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segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Jornalista foge do Brasil depois de denunciar corrupção nas Forças de "Segurança"

O jornalista brasileiro Mauri König teve de mudar de vida na sequência de trabalhos que publicou sobre corrupção, após ter recebido "ameaças" de agentes da polícia, marcados por “um resquício da ditadura”.
“Apesar da democracia, (…) ainda temos um resquício da ditadura dentro das forças armadas brasileiras, dentro das forças de segurança pública”, denuncia Mauri Koning.
A liberdade de expressão e de imprensa é um dos princípios fundamentais inscritos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, cujo dia se assinala na terça-feira, mas é violada diariamente, em muitas partes do mundo.
O jornalista Mauri König é disso exemplo. Como contou em entrevista telefónica à Lusa, o repórter da Gazeta do Povo teve de sair do país e viver escondido, depois de, em dezembro de 2012, ter recebido “ameaças sérias”, que “partiram de policiais”, pelo que andava a escrever sobre corrução nas forças de segurança.
Em concreto, o jornalista publicou uma série de reportagens sobre agentes que estavam a usar veículos oficiais para fins pessoais, como ir à praia ou visitar prostíbulos, e revelou um esquema de desvio de fundos para manter delegacias desativadas ou inexistentes.
Mauri König foi galardoado com o Prémio Internacional de Liberdade de Imprensa 2012, atribuído pelo Comité de Proteção aos Jornalistas, que, juntamente com o Instituto Prensa y Sociedade, o retiraram do Brasil e acolheram num “lugar seguro, em Lima”, capital do Peru, “durante praticamente dois meses”.
Desde fevereiro que o jornalista está de volta ao Brasil, onde voltou ao trabalho, “normalmente” e “sem ameaças”, mas às custas de mudanças de rotina. “Não vou, por exemplo, a alguns lugares onde normalmente eu ia, tive de vender a minha casa por causa das ameaças, hoje moro num apartamento mais próximo do jornal onde trabalho, para ficar menos exposto nas ruas”, exemplifica.
Passados dez meses, ainda está a viver “os reflexos negativos das ameaças”, por exemplo a distância do filho, que vive com a ex-mulher a mais de mil quilómetros. Já tinha acontecido o mesmo com os dois mais velhos, quando, em 2003, König teve de mudar de cidade por causa de ameaças da polícia, na sequência de uma reportagem.
É, portanto, um repetente e um insistente. Se, quando voltou ao jornal, optou por trabalhar “temas mais amenos, que não implicassem riscos”, König já voltou a escrever sobre segurança pública e corrupção.
“Apesar da democracia, (…) ainda temos um resquício da ditadura dentro das forças armadas brasileiras, dentro das forças de segurança pública”, denuncia.
“Suponho que a grande maioria dos policiais brasileiros age corretamente, dentro da lei, mas tem uma parcela de policiais que age à margem da lei”, distingue. Esses agentes consideram “eficaz” a “ameaça a quem está expondo algum tipo de irregularidade que eles estejam cometendo”, justifica, realçando que “a questão da segurança pública no Brasil” – “da insegurança pública”, corrige – “é conjuntural”.
Nove em dez homicídios “ficam impunes”, sem que o autor seja descoberto ou castigado “exemplarmente”, recorda. “Esse alto índice de impunidade faz com que uma pessoa quando está disposta a cometer um crime ou a agredir alguém (…) avalia o custo-benefício e conclui que a possibilidade de ser punido é muito pequena e então adota o expediente da ameaça ou da agressão”, explica.
Esta situação, assinala, “não tem melhorado, porque é um problema conjuntural”, persistindo “deficiências” tanto na prevenção do crime, como no trabalho de investigação após o crime.

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