Segundo a CEMIG, hoje entram 27 m3/s de água em Três Marias e saem
158,6 m3/s. Se não chover em um mês o rio São Francisco irá cortar num
trecho de 40 km. Será a primeira vez em sua história conhecida.
Dizem os estudiosos que há milhões de anos atrás o São Francisco
corria para o norte e desaguava no delta que hoje é do Parnaíba. A rota
mudou a partir de Pilão Arcado. Dali ele ia para o Piauí. Mudanças
geológicas alteraram o curso do rio e ele desceu na direção do que hoje é
Remanso, indo desaguar entre Alagoas e Sergipe.
Dilma esteve nas obras da Transposição, como que inaugurando algum
trecho, assim ganhar votos com a promessa da água abundante. Não teve
coragem de visitar o São Francisco, nem dar uma única palavra aos 13
milhões de brasileiros que estão vendo seu rio morrer a cada instante.
Aliás, em 4 anos de governo, Dilma manteve-se absolutamente infensa às
demandas da população ribeirinha e do próprio rio.
Aécio, o governador de Minas, que não mexeu uma palha em defesa de
seus municípios mais prejudicados, também disse que vai concluir a
Transposição. Ótimo. Só não diz como vai abastecer os dez municípios de
seu estado que estão praticamente sem água. Assim, o santo vai fazer
milagre em território alheio, mas como todo santo, não cuida dos deveres
básicos de seu território.
E Marina? Esteve no Ceará e falou que vai concluir a Transposição.
Num evento de educadores católicos em Brasília misturou a Transposição
com o Bolsa Família, FIES e disse que vai concluir a obra. Não falou uma
única palavra sobre o São Francisco.
Nenhum deles citou a revitalização e nenhum deles cita a situação
crítica da água em todo território brasileiro. O desespero da população
de Itu, já ameaçando invadir a câmara de vereadores local é apenas o
prefácio das revoltas que se instalarão por todo país caso o milagre das
chuvas – como é bom ver as corporações técnicas e políticas invocando
São Pedro! – não lhes salvar a pele. Porém, o retorno das chuvas apenas
aliviará a tragédia, mas o problema retornará cada vez mais constante e
severo, ainda mais com as mudanças climáticas em andamento. Vamos pagar
um preço incalculável pela exploração predatória de nossos rios.
Assim, seja qual for o eleito, se o São Francisco depender de alguma
política pública – e tantos outros rios brasileiros -, a finalização de
seu assassinato é questão de tempo.
Roberto Malvezzi (Gogó),
Articulista do Portal EcoDebate, possui formação em Filosofia, Teologia
e Estudos Sociais. Atua na Equipe CPP/CPT do São Francisco.
EcoDebate, 25/09/2014
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