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segunda-feira, 30 de junho de 2014

Zygmunt Bauman, um esperançoso contra a desigualdade

O ensaísta polonês explica as características atuais de desigualdade e a injusta distribuição da riqueza, em uma pirâmide social global que aumenta sua base  a cada dia. 

POR Nuria Escur 


-Gostaríamos de saber mais sobre você do que de suas ideias, mas não sei se são inseparáveis. É muito ou pouco consumista? 

-Não se pode escapar do consumo, az parte de seu metabolismo! O problema não é o consumo, é o desejo sem fim de consumir ... Desde o Paleolítico os humanos buscam a felicidade ... mas os desejos são infinitos. As relações humanas são sequestradas por esta mania de se apropriar de quanto mais coisas mais melhor. 

-No domingo de manhã as famílias britânicas não vão à igreja, vão ao shopping. É esta a nossa nova igreja? 

-Eu sou muito cauteloso quando se compara o consumismo com a religião. A religião é uma transgressão, leva você além de sua vida. Nos Estados Unidos, antes,  a tradição era que se reunia a família se reuniria à mesa para comer e conversar. Nos últimos anos isso só faz 20% das famílias! 

- Tem mudado essa ideia de família nuclear? 

-Sim, era uma interação física. Agora, no entanto, toma-se um lanche, sentado em frente ao computador e come. Os seres humanos hoje gastam sete horas e meia na frente de telas. Se você não está interessado em interagir com alguém da rede aperta um botão e adeus. 

-Nos relacionamentos humanos não é tão fácil de desligar. 

-O corpo a corpo te obriga a confrontar-se com a diferença. Gerenciar os sentimentos, trabalhar isso. Um efeito colateral dessa dissociação é que ela perdeu a vontade de trabalho "bem feito" nas relações. Perdemos a capacidade de se relacionar com o devido cuidado. 

-Pertencem à espécie do Homo eligens, "o animal que você escolher", lembra-nos em "A riqueza de uns poucos benefícios a todos nós?" Se te mandam, para você escolher; se você escolher, renuncias. Como fica Bauman?: Mandar sobre sua vida, logo, escolher ou obedecer? 

-Escolhes se te deixam. A liberdade é mais uma ideia do que um exercício, que também, porque  só sou livre na medida em que eu possa agir em minha vida, sem interferir com as liberdades de outrem. 

-O que quer que você escolha muda o contexto. 

-Porque muda a liberdade dos outros. O importante é ter a oportunidade de exercê-la. Atualmente existe apenas um grupo muito pequeno de homens livres e uma grande massa que fica fora do jogo. 

-As classes médias estão perdendo terreno e alguns delas estão se tornando proletariado, uma classe que você chama de "precariado". 

-Lamento não ter lido o último livro de Thomas picketty antes de escrever o meu porque cita coisas interessantes. Por exemplo, que os direitos humanos os temos herdado desde a Revolução Francesa. Nosso horizonte, o que marca a distribuição da riqueza, deveria ser o do bem comum. Os ricos atuam com toda essa  riqueza - a maioria herdaram - com absoluta impunidade. Eles acreditam que s nunca poderão quebrar. 

-As 85 pessoas mais ricas do mundo entesouraram o equivalente a 4 bilhões das pessoas mais pobres. Qual é a pessoa pobre mais feliz que conhece e a rica mais infelizes com que topara? 

- Oh! É muito difícil encontrar uma pessoa feliz entre os ricos. Bem, então vamos começar com aqueles que nada têm. 

-A pessoa pobre que tem café da manhã, almoço e jantar ... espero que seja automaticamente feliz. Naquele dia, alcançou o seu objetivo. O rico - cuja tendência obsessiva é enriquecer mais - acostuma-se a entrar em um ciclo de enorme infelicidade. A grande perversão do sistema é que os ricos acabam sendo escravos. Nada os satisfaz, se colapsam, catástrofe! 

Diz que vivemos a "síndrome de impaciência." Podemos escapar do desastre com instrumentos como o Movimento Slow?

-O problema não está no ritmo das coisas, embora o movimento Slow pareça-me muito interessante, mas devemos mudar totalmente o nosso estilo de vida. No meu país, 50% dos alimentos acaba no lixo, um pouco antes de se retirar a embalagem! Estamos jogando a sustentabilidade do planeta, nós somos  predadores. 

-Participou da II Guerra Mundial,  lutou com o exército polonês, trabalhou para os serviços de inteligência ... Qual foi o pior momento de sua vida e como conseguiu se recuperar? 

-No final, a vida não é um campeonato de futebol, onde você pode dizer "olha, esse jogo foi o pior." Mas eu vou responder com uma anedota que pode parecer evasiva, mas não é. Certa vez, o grande poeta Goethe, quando tinha quase a minha idade foi entrevistado por Eckermann. "Diga-me, você teve uma vida feliz?" Ele perguntou. E Goethe disse: "Bem, olha, sim, eu tive uma vida feliz. Agora não me pergunte se eu tive uma semana feliz."

- Então, a felicidade não é a soma dos momentos de felicidade, como alguns dizem? 

Não, a felicidade é a alegria que dá ter superado os momentos de infelicidade. Conseguir transformar seus conflitos, porque sem conflito nossas vidas, a minha vida teria sido um furo real. 

Quando analisa dois totalitarismo - nazismo e comunismo - conclui que os nazistas eram criminosos, mas não hipócritas. Executavam o que proclamavam. "O comunismo, no entanto, acrescenta, era um reduto de hipocrisia." Já não é comunista,segue sendo de esquerda? 

-Eu sou  socialista. Na verdade, os nazistas eram transparentes: eles queriam infligir o mal e eles fizeram. Não há espaço para dúvida. O comunismo sim foi uma grande farsa, nos fraudou. Albert Camus avisou: o comunismo é o mal sob slogans do bom. Por isso, no Comunismo surgiu a real rebelião intelectual. 

- Desilusão, então, foi o resultado da grande estafa comunista? 

-Com certeza. Trouxe decepção e dissidência. Há igualdade?, Bem, foram alcançadas algumas taxas. Mas a liberdade? Nada. E fraternidade? Menos ainda! Essa era a sua grande contradição.
La Vanguardia

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