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sábado, 10 de maio de 2014

Lento crescimento dos EUA confirma estancamento secular

Produto Interno Bruto dos EUA cresceu a uma taxa anual de 0,1% no primeiro trimestre, longe do 1,1% que esperava o mercado. Este fato confirma a debilidade que atravessa a economia mundial. Por Marco Antonio Moreno, El Blog Salmón.

O crescimento dos Estados Unidos estancou nos três primeiros meses do ano demonstrando mais uma vez que a expansão econômica depois da crise 2008/2009 continua a ser a mais fraca da história moderna. O Produto Interno Bruto cresceu a uma taxa anual de 0,1% no primeiro trimestre, longe do 1,1% que esperava o mercado. Este fato confirma a debilidade que atravessa a economia mundial e traz de volta uma antiga preocupação da investigação econômica: o estancamento secular.
Como apontamos noutros posts (ver aqui aqui), o déficit crônico do investimento, impulsionado pela debilidade da procura e do consumo, está a implicar uma desaceleração global da economia. O volume da atividade econômica nos países desenvolvidos continua a ser muito deprimido e o que se observa é um estancamento econômico persistente. Os baixos salários, a alta dívida pública e privada e a queda do investimento – apesar de a taxa de juros estar em mínimos históricos – criam um cenário ao estilo japonês, com uma “década perdida” para o mundo.
Como demonstrou a crise nipônica, não é fácil escapar a uma década perdida. O ocidente minimizou o problema, pensando que se resolvia com uma série de agressivas políticas monetárias e fiscais. E agora, que sofre da mesma doença, tentou aplicar a mesma receita, obtendo o mesmo fracasso macroeconômico. Apesar de os bancos centrais se excederem nas suas funções, os resultados da sua “generosidade” têm sido decepcionantes. As baixas taxas de juros sempre incubaram a crise seguinte e desta vez não há motivo para que seja diferente.
Os bancos centrais, que durante décadas fizeram do controle da inflação o seu único objetivo de política, veem agora com frustração como grande parte da “eficácia” das suas políticas era produto da sustentada redução dos salários e do crescente aumento da desigualdade. A política monetária dos banqueiros centrais e a manipulação da taxa de juros sempre deu benefícios aos donos do capital, porque com preços fixos o capitalista obtém amplas vantagens para a criação de bolhas e a inflação do valor dos ativos.
Esquema “ponzi” permanente
Muito antes da explosão da crise 2008/2009 sabia-se que as bolhas eram a única via para as economias ricas poderem manter o crescimento e o emprego. O estouro das bolhas demonstrou que o capitalismo precisa de crescentes expansões monetárias e daí a elaboração constante de esquemas “ponzi” para se manter à tona. O endividamento privado das famílias e das empresas foi o principal motor da economia nos últimos 60 anos. Este gráfico do endividamento dos lares em comparação ao PIB nos Estados Unidos confirma que o capitalismo precisa sempre de nova dívida para manter uma economia estável.
As áreas cinzentas indicam as recessões dos EUA
As áreas cinzentas indicam as recessões dos EUA
Este gráfico mostra-nos que o endividamento se manteve sempre crescente, apesar dos vai-vens ou choques na taxa de juros da Reserva Federal. A queda de 1981, quando Paul Volcker elevou a taxa de juros para os 20%, foi minúscula em comparação à queda que sofre o nível de endividamento desde que começou a crise 2008/2009. A descida das taxas de juros para 0,25% não significou uma retomada do investimento, dado que os investidores recebem melhores benefícios no casino da bolsa e isso fez disparar as bolhas bolsistas. Para incentivar o investimento produtivo e gerar emprego, as taxas de juros reais deveriam ser negativas, de -2% ou -3%, o que com uma inflação de 0,5% ou 1% se torna inalcançável.
O estancamento secular
A hipótese do estancamento secular foi popularizada pela primeira vez por Alvin Hansen, economista e discípulo de John Maynard Keynes. Em 1938, e depois do fraco reanimamento econômico da crise 1929/1933, Hansen vislumbrou que uma desaceleração do crescimento demográfico e do progresso tecnológico reduziria oportunidades de investimento. O crescimento se desabaria a não ser que os governos pedissem emprestado e passassem a incentivar a procura. Depois da Segunda Guerra Mundial, veio um auge no crescimento demográfico, do crescimento global e os Estados Unidos converteram-se na primeira potência econômica. O interesse nesta hipótese desapareceu.
A hipótese do estancamento secular de Hansen voltou novamente ao debate por causa da queda do investimento, que ocorreu apesar da tendência decrescente das taxas de juros. Desde há mais de uma década, o rendimento dos bônus da dívida soberana caiu e desde a explosão da crise de 2008/2009 o endividamento privado também se contraiu. É isto que explica o alto risco que atravessa a banca, já que as injeções de liquidez derivaram em investimentos especulativos que têm feito crescer as bolhas de ativos, tal como antes da crise.
Uma explicação para o processo de estancamento secular que atinge a economia é a desalavancagem a que recorre grande parte das instituições financeiras e empresas privadas. Todos parecem ter chegado aos seus máximos níveis de endividamento, o que leva a que agora ponderen os riscos de um desmedido crescimento da dívida. Daí também que o estancamento ameace ser um fenômeno prolongado. Uma economia acostumada a crescer pela via do endividamento tem de mudar de paradigma quando os antigos modelos fracassam.
3 de maio de 2014
Tradução de Luis Leiria para a o Esquerda.net

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