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sexta-feira, 23 de maio de 2014

20 anos com transgênicos: Teorias da conspiração ou realidade planificada?

Por Henk Hobbelink (GRAIN)* | Biodiversidad 

Eu ainda me lembro perfeitamente. Foi há mais de vinte anos atrás. Estava em um debate público, onde também estava um representante da Monsanto - empresa que então apenas estava começando a espreitar o mundo de sementes e transgênicos. O tipo enumerou uma lista de promessas que a biotecnologia traria aos agricultores e à alimentação: mais produção, menos produtos químicos, mais diversidade e menos fome. E eu pergunte: por que uma empresa como a Monsanto faria sementes que exigem menos agrotóxicos se é com os agroquímicos  com o que mais ganha a empresa agora?

Eu não me lembro agora a sua resposta (o mais provável é que ele não foi muito convincente), mas eu me lembro que durante todo o tempo disse a mim mesmo: "Henk , pare aqui! Não os acuse de que no futuro eles vão produzir sementes que necessitem de mais agroquímicos! Deixe as teorias da conspiração. Não temos dados que mostrem e além do mais nenhum fazendeiro iria comprar essas sementes".

Poucos anos depois, nós fomos capazes de publicar a primeira lista de 69 projetos de pesquisa, incluindo vários da Monsanto tentando conseguir exatamente isso: produzir sementes tolerantes a herbicidas para pulverizar mais. E, em 1994, a primeira edição da revista Biodiversidade ostentou um gráfico mostrando uma vez mais a pesquisa transgênica indo nessa direção. Agora, vinte anos depois, quase não existe sementes transgênicas que não tenham incorporada uma tolerância a herbicidas. Era simplesmente uma oportunidade muito boa para a indústria  deixasse escapar. Às vezes, as teorias da conspiração são verdadeiras.

O que quero dizer com isto. Que algumas tecnologias em mãos do capital são ferramentas perfeitas para transformar o sistema alimentar em algo que a indústria controle e permita extrair mais lucros. E para aqueles que estão preocupados com o futuro do campesinato, este é o mais grave impacto dos OGM. É uma tecnologia que permite criar e controlar mega-fazendas industriais que lançam pessoas fora de suas áreas e destroem a agricultura camponesa. Metade das terras agrícolas na Argentina agora é plantada com soja industrial pulverizada por aeronaves, um desenvolvimento que a indústria não teria feito sem essa tecnologia.

Às vezes nos envolvemos em discussões "sim-não" sobre se os OGM são bons ou ruins para o alimento, se eles têm potencial para criar inovações interessantes para os agricultores de "segunda geração"; se há soja "sustentável", se é bom se Syngenta doe algumas de suas licenças exclusivas para os países pobres. Ou se nós podemos criar sistemas de imagem 'sui generis' para amenizar de alguma forma o controle rígido que fizeram as corporações com seus sistemas de patentes (que por sinal, este era um outro artigo na revista número um da Biodiversidade).

No fundo são as discussões que às vezes distrai-nos (ou nos hão distraído) do que deveria ser o nosso primeiro objetivo: parar o agronegócio e lograr que os camponeses e os agricultores possam viver dignamente da terra e alimentar o mundo.

* Henk Hobbelink é fundador da GRAIN e seu coordenador-geral

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