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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Tá com o povão...Corta pra mim

Quando um apresentador de programa policial se refere à uma  pesquisa e diz que mais de 90% da população brasileira é a favor da maioridade penal, ou  abre os telefones de suas emissoras para opinião ao vivo, eles se consideram com estando "do lado do povo", são ferramentas de justificação, para essa opinião o povo é tudo, para o povo que luta contra os bancos esses são vândalos. Assim ocorre também com os que xingam os ativistas de Direitos Humanos  de "defensores de bandidos". Isola-se, assim, um ponto de vista ideal, o da solução talvez endurecendo leis, apesar de que as existentes sequer serem cumpridas, ou outras ideias frouxas, mas sem dizer quais seriam as soluções. Acresce-se a isso o fato de passarem a ideia que ativistas de direitos humanos desconsideram a violência existente, ora, devem ser os primeiros a conhecerem os dados absurdos da violência urbana do país.

Mas, retornando ao início, será que esse ponto de vista é estar mesmo do lado do povo. Em primeiro lugar se cria uma pauta conservadora por trás disso, como o pensamento é baseado na proteção de uma sociedade "segura" sabe-se onde existente e que "sentem vergonha de serem brasileiros nessas horas", se colocam do "lado do povo" talvez pela caridade para os miseráveis, gritam pela saúde, pela educação, mas se esses miseráveis fizerem um protesto reivindicando moradia serão taxados de baderneiros. Quem cumpre a pauta conservadora a qual me referia no início do parágrafo? Só pode ser setores mais anti-populares.

Acontece o seguinte, não se abre espaço para o debate crítico e polêmico, se fecha nesta pauta e vai ao encontro de um ideal, que só pode ser o de uma sociedade perfeita se se eliminar os "bandidos". Eu sei: seria bom uma edição de "O Povo Brasileiro" de Darcy Ribeiro para cada um, mas acreditar na salvação intelectual tem seus lados complicados também, e a coisa já foi pior, por incrível que pareça, a velha mídia não é mais tão soberana assim, olha, eu escrevo aqui vindo dos sertões do Seridó potiguar, onde antes meu destino seria votar em JáJá, receber uma feirinha, sei lá...

Digo que tínhamos de uma forma não muito científica, quatro classes, a que mandava politicamente no país, ancorada em uma elite jurídica; duas classes médias, uma bem perto do poder e outra conservadora, mantendo um padrão de consumo e no final da nossa pirâmide os mais pobres com suas variações internas, no geral com um consumo restrito e sérias dificuldades de alimentação e vestuário por exemplo. Uma sociedade com sua cordialidade e seu autoritarismo, seu jeitinho de conhecendo o chefe de polícia receber vantagens, um preconceito de cor, educação aos farrapos, não é atoa a receptividade dos programas policiais.

Nos últimos anos melhorou muito o nível de vida da nossa classe baixa, novos trabalhadores empregados, com acesso a produtos tecnológicos modernos, com condições de "criticar" a sociedade no facebook; então melhorou nossa capacidade de propor questionamentos sobre nossa sociedade. A esquerda precisa se reorganizar, chegar junto da população que não acredita em voto, nem em partido, mas há que ser com diz Alain Touraine "uma esquerda "medida do ser humano": "O que define a esquerda, é que ela pensa e age em termos de direitos. O populismo de direita, que lamenta as deploráveis condições da infância, dos pobres, das mulheres e dos presos, sempre existiu. Mas o pensamento e a ação só se tornam de esquerda quando o pensamento se interroga sobre as razões da desigualdade, ou da dependência e da violência, buscando nas vítimas os possíveis protagonistas de vontade e desejo de ação." 

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