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sábado, 2 de novembro de 2013

Hobsbawn - "Agora sabemos que uma era terminou. Não sabemos o que virá."

A reportagem é do jornal argentino Clarín, 26-10-2008.

“Sabemos que uma era terminou, mas não sabemos o que virá”, comentou dias atrás, em uma longa entrevista concedida à BBC de Londres, onde reside. Este é um fragmento do diálogo.

O estatismo irá regressar?

Certamente, é a crise mais grave do capitalismo desde a década de 30. Acredito que esta crise está sendo mais dramática por causa dos mais de 30 anos de uma certa ideologia “teológica” do livre mercado, que todos os governos do Ocidente seguiram. Porque como Marx, Engels e Schumpeter previram, a globalização – que está implícita no capitalismo –, não apenas destrói uma herança de tradição como também é incrivelmente instável: opera por meio de uma série de crises. E o que está acontecendo agora está sendo reconhecido como o fim de uma era específica. Sem dúvida, falaremos mais de John Maynard Keynes e menos de Milton Friedman. Todos concordam quo Estado terá um papel maior na economia daqui por diante. Já vimos o Estado como o prestamista de última instância. Talvez, retornaremos à idéia do Estado como o empregador de última instância, que é o que ele foi sob o “New Deal”. Seja o que for, será um empreendimento público de ação e iniciativa, algo que orientará, organizará e dirigirá também a economia privada. Será muito mais uma economia mista do que tem sido até agora.

E em relação ao Estado como redistribuidor?

Acho que será pragmático, da forma que era antes. O que tem acontecido é que, nos últimos 30 anos, o capitalismo global vem operando de uma forma instável, exceto, por várias razões, nos países desenvolvidos. Eles se mantiveram, até um certo ponto, à margem, e por isso o minimizaram. No Brasil, nos anos 80, no México, nos 90, no sudeste asiático e Rússia nos anos 90, e na Argentina em 2000: todos sabiam que estas coisas poderiam trazer catástrofes em curto prazo. E para nós isso implicava quedas tremendas na bolsa de Londres, mas seis meses depois, recomeçávamos de novo. Agora, temos os mesmos incentivos que tínhamos nos anos 30: se não fizermos nada, o perigo político e social será profundo.

O senhor esteve na Alemanha quando Hitler chegou ao poder. Poderia acontecer algo remotamente parecido?

Nos anos 30, o claro efeito político a curto prazo da Grande Depressão foi o fortalecimento da direita, com duas exceções. Uma foi a Escandinávia e – curiosamente – os Estados Unidos, onde reagiram com quem seria o equivalente de Bush. A esquerda não se saiu bem até os anos 30, com a chegada da guerra. Então, eu acredito que esse é o principal perigo. A esquerda está virtualmente ausente. Então, me parece que o principal beneficiário desse descontentamento, outra vez com uma possível exceção – pelo menos eu espero – nos Estados Unidos, será a direita.

O que vemos agora é o equivalente à queda da União Soviética para a direita?

Sim, eu acredito que sim. Acredito que esta crise é equivalente ao dramático colapso da União Soviética. Agora sabemos que uma era terminou. Não sabemos o que virá. Temos um problema intelectual: costumávamos pensar que havia duas alternativas, ou uma ou outra: ou o livre mercado ou o socialismo. Acho que teremos de deixar de pensar em uma ou em outra e devemos pensar na natureza da mescla.

O senhor acredita que regressaremos à linguagem do marxismo?

Até um certo ponto, já o fizemos. Acho bem estranho que a redescoberta de Marx tenha sido gerada pelos homens de negócio, já que não existe esquerda. Desde a crise dos anos 90, são os homens de negócio que começaram a falar assim: “Bem, Marx predisse esta globalização e podemos pensar em uma série de crises”. Não acredito que a linguagem marxista será proeminente politicamente, mas intelectualmente a natureza da análise marxista sobre a forma com a qual o capitalismo opera será verdadeiramente importante.

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