Os títulos de dívida pública e o novo grande casino do euro - Blog A CRÍTICA

"Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados." (Millôr Fernandes)

Últimas

Post Top Ad

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Os títulos de dívida pública e o novo grande casino do euro

O que tem estado em jogo na valorização da dívida soberana de Grécia, Espanha, Portugal, Irlanda e Itália é simplesmente a especulação do mercado, alimentada pelas baixas taxas de juro e pela política de liquidez do Banco Central Europeu. Por Marco Antonio Moreno.

A descida dos rendimentos dos títulos emitidos pelos governos de Grécia, Espanha, Portugal, Irlanda e Itália, tem sido aclamado como prova de que a crise terminou e de que os investidores devem ter confiança na força da recuperação da zona euro. No entanto, o que tem estado em jogo na valorização da dívida soberana destes países é simplesmente a especulação do mercado, alimentada pelas baixas taxas de juro e pela política de liquidez do Banco Central Europeu. Com as suas declarações, o BCE tem desempenhado um perigoso jogo de demagogia para benefício dos especuladores. Isto confirma que depois de seis anos da maior queda da economia ocidental, não se aprendeu nada com a crise. O rebentamento e o colapso da bolha imobiliária e de crédito tem-se saldado na criação de outra bolha: a dos títulos de dívida pública.
O mercado de dívida pública na zona euro converteu-se num casino financeiro altamente arriscado que aposta em mais e maiores programas de expansão quantitativa por parte do BCE. Como se pensa que o BCE está prestes a lançar uma expansão monetária no valor de 1 bilião de euros (€1.000.000.000.000), as apostas estão em todas as frentes porque é uma grande oportunidade de lucro massivo.
Isto é o que está a fazer cair o rendimento dos títulos de Grécia, Espanha, Portugal e Irlanda para os níveis mais baixos dos últimos 3/4 anos. O rendimento dos títulos a 10 anos da Grécia caiu de 40 por cento há dois anos para 6 por cento agora. O diferencial de rentabilidade da dívida da Grécia e da Alemanha que atingiu um máximo de 3.900 pontos básicos, chegou aos 450 pontos básicos. Há dois anos a Grécia esteve quase a sair da zona euro, agora voltou ao mercado de capitais pela mão dos “rapazes” do Goldman Sachs. Os mesmos que ajudaram a Grécia a orquestrar os números fraudulentos da sua contabilidade, assessoram-na agora no regresso ao mercado de capitais. Os seus títulos a cinco anos pagam um retorno de 4,95 por cento e vendem-se num abrir e fechar de olhos.
Especuladores numa economia zombie
Esta mudança de tendência do mercado é fruto das políticas do BCE, que anunciou medidas não convencionais nos seus programas de compra de títulos e nos acessos da banca à liquidez. Mas os investidores especulativos não são filantropos mas sim amigos nos bons tempos quando o mercado se move na direção que lhes convém. Tal como ocorreu depois do eclosão da crise em 2008, serão brutalmente rápidos a sair do mercado mal mude a direção do vento.
E esse será o momento da verdade para os países que continuam paralisados pelo desemprego e pelos draconianos planos de austeridade; ameaçados por crescentes riscos de recessão e em desvantagem perante um sistema financeiro receptor de todos os favores dos governos e dos bancos centrais. Este pode ser o momento em que a bolha dos títulos estoure e fique a descoberto a verdade de uma economia zumbi que se mantém a meias tintas pelo gotejo dos fundos de resgate, carcomida na sua essência pela precariedade de um modelo econômico altamente dependente do poder financeiro.
Quando os mercados de Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha se viram em dificuldades com a eclosão da crise, foram os fundos de cobertura e os especuladores dos títulos de dívida quem exerceu mais pressão na jugular financeira da zona euro. Eles ajudaram a alimentar e potenciar a crise, e castigaram sem piedade os rendimentos dos títulos de dívida pública, apaziguando os seus impulsos depois dos planos de resgate dos governos e dos bancos centrais.
Como na crise de 2008/2009, os perdedores não serão os especuladores. Os perdedores serão os contribuintes da zona euro que têm pago um alto preço com os cortes e planos de austeridade para várias gerações futuras. Também serão perdedores os contribuintes dos países mais ricos da UE, a quem se encarregará de pagar a fatura do “esbanjamento” dos mais pobres para manter a União, ainda que isto implique continuar a hipotecar várias décadas do futuro.
Artigo de Marco Antonio Moreno publicado em El Blog Salmón. Tradução de Carlos Santos para esquerda.net

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Post Bottom Ad

Pages