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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Al Sisi sonha ser faraó no Egito

Abdel Fatah al Sisi apresentar-se-á como candidato à Presidência do Egito e é possível que vença sem problemas. A junta militar no poder e o governo interino farão tudo para facilitar a sua vitória. Por Emile Nakhleh.
Al Sisi apresentar-se-á às massas egípcias como “o salvador” e o “homem indispensável”, como fizeram outros militares transformados em ditadores civis
O presidente interino, Adly Mansur, nomeou Sisi marechal de campo, máxima patente nas forças armadas egípcias, apesar da sua falta de experiência em combate.
O Conselho Supremo das Forças Armadas seguiu-o, dando ao novo marechal o “mandato” de se candidatar, em resposta ao “desejo das massas”. Sisi respondeu que é sua “responsabilidade” e “obrigação” fazê-lo.
Para garantir a sua vitória e protegê-lo do controle parlamentar, Mansur alterou o chamado mapa do caminho para que as eleições presidenciais ocorram antes das legislativas.
Para não ficar atrás, o primeiro-ministro interino, Hazem al Biblawi, anunciou uma mudança no seu gabinete, incluindo o Ministro da Defesa, até agora nas mãos do marechal Sisi.
Uma vez que Sisi “se retire” das forças armadas e do gabinete, estará livre para se candidatar à Presidência como “civil”. Então, apresentar-se-á às massas egípcias como “o salvador” e o “homem indispensável”, como fizeram outros militares transformados em ditadores civis.
A aposta de Sisi aparece apenas 18 meses depois de o ex-presidente Mohammad Morsi (2012-2013) tê-lo designado ministro da Defesa, e contradiz os seus pronunciamentos anteriores, de que as forças armadas deveriam retirar-se da política e voltar aos quartéis.
Enquanto declarava lealdade a Morsi e ao poder civil, conspirava contra o governo livremente eleito.
A recente retirada das aspirações presidenciais dos potenciais adversários, Abdul Min’im Abu Al Futuh e Hamadayn Sabahi, só faz impulsionar as ambições de Sisi.
Ele quer ressuscitar a tradição do regime de homem forte, que foi repudiada pela revolução de 25 de janeiro de 2011. Segundo a imprensa, Sisi vê o ex-presidente Gamal Abdel Nasser (1956-1970) como um modelo a seguir, e gostaria de copiar o seu governo.
Mas é muito jovem para recordar o período em que as guerras de Nasser cimentaram o culto à sua personalidade.
Sisi tinha dois anos de idade quando aconteceu a guerra de Suez, sete quando começou a guerra do Iémen, 13 durante a guerra de 1967 e 19 por ocasião da guerra de outubro de 1973. Formou-se na academia militar em 1977, e lançou a sua carreira nas esferas do poder especialmente a partir da segurança militar.
Afirma-se que quando dorme tem “visões” recorrentes de antigos governantes como Anwar el Sadat (1970-1981). Estas visões, segundo artigos na imprensa, levam-no a crer que está destinado a governar o Egito e devolver ao país seu glorioso passado, tarefa que exige o culto à personalidade, que ele e os meios de comunicação estatais alimentam febrilmente.
O marechal espera que a “rua”, que rechaçou a renúncia de Nasser após a desastrosa guerra de 1967, o coroe como moderno faraó.
Jihan el Tahri, produtor cinematográfico egípcio de renome mundial, intitulou o seu próximo filme sobre Nassar, Sadat e Hosni Mubarak (1981-2011) de “Os modernos faraós do Egito”. Sisi parece estar a seguir os seus passos.
A aposta começará com o anúncio de Sisi sobre a sua intenção de ser candidato. A histeria popular o impulsionará, mas o marechal deve levar em conta que este tipo de adulação em massa tem vida curta e pode voltar-se contra rapidamente.
Os egípcios, politicamente ativos e conscientes, logo se darão conta de que a presidência de Sisi implicará um regresso à ditadura militar, uma mutilação da revolução de 25 de janeiro e a reinstauração da plutocracia economicamente poderosa.
Quando Sisi começar a governar, o Egito luzirá alto desemprego, uma economia estagnada, uma indústria turística anémica, baixas reservas de divisas, maus antecedentes de direitos humanos, crescente violência sectária e inclusive terrorismo, mas, sobretudo, altas expectativas populares.
A revolução de 25 de janeiro deu à juventude poder para reclamar dignidade, liberdade, justiça social e emprego.
Como Morsi antes dele, Sisi não poderá promover mudanças radicais, principalmente se continuar a violação dos direitos humanos de laicos e islâmicos, as prisões ilegais, as paródias de julgamentos e as severas penas.
Um governo de Sisi, se é que tem lugar, deverá abordar problemas endémicos e severos em matéria económica e de direitos humanos.
Caso não o faça no seu primeiro ano de governo e continuarem as violações indiscriminadas das liberdades, não é impensável que os egípcios saiam novamente às ruas pedindo a sua renúncia.
Assim, o marechal poderia terminar julgado como os seus dois antecessores, na mesma cela de vidro à prova de som.
Artigo de Emile Nakhleh, professor da Universidade do Novo México, publicado por Envolverde/IPS

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