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quinta-feira, 15 de maio de 2014

‘O Capital no século XXI’: Desmonte das teses liberais e da economia neoclássica

O autor do Capital no século XXI [Capital in the Twenty-First Century] desmonta as teses liberais clássicas. Piketty bate de frente com a premissa da economia neoclássica baseada em Adam Smith e David Ricardo, que considera que a distribuição da riqueza é um tema secundário do crescimento e que em “economias maduras” (desenvolvidas) a desigualdade se reduz naturalmente. Esta tese se baseava na chamada curva de Simon Kuznets, que postulava que embora as economias fossem muito desiguais na primeira etapa da industrialização, tornar-se-iam mais igualitárias com o tempo, em virtude de um processo de amadurecimento intrínseco, resultado do crescimento.
Kuznets sustenta a tese de que a lacuna da desigualdade inevitavelmente encolhe na medida em que as economias se desenvolvem e se tornam sofisticadas. O economista bielorrusso fez uso das informações disponíveis à época para mostrar que, embora as sociedades se tornassem mais desiguais nos primeiros estágios da industrialização, esta desigualdade diminuiria na medida em que elas alcançassem a maturidade.
Tal “curva de Kuznets” fora aceita pela maioria dos profissionais de economia até Piketty e seus colaboradores produzirem as provas para mostrar que isso era falso. Na verdade, a curva vai exatamente na direção oposta: o capitalismo começou desigual, achatou a desigualdade durante grande parte do século XX, mas atualmente está voltando em direção aos níveis dickensianos de desigualdade no mundo.
Kuznets desenvolveu sua hipótese nos anos 1950 e 1960, no mesmo período em que o capitalismo gozou de seus “25 anos dourados” (1947-1973), em que o crescimento chegou a 4,5% anualmente. Segundo Piketty, este período é uma exceção em razão de fatores históricos aleatórios e institucionais. “A grande crise de 1914-1945, com a destruição de capital pela inflação, as duas guerras mundiais e a Grande Depressão, somado a mudanças institucionais, como a criação do Estado de Bem-Estar, reverteram um pouco o processo de crescente desigualdade que víamos desde a revolução industrial”, disse ele ao jornal The New York Times.
Piketty analisou a evolução de 30 países, durante 300 anos e diz que caso se analise o período de 1700 até 2012, percebe-se que a produção anual cresceu em média 1,6%. Ao contrário, o rendimento do capital foi de 4 a 5%”.
Soluções no próprio terreno do capitalismo
O forte do livro de Thomas Piketty é demonstrar que a desigualdade não é um acidente, mas uma característica inerente ao capitalismo. Aqui ele se aproxima de Marx. A obra de Piketty, entretanto, diferentemente de O Capital de Marx, contém soluções no próprio terreno do capitalismo. A crítica de Marx ao capitalismo não era sobre a distribuição, mas sobre a produção. Para Marx, não seria o aumento da desigualdade, mas sim uma ruptura no mecanismo de lucro que levaria o sistema a seu fim. Já a abordagem de Piketty não é destruir o capitalismo, mas reformá-lo através de forte intervenção estatal via tributação da riqueza financeira-patrimonial.
Nessa perspectiva, a solução proposta por Piketty é tributar os muito ricos. “O que defendo é um imposto progressivo, um imposto global, com base na taxação da propriedade privada. Esta é a única solução civilizada”, diz ele.
Quando comecei, diz Piketty, “simplesmente coletando dados, fiquei realmente surpreso pelo que encontrei: que a desigualdade está crescendo tão rapidamente e que o capitalismo não pode, aparentemente, resolvê-la. Muitos economistas começam pela maneira inversa, fazendo perguntas sobre a pobreza, mas eu quis entender como a riqueza, ou a extrema riqueza, está contribuindo para aumentar a lacuna da desigualdade. E o que percebi é que, como dito antes, a velocidade na qual a lacuna da desigualdade cresce está ficando mais e mais rápida. É preciso perguntar o que isso significa para as pessoas comuns, que não são bilionárias e que jamais irão ser bilionárias. Ora, eu acho que isso significa uma deterioração na primeira instância do bem-estar econômico do coletivo, em outras palavras: a degradação do setor público (…) Há uma crença fundamentalista por parte dos capitalistas de que o capital salvará o mundo, e isso simplesmente não é o caso. Não por causa do que Marx disse sobre as contradições do capitalismo, pois, como descobri, o capital é um fim em si e nada mais”.
No caso americano, “ele propõe um imposto de 80% sobre os rendimentos acima de 500 mil dólares ao ano nos EUA, assegurando que não haveria nem uma fuga de grandes executivos, tampouco uma desaceleração do crescimento, uma vez que o resultado seria simplesmente suprimir tais rendimentos”.
A análise da Conjuntura da Semana é uma (re)leitura das Notícias do Dia publicadas diariamente no sítio do IHU. A análise é elaborada, em fina sintonia com o Instituto Humanitas Unisinos – IHU, pelos colegas do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores – CEPAT e por Cesar Sanson, professor na Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. Esta análise contou também com a contribuição de André Langer, professor na Faculdade Vicentina – FAVI. de Curitiba-PR.
publicado pela IHU On-line

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