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quarta-feira, 5 de março de 2014

Cinco perguntas e respostas sobre a invasão russa da Crimeia

Andando por aqui, seria impossível pensar que todas as televisões do mundo olham para este lugar como uma “zona de guerra”. A situação é muito diferente nas bases, a uma dezena de quilómetros da capital. Lá, os soldados russos cercam os soldados ucranianos. Por Alberto Sicília em Simferopol (Crimeia). Publicado em Principia Marsupia.
Forças russas cercando a base de Perevalnoe, Crimeia. Fotografía de Alberto Sicilia
A Rússia já controla a Crimeia?
Sim. As forças russas controlam todos os pontos estratégicos desta península e mantêm cercos a todos os quartéis do exército ucraniano.
Até agora não ocorreu nenhum confronto armado e é provável que não seja disparado um só tiro: as forças ucranianas sabem que não teriam qualquer possibilidade de vitória se começasse a guerra.
E a população tem muito medo dos russos?
Não. Bem pelo contrário. A maioria da população da Crimeia está muito contente com a chegado dos russos.
Há que recordar que a maioria aqui é de origem russa e que eram contra as manifestações na praça de Kiev. Assustaram-se muitíssimo quando caiu o governo de Ianukovich.
Quem agora tem medo na Crimeia são as minorias ucraniana e tártara.
Os tártaros são o povo autóctone da Crimeia. Durante a Segunda Guerra Mundial, alguns colaboraram com o Exército Nazi. Stálin acusou todo o povo tártaro de “colaboracionismo” e deportou-o para o Uzbequistão, a milhares de quilômetros daqui. Em 1947, os tártaros tinham desaparecido da Crimeia. Desde a queda da União Soviética, milhares de tártaros voltaram mas ainda continuam a ser uma minoria.
Vês tanques pelas ruas?
Não. A vida nas ruas das cidades da Crimeia continua o seu ritmo quotidiano. Todas as lojas continuam abertas, as pessoas continuam a ir trabalhar e as crianças a ir à escola.
Passeando por aqui seria impossível pensar que todas as televisões do mundo olham para este lugar como uma “zona de guerra”.
A situação é muito diferente nas bases, a uma dezena de quilómetros da capital. Lá, os soldados russos cercam os soldados ucranianos.
Ouve, o Kremlin ainda não confirmou que enviou tropas para a Crimeia e os média dizem que as tropas que cercam os quartéis não têm identificação, tens a certeza de que são russos?
Sim, sem nenhuma dúvida. São forças especiais do Exército Russo.
As matrículas de seus veículos são do exército russo, a sofisticação dos equipamentos de comunicação que utilizam, as armas que têm e a disciplina e a organização tática que estão a demonstrar deixam claro que não se trata de um “pequeno grupo de paramilitares pró-russos”.
Apesar de o Kremlin não ter confirmado, aqui no terreno todas as pessoas (tanto a maioria que está a favor da intervenção quanto as minorias que se opõem) têm claro de que se trata de forças russas.
Um ponto mais: que as forças especiais de qualquer exército não levem distintivos em ação é uma prática bastante habitual. Isso proporciona ao seu governo “tempo diplomático” para criar factos sobre o terreno antes de negociar com outros países.
Por exemplo, o destacamento de Navy Seals que os EUA enviaram ao Paquistão para matar Bin Laden também não tinha qualquer distintivo. Se a operação tivesse saído mal, Obama teria negado que essas tropas (que entraram num país soberano sem permissão) fossem suas.
O governo de Kiev qualificou de ato de guerra” a intervenção russa e disse que responderá militarmente. Está para começar uma guerra pela Crimeia?
Eu acho que não.
Parece-me que o presidente interino da Ucrânia fez essas declarações virado para a plateia internacional. Quer chamar a atenção sobre a situação do seu país para que a Europa e os EUA o ajudem, sobretudo economicamente. As reservas do Banco Central da Ucrânia são ínfimas atualmente.
O governo de Kiev sabe que já perdeu a Crimeia. E o problema para eles não só são as tropas do Kremlin mas sim que, além disso, a maioria da população aqui apoia os russos e considera ilegítimo o governo de Kiev.
A única coisa que poderia desestabilizar a Crimeia hoje é que as minorias tártara ou ucraniana formassem algum tipo de guerrilha ou comando de autodefesa. Por agora não temos nenhuma notícia a esse respeito.
NOTA: Continuo na Crimeia e durante todo o dia continuarei a contar minuto a minuto o que vejopelo Twitter.
Tradução de Luis Leiria para o Esquerda.net

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