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sábado, 11 de janeiro de 2014

Mais de 75% dos grandes carnívoros estão a desaparecer

Leões, focas, ursos e outras espécies de grandes predadores estão a desaparecer dos seus habitats, acabando com o equilíbrio de diversos ecossistemas no mundo. Por Fernanda B. Müller do Instituto CarbonoBrasil
Menos de 250 leões adultos sobrevivem atualmente no oeste da África - Foto wikimedia
Um estudo publicado nesta sexta-feira (10) no periódico Science mostra pela primeira vez como ameaças – perda de habitat, perseguição por humanos e eliminação de presas – estão a somar-se e a criar hotspots globais de declínio de carnívoros.
Mais de 75% das 31 espécies dos maiores carnívoros do planeta estão em declínio, e 17 delas agora ocupam menos de metade da sua área original, alertam os autores.
O sudeste da Ásia, sul e leste da África e a Amazónia estão entre os locais onde várias espécies de carnívoros estão a desaparecer. No mundo desenvolvido, com algumas exceções, esses animais já foram na sua maioria exterminados.
“Globalmente, estamos a perder os nossos grandes carnívoros”, comentou William Ripple, principal autor do estudo e professor do Departamento de Ecossistemas Florestais e Sociedade da Universidade Estadual do Oregon.
“Muitas das espécies de grandes predadores estão ameaçadas. A sua abrangência está em colapso. Muitas correm risco de extinção, local ou globalmente. E, ironicamente, estão a desaparecer exatamente enquanto aprendemos os seus efeitos ecológicos importantes.”
Interconetividade
Dingo (canídeo selvagem australiano) - Foto wikimedia

Os investigadores reviram relatórios científicos publicados recentemente e selecionaram sete espécies que têm sido estudadas pelos seus efeitos ecológicos generalizados, incluindo leões, leopardos, o lince-euroasiático, o puma, lobos cinzentos, a lontra-marinha e dingos (uma sub-espécie de lobo).
Ripple e o seu colega na Universidade Estadual do Oregon, Robert Beschta, documentaram os impactos do puma e lobos sobre a regeneração de florestas e da mata ciliar em Yellowstone (Estados Unidos) e outros parques nacionais da América do Norte. Eles concluíram que menos predadores significa um aumento na deteção de veados e alces, que, ao se alimentarem de folhas e galhos, impactam a vegetação, as aves e pequenos mamíferos, mudando também outras partes do ecossistema num efeito em cascata.
Estudos com linces, dingos, leões e lontras-marinhas apresentaram efeitos similares, relatam os autores. Em algumas partes da África, a redução no número de leões e leopardos coincide, por exemplo, com um aumento drástico dos babuínos-oliva, que ameaçam cultivos e rebanhos.
Os autores pedem que haja uma melhor compreensão do impacto dos grandes carnívoros nos ecossistemas e explicam que o conceito clássico de que predadores são daninhos e acabam com a vida selvagem é ultrapassado. Investigações, por exemplo, em recifes de coral no sudeste asiático, hotspot mundial da vida marinha, mostram que os ecossistemas mais saudáveis são os que têm a maior população de tubarões.
Ripple e os seus colegas dos Estados Unidos, Austrália, Itália e Suécia sugerem que seja formada uma ação internacional para conservação desses animais em coexistência com as pessoas, a exemplo da Iniciativa para Grandes Carnívoros da Europa, um grupo sem fins lucrativos afiliado à União Internacional de Conservação da Natureza (IUCN).
“Promover a tolerância e a coexistência com grandes carnívoros é um desafio crucial à sociedade que, no fim, determinará o destino destes animais”, concluem os cientistas.
Cientistas e gestores de áreas com vida selvagem precisam reconhecer que há evidências cada vez maiores sobre os papéis complexos dos carnívoros nos ecossistemas, e também os seus benefícios sociais e económicos, colocam os autores. Eles ressaltam que este conceito já era defendido pelo Ecólogo Aldo Leopold na primeira metade do século passado, porém foi amplamente ignorado por décadas.
“Dizemos que estes animais têm o direito intrínseco de sobreviver, mas eles também estão a fornecer serviços económicos e ecológicos que as pessoas valorizam”, disse Ripple. Entre esses serviços estão o sequestro de carbono, a restauração de mata ciliar, biodiversidade e controle de doenças.
Ripple ressalta que, onde as populações de grandes carnívoros foram restauradas, como no caso dos lobos de Yellowstone e dos linces na Finlândia, os ecossistemas responderam rapidamente.
“A natureza está altamente interligada”, nota. “O trabalho em Yellowstone e noutros locais mostra como uma espécie afeta a outra e a outra de diferentes formas.”
Predadores humanos
Leopardo - Foto wikimedia

Por mais bárbaro e absurdo que pareça, grandes carnívoros ainda continuam a ser presas frequentes dos humanos. Tanto a caça ilegal como as pressões que a expansão humana impõe sobre os habitats desses animais, que precisam de áreas extensas e ricas para sobreviver, estão a colocá-los à beira da extinção.
Nesta semana, um artigopublicado no PLoS ONE alerta que menos de 250 leões adultos sobrevivem atualmente no oeste da África, uma notícia aterradora. Já se sabia que os animais corriam risco, porém, não se esperava que a situação fosse tão crítica. Avaliando 21 parques, cientistas constataram a presença de leões em apenas quatro, sendo que somente uma população tinha mais do que 50 indivíduos.
E isso não é privilégio dos humanos modernos. Muitos investigadores renomados, como Jared Diamond, defendem a teoria de que a extinção da megafauna começou há milhares de anos, acompanhando o ritmo da chegada do homem aos novos continentes.
Ainda que muitas brechas e dúvidas permaneçam no nosso conhecimento sobre e evolução e interações dos animais, em especial da megafauna em contraposição ao desenvolvimento humano, há subsídios suficientes para que essa tendência histórica seja finalmente revertida.
Referências: W.J. Ripple, R.L. Beschta, M.P. Nelson, et al. Status and Ecological Effects of the World's Largest Carnivores. Science (2014) Vol 334.
Artigo de Fernanda B. Müllerdo Instituto CarbonoBrasil

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