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terça-feira, 25 de março de 2014

Falências e crises de liquidez na China

Os chineses ricos começaram a vender as suas propriedades de luxo noutros países. O governo estrangulou as linhas de crédito e o apoio à banca, obrigando milhares de chineses a venderem os seus ativos no resto do mundo. Se a liquidação destes ativos se acelerar pode desencadear-se um novo choque no sistema financeiro mundial. Por Marco Antonio Moreno
A ânsia de desfazerem-se rapidamente de propriedades nos setores mais luxuosos de Hong Kong (na foto), leva chineses ricos a assumirem perdas de até um quinto do seu valor

Os chineses ricos preparam-se para a tempestadeperfeita e começaram a vender as suas propriedades de luxo noutros países, assumindo grandes perdas para obter liquidez imediata. A ânsia de desfazerem-se rapidamente de propriedades nos setores mais luxuosos de Hong Kong, levou-os a assumirem perdas de até um quinto do seu valor (20%). Isto dá conta da falta de liquidez que a China enfrenta. O governo estrangulou as linhas de crédito e o apoio à banca, obrigando com isso milhares de chineses a venderem os seus ativos no resto do mundo. Se a liquidação destes ativos se acelerar pode desencadear-se um novo choque no sistema financeiro mundial.
A China está a viver o rebentamento da sua bolha imobiliária, que pode significar a queda dos preços em 30-40 por cento. Os preços das casas na China tiveram três importantes momentos de escalada: i) depois da crise asiática de 1997, ii) no esplendor da bolha imobiliária mundial (2003-2008) e iii) depois das injeções de liquidez no sistema financeiro (2011-2013). Em cada um destes momentos os preços subiram 22 por cento, em média.
Como assinalou o South China Morning Post a 22 de março, os chineses ricos impulsionaram a subida do preço das casas de luxo em Hong Kong, adquirindo 43 por cento das propriedades no terceiro trimestre de 2012, antes de ser aplicado um imposto aos compradores não residentes. Hoje, quase um terço das casas de luxo de Hong Kong são propriedade de chineses continentais. A crise de liquidez que a China enfrenta e a escassez de dinheiro que as empresas sofrem está a obrigá-los a converter bens em numerário a toda a velocidade.
Falências e incumprimentos
Um dos mais importantes promotores imobiliários (Zhejiang Xingrun) entrou em falência esta semana por dívidas de 600 milhões de dólares. Também entrou em falência uma das grandes empresas de energia solar de Xangai (Shanghai Chaori Solar), ao não poder pagar os juros de um título de 14,6 milhões de dólares. O governo chinês não está a socorrer as empresas, como apontamos neste post, dado que quer dar uma lição ao sistema financeiro e, especialmente, à banca que atua “na sombra”. Calcula-se que a “banca na sombra” é responsável de criar empréstimos de alto risco no montante de mais do 60 por cento do PIB do país.
Os ativos da banca chinesa escalaram nos últimos 4 anos de 11,5 bilhões de dólares para 25 bilhões de dólares (25.000.000.000.000 de dólares), o que representa mais do triplo do PIB chinês. Este enorme endividamento demonstra que a “festa” escapou das mãos e se descontrolou por completo. Quando a orquestra (a banca) continua a tocar todos querem sair a dançar, inclusive os que chegam tarde à “festa”. Depois da ressaca descobre-se que o barco estava a afundar-se e vem a forte contração de crédito… Isto é o que agora aumenta a tensão no sistema financeiro e acrescenta o medo à insolvência de muitas empresas que não terão acesso a crédito algum.
O aço derrete-se
Na onda de falências das empresas chinesas os principais produtores de aço da província de Shanxi estão presos por um fio. A aciaria Highsee Iron & Steel Group Co., não pagou os salários dos seus trabalhadores durante meses e muitos dos seus fornos deixaram de funcionar. O preço do aço caiu para o seu nível mais baixo em 8 anos como consequência da débil procura e do aumento da produção. A mineira Liansheng Resources Group, declarou-se em bancarrota nesta semana devido a enormes dívidas, como informa de Hong Kong o diário The Standard. Espera-se o incumprimento de outras empresas e inclusive o incumprimento do pagamento da dívida do governo chinês, o que pode prejudicar a confiança do mercado.
A empresa de Shanxi é uma das aciarias do mundo que enfrenta enormes problemas. Já comentamos que parte importante da crise da Ucrânia é fruto da queda da procura de aço na Europa. No período de crescimento da bolha imobiliária europeia, a Ucrânia foi um dos principais fornecedores de aço. O rebentamento da bolha arrasou com a Ucrânia perante a impassibilidade dos líderes europeus que, no seu afã de resgatar a banca e os seus lucros, descuidaram totalmente os temas ligados ao emprego. No seu afã de manter “os equilíbrios monetários” (tarefa em que fracassaram rotundamente), os burocratas europeus abriram a caixa de pandora dos desequilíbrios fiscais, laborais e produtivos. Por isso qualquer que seja a magnitude do sismo que hoje a China sofre, não tardará a provocar um novo abalo na famélica economia europeia.
Artigo de Marco Antonio Morenopublicado a 22 de março de 2014 em El Blog Salmón. Tradução de Carlos Santos para esquerda.net

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