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terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Alain Touraine: "O que chamamos de 'política' é hoje uma realidade muito degradada"

Em seu mais recente trabalho, "O Fim das Sociedades", o sociólogo francês explica que o domínio do capitalismo financeiro põe em dúvida e torna inúteis todas as construções sociais do passado.

El futuro ya llegó. Touraine cree que el carácter noble de la política sólo puede renacer de la ética. / ARCHIVO CLARÍN

Por muitos anos, Alain Touraine estabeleceu-se como um dos melhores e mais atentos observadores da evolução da nossa sociedade. Em um livro após outro, o sociólogo francês analisa os personagens e transformações de um mundo pós-industrial, que tornou-se "pós-social." Uma evolução que é também o centro de seu mais recente trabalho, "O fim das sociedades", um ensaio onde explica que o domínio do capitalismo financeiro põe em dúvida e torna inútil todas as construções sociais do passado. Dado este "fim da sociedade" real onde os movimentos sociais parecem não ter qualquer base na realidade, tudo o que resta, de acordo com este estudioso que recentemente completou oitenta e oito anos, é contar com a resistência ética, única capaz de devolver um sentido para a vida e o agir coletivamente.

- O que mudou nas últimas décadas?
-A partir dos anos 60, vimos o declínio gradual do capitalismo industrial. Prevaleceu o capitalismo financeiro e especulativo, que resta capitais  para o investimento produtivo. Esta transformação do capitalismo esvaziou de conteúdo as categorias sociais e políticas que estamos habituados a pensar.
 
-O que significa isso?
-Hoje em dia, todas as categorias e instituições que nos ajudaram a construir a sociedade-Estado, Nação, Democracia, Classe,família foi danificada. Eram filhas do capitalismo industrial. Já não nos ajudam a pensar sobre as práticas sociais nem a governar o mundo.

- Existe uma alternativa?
-É necessário encontrar novas categorias. Anteriormente, o social se baseava na idea da relação com o outro, agora temos de reconhecer o primado da relação com você mesmo. Dessa forma, o indivíduo pode voltar a ser um ator social. Não passando mais  pelo social, pela política ou pela religião, mas através de si mesmo, enquanto sujeito.

No plano individual são importantes a consciência e a responsabilidade...
- Naturalmente. E quando se fala de sujeito se fala de direitos. No centro da reflexão devem estar os direitos fundamentais, porque os direitos constituem o social. Respeito Stéphane Hessel - o inspitrador dos Indignados - mas a indignação não é suficiente. Neste momento, é necessário voltar a partir dos direitos e de sua defesa,  como já acontece em muitas partes. E como o novo papa também fez, que parece adotar com gosto o vocabulário da ética. Hannah Arendt enfatizou o direito a ter direitos, acrescentou que os direitos estão acima da lei .

- Através do sujeito é possível opor resistência ao fim das sociedades?
- A questão dos direitos é fundamental. A liberdade, a igualdade , mas também o direito à dignidade, que impede que o corpo humano possa ser vendido como uma mercadoria. Defendê-los recria laços sociais. Estas preocupações éticas não são aspirações abstratas, dado que eles já estão presentes na sociedade civil mais do que podemos imaginar.

Promover a resistência  ética à decomposição social. Não se corre o risco de se opor a ética à política?
- A contraposição é necessária hoje, porque o que chamamos de "política" é agora uma realidade muito degradada e distorcida. O caráter nobre da ação política só pode renascer da ética. Não de uma política de classe,  não de uma política da nação, não de uma política de interesses, não de uma política do sagrado. Usando essas categorias do passado, a política não sabe e já não pode falar com as pessoas.

- O que pode ser feito, então, para voltar a tomar decisões que afetam a todos nós?
A ideia da política que toma decisões em nome do interesse comum não funciona mais. Hoje, é necessário partir de uma exigência ética que se transforme em ações concretas  e instituições. Pensemos nos direitos das mulheres. A condição Feminina tornou-se um dos elementos determinantes para avaliar o grau de desenvolvimento de uma sociedade.



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