que depois da intervenção de Hank Paulson, aprovou em segunda instância com 70.000 milhões de dólares adicionais. Que disse Hank Paulson para persuadir o Congresso da necessidade dos 700.000 milhões de dólares? Deve ser algo suficientemente convincente para que o Senado desse o visto. As palavras com que Hank Paulson chantageou o Congresso foram (“Isto será muito pior que a Depressão dos anos 30, quando o desemprego chegou a 25 por cento”). Depois dessas palavras os congressistas aprovaram de imediato o resgate com o dinheiro público. Veja-se um rastreio aos destinos desse dinheiro publicado por New York Times.
Atuando em segredo e nas costas das pessoas
No entanto, estes 700.000 milhões de dólares são só uma pequena parte de uma quantidade de dinheiro muito maior que se investiu para sustentar o sistema financeiro dos Estados Unidos. E a maior parte desse dinheiro dos contribuintes não tem tido nenhum escrutínio público nem tem sido discutido no Congresso. Como assinalávamos um ano antes deste informe, A Reserva Federal tem atuado no mais absoluto segredo e nas costas das pessoas para resgatar um sistema financeiro fraudulento e corrupto. De acordo com uma auditoria encarregada pelo Senador Bernie Sanders e realizada pelo Escritório Governamental de Prestação de Contas (Government Accountability Office), publicou-se este informe, em julho de 2011, que indica que os Estados Unidos proporcionaram mais de 16 biliões de dólares em empréstimos secretos para resgatar bancos e grandes empresas dos Estados Unidos e da Europa da maior crise financeira desde a Grande Depressão. Na sua página na internet, Bern Sandres assinalou:
“Como resultado desta auditoria, sabemos agora que a Reserva Federal proporcionou mais de 16 biliões de dólares em assistência financeira total a algumas das maiores instituições financeiras e empresas nos Estados Unidos e em todo mundo…Este é um claro caso de socialismo para os ricos e de resistente individualismo para todos os demais.”. Socializam-se as perdas mas os ganhos sempre são de carácter privado.
A auditoria dos programas de empréstimos de emergência da Reserva Federal apenas foi divulgada pelos meios tradicionais. Apesar de ser a primeira auditoria na história da Fed desde o seu início em 1913. Os resultados confirmam que mais de 16 biliões de dólares (o atual PIB dos Estados Unidos ou o total da dívida pública desse país) foram atribuídos a grandes empresas e bancos internacionais durante os meses do auge da crise financeira de 2008. Depois deste autêntico escândalo que a imprensa ignorou por completo, seguramente por não saber o que representam 16 biliões de dólares, Sanders declarou a 21 de julho:
“Nenhuma agência do governo dos Estados Unidos deve permitir que se resgate um banco ou sociedade estrangeira sem a aprovação direta do Congresso e do presidente”
Ainda que o Informe GAO não questione as ações da Fed, serve como um claro testemunho do nível de catástrofe em que estava o sistema financeiro há cinco anos. Demonstra também a total impunidade com que atua a Fed nas costas do governo do seu próprio país para defender os interesses da banca, que são apenas os dos seus donos. Desta forma, enquanto se faz finca-pé na dívida pública ou na excessiva despesa em saúde e educação, circulam fabulosas quantidades de dinheiro nas costas de todo o mundo.
Fazendo o trabalho de Deus
Entre outras coisas a auditoria estabeleceu que a Reserva Federal “carece de um sistema suficientemente exaustivo para tratar casos de conflitos de interesse, apesar de existirem sérios riscos de abusos neste sentido”. De facto, a Reserva Federal também fez o trabalho de Deus e executou ações a favor de funcionários e contratadores privados a fim de que pudessem manter os seus investimentos nas mesmas corporações e instituições financeiras que recebiam empréstimos de emergência. Por exemplo, o CEO do JP Morgan cumpria funções no Diretório da Reserva Federal de Nova York enquanto o seu banco recebia mais de 390.000 milhões de dólares em ajuda financeira por parte da Reserva Federal. Além disso, o JP Morgan Chase atuava como um dos bancos de compensação para os programas de empréstimos de emergência da Fed.
Outra constatação perturbadora do GAO é que indica que a 19 de setembro de 2008 o senhor William Dudley, presidente da Reserva Federal de Nova York, recebeu uma autorização para lhe permitir conservar os seus investimentos na AIG (American International Group, um líder mundial no campo dos seguros) e na GE (General Electric) enquanto estas companhias recebiam fundos de resgate.. Uma razão pela qual a FED não obrigou Dudley a vender as suas ações, segundo a auditoria, foi porque tal ação poderia ter criado a aparência de um conflito de interesses.
A investigação também revelou que a Fed entregava a contratadores privados como JP Morgan, Morgan Stanley e Wells Fargo a maioria dos seus programas de empréstimos de emergência. Estes mesmos bancos também recebiam biliões de dólares da Fed por empréstimos concedidos a taxas de juro próximas de zero.
O detalhe dos principais beneficiários destes empréstimos, concedidos entre 1 de dezembro de 2007 e 21 de julho de 2010, é o seguinte:
Todos os restantes bancos receberam 2,6 biliões de dólares (2.639.000.000.000 de dólares)
Total 16.115 biliões de dólares (16.115.000.000.000 de dólares)
Artigo de Marco António Moreno, publicado em El Blog Salmón.Tradução de Carlos Santos para esquerda.net

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