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terça-feira, 8 de outubro de 2013

Por açúcar, Coca-Cola e Pepsi expulsam comunidades das suas terras

A Oxfam, confederação de 17 organizações que lutam pelo fim da desigualdade e da pobreza em 94 países, divulgou na passada quarta feira, 2 de outubro, um estudo inédito em que aponta a omissão de três grandes empresas do setor de alimentos e bebidas quanto a apropriações de terras nas suas cadeias de fornecimento. Artigo de EcoDebate.
Foto de gongus, flickr.
No relatório “O gosto amargo do açúcar – o direito à terra e as cadeias de fornecimento das maiores empresas de alimentos e bebidas”, a Oxfam denuncia disputas por terras ligadas a empresas do setor que produz açúcar e álcool, que fornecem açúcar à coca-cola e à pepsiCo – e cita casos semelhantes na cadeia de fornecimento da Associated British Foods (que, no Brasil, detém a marca Ovomaltine).
A partir do relatório, a Oxfam conclamam as três gigantes do setor alimentício a comprometerem-se com um nível de tolerância zero quanto a apropriações de terras nas suas cadeias de fornecimento que ameaçam a subsistência de populações locais – e desrespeitam ou atravancam o processo de demarcação de terras indígenas.
Para a organização, elas devem divulgar de quem e de onde compram as suas matérias primas; publicar avaliações sobre como o açúcar que compram afeta o direito à terra das comunidades locais; e usar o seu poder para instigar os governos e a indústria alimentícia como um todo a respeitarem este direito.
As três empresas tiveram desempenho “mau” ou “muito mau” quanto às suas políticas para terras no ranking da campanha Por Trás das Marcas da Oxfam, que avalia o desempenho de dez gigantes do ramo alimentício quanto às suas políticas com maior impacto social e ambiental.
Brasil
Segundo o relatório publicado nesta semana pela Oxfam, há diversas evidências de disputas em torno da apropriação de terras no Brasil, um dos maiores produtores, exportadores e consumidores de açúcar do mundo:
- Uma comunidade de pescadores em Pernambuco tem vindo a lutar pelo acesso às suas terras e zonas pesqueiras depois de ter sido expulsa violentamente, em 1998, por uma central de produção de açúcar que supre a Coca-Cola e a PepsiCo. Como consequência, muitas famílias hoje lutam para sobreviver em favelas da região de Barra de Sirinhaém e do Recife.
- No Mato Grosso do Sul, comunidades indígenas lutam contra a ocupação das suas terras por plantações de açúcar que abastecem uma central de produção de açúcar da Bunge. A Coca-Cola compra açúcar da Bunge no Brasil. As plantações de açúcar devastaram as florestas das quais estas comunidades dependiam para se alimentar e viver.
No estudo, a Oxfam cita também um caso de Camboja – outro país, como o Brasil, no qual a apropriação de terras ocorre de forma historicamente injusta.
As marcas
Os números que cercam estas três gigantes da indústria alimentícia são contundentes:
- A Coca-Cola é o maior comprador mundial de açúcar e controla 25% do mercado global de refrigerantes. O seu portfólio de 500 marcas inclui a Diet Coke, Fanta e os sumos Del Valle.
- A PepsiCo controla 18% do mercado de refrigerantes e possui 21 marcas no seu portfólio, incluindo a Pepsi, Tropicana e Doritos.
- A Associated British Foods é a segunda maior produtora de açúcar do mundo e, globalmente, é proprietária de marcas como a Ovomaltine, Silver Spoon Sugar, Kingsmill e Patak’s.
Negócio bilionário
O mundo produziu 176 milhões de toneladas de açúcar no ano passado – e a indústria de alimentos e bebidas consome mais da metade deste volume. Prevê-se que a produção de açúcar aumente em 25% até 2020.
Ao passo que o crescente apetite por açúcar tem vindo a gerar preocupação entre os profissionais de saúde, a Oxfam alerta que o facto de o comércio de açúcar estar a fomentar a apropriação de terras e disputas tem vindo a ser negligenciado. Ao todo, 31 milhões de hectares – uma área equivalente à Itália – já estão a ser usados para produzir açúcar, a maioria em países em desenvolvimento.
A questão da apropriação de terras revela-se grave onde comunidades locais que dependem das terras são expulsas sem qualquer consentimento prévio ou compensação. Segundo a campanha Por Trás das Marcas da Oxfam, as dez maiores empresas de alimentos e bebidas do mundo carecem de políticas suficientemente fortes para impedir que a apropriação e disputas por terras façam parte das suas cadeias de abastecimento.
Segundo a diretora executiva da Oxfam, Winnie Byanyima, “o açúcar, já relacionado a graves problemas de saúde, está também por trás do amargo problema da apropriação de terras”. A Coca-Cola, a PepsiCo e a Associated British Foods são as maiores produtoras e compradoras de açúcar do mundo, mas estão a fazer muito pouco para garantir que o açúcar dos seus produtos não esteja a ser produzido em terras que foram arrancadas de comunidades pobres”.
“As pessoas que consomem estes produtos esperam mais destas empresas. Estamos a convidá-las a unirem-se a nós para exigirmos que a Coca, a Pepsi e a Associated British Foods ajam agora para acabar com as apropriações de terras. Estas três empresas têm enorme poder e influência. Se agirem, conseguem transformar a indústria do açúcar”, disse a diretora.
A campanha
Por Trás das Marca integra a campanha Cresça, conduzida pela Oxfam em mais de 40 países, e que defende mudanças na forma de produção e consumo de alimentos. A organização espera, por meio da divulgação deste estudo e da mobilização online de consumidores no mundo inteiro, fazer com que as empresas desempenhem um papel de liderança na promoção um modelo sustentável e justo de produção de alimentos.

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