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segunda-feira, 17 de março de 2014

Elogio do criminoso

"O filósofo produz idéias, o poeta poemas, o sacerdote sermões, o professor compêndios, etc. O delinquente produz  infrações penais. Vamos olhar um pouco mais de perto a conexão que existe entre este último ramo de produção e o conjunto da sociedade  e isto nos ajudará a sobrepor muitos preconceitos. 

O criminoso produz não só crimes: ele também produz o direito penal e, portanto, ao mesmo tempo, o professor encarregado de apoiar cursos nesta área e também o compêndio inevitável em que este mesmo professor lança suas lições como uma "mercadoria". O que contribui para aumentar a riqueza nacional para além do gozo privado que, segundo nós vemos, um testemunho competente, o Sr. Professor Roscher, o manuscrito do compêndio produz a seu próprio seu autor.

O infrator também produz toda a polícia e a administração da justiça criminal. Oficiais de justiça, juízes, carrasco, júris, etc, e, por sua vez, todos esses diferentes ramos da indústria que representam outras categorias da divisão social do trabalho, desenvolvem diferentes capacidades do espírito humano, criam novas necessidades e novas formas de conhecê-los. Apenas a tortura levou às invenções mecânicas mais engenhosas e ocupa, na produção de seus instrumentos, um grande número de artesãos honestos. 

O criminoso produz uma impressão, às vezes, moral, às vezes trágica, conforme o caso, proporcionando assim um "serviço" para o movimento dos sentimentos morais e estéticos do público.

Não só produz manuais de direito penal, códigos penais e, portanto, os legisladores que  lidam com crimes e as penas, também produz arte, literatura, romances e até mesmo tragédias, como evidenciado não só A Culpa de Mullner ou Bandits Schiller, mas mesmo Édipo [Sófocles] e Richard III [Shakespeare].

O criminoso quebra a monotonia cotidiana e a desenvoltura da vida burguesa. Preserva-a assim da estagnação e provoca essa tensão e esse desassossego sem os que até a competição se embotaria. Assim, impulsa as forças produtivas. O  crime descarrega no mercado de trabalho  parte do excedente populacional, reduzindo assim a concorrência entre os trabalhadores e colocando um fim em certa medida, aos baixos salários e, ao mesmo tempo, a luta contra o crime absorve outra parte da da mesma população. Por todas estas razões, o infrator age como uma dessas "compensações" naturais que contribui para restaurar no equilíbrio e abrir uma perspectiva totalmente de ramos de trabalho "úteis".


Podemos destacar como último detalhe a forma como o criminoso influencia o desenvolvimento da produtividade. Serralheiros nunca poderiam ter alcançado sua perfeição presente, se não houvesse ladrões. E a fabricação de notas nunca chegou ao seu refinamento presente, se não houvessem os falsificadores. O microscópio não teria encontrado acesso ao negócio comercial atual, se não tivesse aberto o caminho à fraude comercial. E a química prática deveria estar tão grata a adulteração de produtos e ao intento de descobri-las como o zelo honrado para aumentar a produtividade.

O crime, com novos recursos que são descobertos todos os dias para atacar a propriedade, exige a descobrir a cada passo  novos meios de defesa e se  revela, assim,, tão produtivo como greves, no que diz respeito à invenção de máquinas. E agora deixando o campo da ofensa pessoal,sem os crimes  nacionais, se teria criado o mercado mundial? Além disso, existiria mesmo nações? E não é a árvore do pecado, ao mesmo tempo a árvore do conhecimento desde Adão? Já Mandeville, em seu "Fábula das Abelhas" (1705) demonstrara o potencial de produtividade de todos os comércios, etc, mostrando, em geral, a tendência de toda essa discussão. "O que neste mundo  chamamos de mal, tanto moral como natural, é o grande princípio que nos torna criaturas sociais, o firme fundamento, a vida e a profundidade em todas as indústrias e profissões, sem exceção, aqui reside a verdadeira a origem de todas as artes e ciências, e a partir do momento que o mal cessar, a sociedade necessariamente decai, se não perecer completamente. "O que acontece é que Mandeville foi, naturalmente, muito mais, infinitamente ousadoa e mais honesto do que os apologistas filisteus da sociedade burguesa.

(Nota: Este texto foi escrito por Marx entre 1860 y 1862)

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