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terça-feira, 17 de junho de 2014

Sobre o espaço público – momento físico e virtual

Compreender o espaço público implica, visualizar o espectro do qual faz parte, o das relações sociais onde se intercambia a informação e as decisões são tornadas públicas. É por esta razão que alguns pesquisadores têm colocado na mira novas formas de construir relações e, portanto, novas dimensões de espaço público. Este é o caso de Manuel Castells, que amplia a definição e nos ajuda a estabelecermos um espaço mais simbólico do que formal.

Por: Rosalba González Loyde
O novo espaço público é articulado na intersecção entre o físico e o virtual. Vivemos em um mundo de virtualidade real, não a realidade virtual. A virtualidade é uma parte essencial de nossas vidas. Não podemos pensar nossa vida fora da rede. A comunicação é o centro da vida. O mais importante é que a rede é verdadeiramente essencial. (Castells: 2013).

Para Manuel Castells, as novas formas de comunicação através da internet, fazem com que o espaço público flerte entre o físico e o virtual e alimente-se de ambos os espectros. Então, os protestos públicos iniciados em um espaço público virtual tem a sua resposta em um espaço público físico, ou vice-versa. Mas não é Castells o primeiro que põe sobre a mesa o elemento da virtualidade nas relações humanas em relação à informação, McLuhan já expressava em sua aldeia global essas formas em que as culturas tinham conhecimento do outro através de redes de informação (1989), no entanto, para este autor o fluxo de informação transformaria as relações sociais locais a nível global.

A ideia de McLuhan, da aldeia global, de que toda a cultura se engloba em um sistema de comunicação que ultrapassa as especificidades locais, particularidades, identidades, etc. É quase uma ideia de um governo mundial, em que tudo desaparece, somos todos irmãos e irmãs, e, a partir de agora, as culturas se fundem em uma espécie de universo indiferenciado. (Castells, 1998).

A relação entre o fluxo de informação com o espaço público é intrínseca, no entanto, enquanto a abertura do conhecimento por meio virtual (Internet) tenha sido por um lado um avanço positivo também se encontra o lado oposto. Neste sentido, Mark Poster faz uma atualização contemporânea do panóptico foucaultiano, onde o centro das atenções para quem vigia deixa de ser espacial e se torna um tipo de informação; um banco de dados.

Nossos corpos estão conectados a redes, bancos de dados, auto-estradas da informação, por esta razão [os corpos] já não servem mais como refúgio onde um não possa ser observado nem um bastião em torno do qual se pode construir uma linha de resistência. (Poster, 1995: 284).

Para Zygmunt Bauman a analogia do panóptico de Foucault com o de Porter resulta superficial, ele garante que, enquanto no primeiro os monitorados estão sujeitos e se lhes impõe uma conduta "rotineira e monótona", os segundos, em oposição, têm um "privilégio" de estar dentro e que sejam eleitos como potenciais consumidores (Bauman, 2001: 69). Este processo de seleção leva a que a vida pública nestas redes de informação seja limitada e setorial, então o fator de heterogeneidade e o conflito, mencionados linhas acima, não sendo presentes não causam nenhuma troca e, portanto, não há um processo público/político no site. Lipovetsky, em seu ensaio sobre pós-modernidade, investiga esse fenômeno no qual o mercado conseguiu penetrar nos espaços públicos virtuais usando as informações do usuário, transformando-os novamente em consumidores.

Aparentemente, de acordo com a visão pós-moderna francesa, que qualquer tendência pública de um espaço, seja físico ou virtual, está se tornando um espaço de consumo. Desta forma a publicidade de um site vai anunciar o conceito habermasiano da palavra para o mercadológico.

Momento Público

Pensar então se o espaço público/site é o que define sua publicidade entra em uma nova polêmica. Neste tema um coletivo que produz pesquisa sobre questões urbanas na cidade do México (Proyector) colocou em cima da mesa o conceito de "momento público" (González e Palacios Loyde Lagarde: 2014). Para esses autores, existe um erro dado a respeito de categorizar sem questão alguma que o espaço define o público, no entanto, em um processo mais temporal, os espaços não podem ser impositivos sob sua nomenclatura, mas sim que são definidos pelos usuários; assim, os espaços abertos não são públicos, por si só, mas os momentos ou eventos que transformam o uso do espaço e os define e classifica-os em um dado momento histórico.

Se encontrarmos um lugar - e talvez haja - onde a liberdade é realmente exercida, descobriríamos que não é devido à natureza dos objetos, mas, repito mais uma vez, graças à prática da liberdade (Foucault, 2013: 147)

O exercício da liberdade, como o do poder, não é promovido apenas pelo espaço, mas pelo uso que se faz dele. Assim a esfera pública de Habermas não é expressa no terreno, mas nos momentos em que se intensificam as relações sociais resultado de acontecimentos políticos. Então, os espaços (físico e virtual) se projetam sobre o público.
            
O momento público está em relação com um outro conceito sobre o inacabado na cidade, ou seja, a um ponto em que tudo está em constante mutação, a cidade como uma esfera pública tem a capacidade de produzir novos itens de cada vez e gerar soluções através dos conflitos dados em tais alterações.

A cidade como um espaço flexível relacionado com a plasticidade que, dentro da neurociência, define a transformação das estruturas cognitivas por meio de aquisição de informações e prática de novos conhecimentos, é um espaço textual em que as anotações e observações, notas de rodapé e elementos sublinhados ou excluídos por seus leitores/editores, igualmente fragmentário, sempre inacabado fala sobre a vida imersa na complexidade, aquela existência em que o conflito representa a possibilidade do habitar político, as mutações formam expressões de vitalidade e o constante estado de crise é motivador da emergência. (González e Palacios Loyde Lagarde: 2014)

Então, falamos de um processo dialético entre a sociedade e o espaço, onde a multiplicidade de usos, a heterogeneidade dos indivíduos que confluem nela para serem partícipes de processos de negociação e participação fazem que um espaço seja público. Isso também nos ajuda a diferenciar a ideia de uma espécie de momentos públicos falsos, onde o que reúne a sociedade em torno de algo de caráter espetacular e que não se destina a promover a própria vida pública.
Bibliografia
Castells, Manuel (2013),  “Manuel Castells: ‘El cambio está en la mente de las personas’”, entrevista enSsociólogoshttp://ow.ly/x7qUo.  
McLuhan, Marshall y Powers, B.R. (1989), La aldea global, Barcelona, Gedisa editorial.
González, Rosalba y Palacios, José María y, “El valor de lo inacabado en la ciudad” en revista electrónica Proyector, http://bit.ly/1jHxZDV
Foucault, Michel (2013), El poder, una bestia magnífica. Sobre el poder, la prisión y la vida, Siglo XXI editores, México.
Bauman, Zygmunt (2001), La globalización. Consecuencias humanas, Fondo de Cultural Económica, México. 


Sobre a autora:

Rosalba González Loyde

Rosalba González Loyde (Ross Loyde). Professora de Jornalismo na Facultad de Ciencias Políticas y Sociales de la Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM). Suas linhas de investigação estão relacionadas com urbanismo, periodismo y análises do discurso. Atualmente também  é editora do blog do coletivo Proyector, o qual realiza investigação independente em temas de urbanismo, cidadania, espaço público, entre outros. (@LaManchaGrisDF)

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