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terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Governo é refém do agronegócio, diz o MST

João Pedro Stedile, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, afirma que a composição conciliadora dos governos Lula-Dilma já não funciona, porque as políticas paliativas não conseguem resolver as pressões sociais. Da Página do MST
João Pedro Stedile:"A luta não é só por terras, é também pela agroecologia, por mais agroindústrias para os camponeses, uma educação rural que dialogue com a realidade do campo, enfim, por condições dignas de vida e produção para os agricultores familiares". Fotografia Circuito Fora do Eixo.
João Pedro Stedile:"A luta não é só por terras, é também pela agroecologia, por mais agroindústrias para os camponeses, uma educação rural que dialogue com a realidade do campo, enfim, por condições dignas de vida e produção para os agricultores familiares". Fotografia Circuito Fora do Eixo.
Nesta quinta-feira (6/2), João Pedro Stedile, da coordenação nacional do MST, participou de uma conferência de imprensa para apresentar o 6° Congresso Nacional do Movimento, que será realizado entre os dias 10 e 14 de fevereiro.
Stedile analisou os desafios da luta pela Reforma Agrária, as mobilizações da classe trabalhadora para o próximo período e a importância de uma reforma política para o Brasil.
Segundo ele, a Reforma Agrária está paralisada por vários fatores. "Existe uma pressão grande do capital financeiro, que domina a agricultura através do agronegócio e das empresas transnacionais. “O governo tornou-se refém do agronegócio. Como a Kátia Abreu1 pode ser base desse governo, se ela assinou o impeachment do Lula?", indaga.
Segundo o líder dos Sem Terra, a composição conciliadora dos governos Lula-Dilma não dá mais certo, já que as políticas paliativas não dão mais conta de resolver as pressões sociais.
Além disso, os média, que noticiavam as lutas sociais, "têm feito campanha sistemática para desmobilizar e criminalizar as lutas, para que os trabalhadores nem pensem em se mobilizar e protestar. Por fim, a letargia da Reforma Agrária também é fruto das derrotas políticas sofridas pela classe trabalhadora", acredita.
Para reverter esse quadro, Stedile acredita que apenas fortes mobilizações poderiam mudar essa correlação de forças. "Temos de mostrar que o agronegócio não é o futuro. Importamos 21 milhões de toneladas de fertilizantes. É um modelo que não se sustenta e uma hora vai estourar. Os trabalhadores vão voltar a mobilizar-se, e a união da classe trabalhadora vai dar gás à Reforma Agrária".
Ano da agricultura familiar
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) definiu que 2014 será o ano da agricultura familiar. Para Stedile, essa decisão é muito positiva para a luta camponesa.
"As contradições do agronegócio estão cada vez mais claras. A fase em que o mundo acreditava que o agronegócio iria salvar o mundo passou. Os seus efeitos negativos se evidenciam cada vez mais. A prova disso é apresentada nesse tipo de atitude. É muito importante que a FAO, que representa os governos do mundo, tome essa decisão, pois é uma demonstração clara de que os governos não acreditam no agronegócio".
Paralelamente, outro ponto que segue essa mesma linha é o facto de o Vaticano também ter declarado que este ano seria o ano mundial contra a fome, valorizando o camponês e a cultura tradicional. "Esperamos que mais manifestações como essas aflorem e que governos desenvolvam políticas de fomento à agricultura familiar", ressaltou.
Mundial de futebol
Entre as perspetivas de luta para este ano, Stedile é otimista e já apontou para as mobilizações organizadas pelas mulheres, em março, e as mobilizações unificadas entre as centrais sindicais para o dia 9 de abril.
"Há problemas estruturais latentes na sociedade, e a juventude também vai se manifestar nessa época", acredita, que somado aos programas de mudanças dos movimentos sociais, pode-se multiplicar as mobilizações e colocar essa plataforma de mudanças em pauta.
Entretanto, não aposta que haja grandes mobilizações durante a Copa do Mundo. "A Copa é que nem carnaval. Alguém vai marcar mobilização durante o carnaval?".
"Além disso, os 8 mil milhões que o governo usa na reforma dos estádios equivalem a duas semanas de juros que o governo paga para os bancos. É um erro colocar todos os problemas políticos do país na reforma dos estádios. A classe trabalhadora deve mobilizar-se para resolver os seus problemas, e a Copa não interfere muito nisso", pontua.
Dentro dessa linha, muitos dos problemas estruturais só poderão ser resolvidos com uma reforma política. Nesse sentido, a campanha por um plebiscito popular, que paute a reforma política na sociedade, será um dos principais focos dos movimentos sociais neste ano.
"Com a via institucional bloqueada, temos de mobilizar e conscientizar a sociedade, debater os rumos do país com o povo. Vamos fazer pressão política para arrancar dos políticos o compromisso da constituinte. Se conseguirmos 20, 30 milhões de assinaturas, levamos isso aos três poderes. E se não houver uma assembleia para pensar a reforma política, o país vai entrar em uma grande crise política", avalia.
Ditadura Militar
Quando perguntado sobre o golpe militar, que completa 50 anos em 2014, e os impactos do período para a Reforma Agrária, Stedile afirmou que o golpe acabou com a possibilidade de se fazer uma Reforma Agrária tradicional.
"No Período Goulart chegamos próximos de fazer a Reforma Agrária clássica. O projeto de Celso Furtado em 64 era radical, prevendo desapropriações de todas as áreas com mais de 500 hectares. Era uma reforma que dependia da aliança da burguesia industrial com o campesinato para enfrentar o latifúndio e criar um mercado interno forte".
Porém, essa Reforma Agrária não se viabilizou, deixando de ser possível uma Reforma Agrária desse tipo, "porque quem controla o país hoje são os bancos e o capital financeiro, que não precisam de mercado interno de alimentos, querem apenas exportar commodities".
Diante desse novo contexto é que o MST construiu o programa da Reforma Agrária Popular, uma nova leitura de realidade agrária brasileira. "A luta não é mais só por terras. Nos últimos 10 anos, a agricultura sofreu mudanças estruturais por conta do capital financeiro e produz lucro, não alimento. A nossa luta hoje é também pela agroecologia, por mais agroindústrias para os camponeses, uma educação rural que dialogue com a realidade do campo, enfim, por condições dignas de vida e produção para os agricultores familiares", coloca.
Ainda em relação ao período militar, Stedile disse que o MST está em diálogo com Maria Rita Kehl, integrante da Comissão da Verdade que será responsável pelo relatório dos assassinatos no campo.
"Entregamos os dossiers que temos para ela. O Estado tem uma grande dívida com camponeses mortos, cujas famílias até hoje não tiveram nenhum tipo de reparação. Esperamos que o Estado faça justiça aos camponeses perseguidos pela ditadura. A repressão foi massiva, mais de 1600 camponeses foram assassinatos no campo e apenas 60 casos foram julgados".
7 de fevereiro de 2014
1 Empresária, pecuarista e política brasileira. Atualmente é senadora pelo estado do Tocantins. É do PMDB desde 2013; antes já foi do PFL, do DEM e do PSD. Foi presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins, cargo que exerceu por quatro mandatos consecutivos entre 1995 e 2005. Em novembro de 2008 assumiu o cargo de presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), para o triénio 2008 a 2011.   

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