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quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Paul Mason: Quem formam no Mundo as novas classes médias?



Quando um milhão de pessoas tomaram as ruas do Brasil em junho passado, houve consenso de que o protesto foi um fenômeno da "nova classe média", esmagada pela corrupção e pela infra-estrutura se deteriorando. Os  protestos tailandeses, que estão em curso, também se põe o rótulo de classe média: trabalhadores de escritórios com camisas passada e limpas, que  encenam ações de surpresa.


Foto: SSOCIOLOGOS.COM
Mas o que significa classe média no mundo em desenvolvimento? Cerca de 3.000 milhões de pessoas ganham menos de dois dólares por dia, mas as cifras do resto são vagas. Agora, uma nova pesquisa de economistas da Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostra em detalhes o que vem acontecendo com a força de trabalho do sul global, ao longo de 25 anos de globalização está se tornando mais estratificada, com rápido crescimento do que eles chamam de "desenvolvimento da classe média", um grupo entre os 4 a 13 dólares por dia. Este grupo cresceu de 600 a 1400 milhões, se você incluir cerca de 300 milhões acima do US$ 13, é agora de 41% da força de trabalho, e vai direto para tornar-se mais de 50% em 2017. Mas, em termos globais, a verdade é que ele não é de todo classe média. Este limite máximo de US$ 13 por dia corresponde aproximadamente à linha de pobreza nos EUA em 2005. Então, o que está acontecendo?

Os pesquisadores da OIT extraíram dados de 61 pesquisas domiciliares em todo o mundo para a conclusão destas figuras. No processo, eles adotaram uma definição do estilo de vida do grupo dos que ganham menos de US$ 13 , aproximadamente. Os indicadores-chave foram: famílias poderiam recorrer à poupança e seguros, eram propensos a ter TV em casa e vivem em famílias menores (de quatro). Caracteristicamente, gastam 2% de sua renda em entretenimento, e também ter um melhor acesso a água, saneamento e eletricidade. São estes, então, os "vencedores" da globalização: um grupo cada vez maior para o qual o crescimento global levou  um grande aumento da renda real, ano após ano, em comparação com a recente semi-estagnação da renda das famílias da classe trabalhadora ou  média baixa em algumas partes do mundo desenvolvido.

Pode-se supor que o "desenvolvimento da classe média" é composto principalmente por trabalhadores da fábrica, mas não é o caso. Um dos resultados mais surpreendentes do estudo da OIT é que mais de metade da "classe média em desenvolvimento" trabalha no setor dos serviços. Trabalhadores fabris são entre 15% e 20% de cada grupo de renda: vão desde os sem-teto ao grupo que está acima de US$ 13. Isso reflete, de acordo com os pesquisadores, o fato de que o setor industrial do Sul global fornece hoje tanto trabalho de alto valor, qualificado como trabalho à empreitada.

Quando Richard Freeman, um economista de Harvard, calculou a " grande duplicação " da força de trabalho mundial - como resultado do desenvolvimento global e da entrada dos ex-países comunistas no mercado - se conjecturava que isto reproduziria outro " proletariado" na periferia do capitalismo. Assim foi, mas as estimativas da OIT constituem a evidência mais forte até agora de que está se movendo firmemente para estratificação e um trabalho mais orientado para o setor dos serviços, como os seus homólogos do mundo rico em 1960 e 1970. Se formos para a realidade do que é a "nova classe média" no Brasil, Marrocos e Indonésia, não é a palavra "confortável" o que vem à sua cabeça. Muitas vezes, significa viver em uma megalópole caótica ao lado de extrema pobreza e crime, se amontoar em sistemas de transporte precários e ver como o seu rendimento acaba nos bolsos de todos os funcionários corruptos, corretores e pessoas de mercado negro. Isto tem configurado, por sua vez, aquilo por que as pessoas protestam. Resta, é claro, as lutas trabalhistas de um perfil muito pronunciado: Na Argentina há mais de 180 fábricas ocupadas. E a cidade algodoeira de El- Mahalla el Kubra no Egito continua a ser o tipo de lugar que pode resultar na cessação total de trabalho e, em dezembro de 2012, declarando a sua "autonomia" do governo.

Mas a tendência da OIT sugere que, para o segundo quarto deste século, as dinâmicas sociais típicas de um país de desenvolvimento médio vai ser uma mistura de conflito "no local de trabalho" com os outros interligados, esporádicos e voláteis do que vimos no Turquia e no Brasil no ano passado. A esquerda ocidental viveu décadas afligidas pela diminuição do trabalho manual e da ideologia de resistência, às vezes com esperança de alívio que se reproduzem em outro lugar. O estudo da OIT sugere que não.

O que era impensável há 20 anos, hoje está se tornando tangível: os rendimentos reais dos trabalhadores qualificados, trabalhadores do conhecimento e os gestores dos "países em desenvolvimento" estão começando a sobrepor-se com os que estão no fundo da escala de sociedades ocidentais. Mas essa perspectiva que até então se entendia que previa estabilidade, á não é. Como tem mostrado Branko Milanovic, economista-chefe do Banco Mundial, quando se trata de o que causa desigualdade, o impacto da classe e localização são invertidos: "Por volta de 1870, a classe explicou mais de dois terços da desigualdade global. E agora? As proporções se inverteram: mais de dois terços da desigualdade é devido à localização".

Milanovic chama isso de "mundo não-marxista", em que a luta de classes perde utilidade como estratégia e o lógico é emigrar. "Ou bem  os países pobres irão se fazendo ricos ou as pessoas migram para os países ricos". Penso, no entanto, que o aumento significativo da agitação é um sinal de que a nova classe média, pobre, em ascensão -  que não pode emigrar  - decidiu forçar os países pobres a se tornar mais rico em democracia,  sustentabilidade, infra-estrutura urbana, saúde.

Eles estão escolhendo temas sintomáticos - corrupção, transportes, espaços verdes, como no caso da ocupação do parque Gezi em Istanbul [Taksim Squar] -, mas em todo o mundo se torna evidente sua determinação em fazer a vida menos arbitrária e mais segura  com 13 dólares por dia.

Paul Mason é editor da seção cultural e digital do britânico Channel 4 News e foi o responsável pela seção de Economia da notícia da BBC2 Newsnight. Professor Visitante na Universidade de Wolverhampton.

Retirado de www.sinpermiso.info 

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