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sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Cúpula do Clima da ONU: só teatro ou fatos concretos?

Para além de mais promessas, o que se pode esperar realmente de uma Cúpula que provavelmente não durará mais do que 12 horas? 

Artigo de Thalif Deen, da IPS.


Cartaz da manifestação do próximo domingo em Nova Iorque, que pretende ser a maior de sempre a reclamar ação dos Estados contra as alterações climáticas.
























A tão comentada Cúpula do Clima, que acontecerá no final deste mês, é apresentada como um dos grandes acontecimentos político-ambientais da Organização das Nações Unidas (ONU) para 2014. O seu secretário-geral, Ban Ki-moon, pediu aos mais de 120 governantes e empresários que participarão da Cúpula de um único dia, 23 de setembro, que anunciem iniciativas significativas e substanciais, com promessas de fundos incluídas, “para ajudar o mundo a avançar por um caminho que limite o aquecimento global”.
No dia 21, dois dias antes da Cimeira, centenas de milhares de pessoas farão uma manifestação contra as alterações climáticas em cidades de todo o mundo. “Nesse dia, estaremos nas ruas de Nova Iorque como parte da maior marcha climática na história, que enviará uma mensagem forte e clara para que os líderes mundiais ajam agora”, explicou Martin Kaiser, líder do projeto Política Climática Mundial, do Greenpeace.
Segundo a ONU, a Cúpula será a primeira ocasião em cinco anos em que os líderes do mundo se reunirão para discutir o que se classifica de desastre ecológico: as alterações climáticas. Entre as repercussões negativas do aquecimento global estão a elevação do nível do mar, padrões climáticos extremos, acidificação dos oceanos, derretimento de geleiras, extinção de espécies da biodiversidade e ameaças à segurança alimentar mundial, alerta a organização.
Mas o que se pode esperar realmente da conferência deste mês, que provavelmente não durará mais do que 12 horas?
“Um acontecimento de um dia não poderá nunca resolver tudo o que se relaciona com a mudança climática, mas pode ser um ponto de inflexão para demonstrar uma renovada vontade política de agir”, opinou Timothy Gore, diretor de políticas e pesquisa da campanha Crecede Oxfam International. Alguns líderes políticos aproveitarão a ocasião para fazer isso, mas muitos “parecem decididos a manterem-se afastados dos compromissos transformadores necessários”, acrescentou.
Segundo Gore, a Cúpula foi pensada como uma plataforma para os novos compromissos de ação em matéria climática, mas existe o risco real de estes não serem grande coisa. “O enfoque colocado nas iniciativas voluntárias em lugar dos resultados negociados significa que não há garantias de que os anúncios que forem feitos na Cúpula serão suficientemente sólidos”, acrescentou.
Espera-se que o Fundo Verde para o Clima mobilize anualmente cerca de 100 bilhões de dólares no Sul em desenvolvimento até 2020, segundo a ONU, mas ele ainda não recebeu os fundos que serão entregues aos países em desenvolvimento para que possam implantar as suas ações climáticas.
“No dia 23 de setembro veremos como os líderes mundiais não estão à altura do que necessitamos para lidar com a perigosa mudança climática”, declarou à IPS Dipti Bhatnagar, da Amigos da Terra Internacional e da Justiça Ambiental, de Moçambique. As “promessas” que os governos e as empresas farão na Cimeira do Clima serão extremamente insuficientes para abordar a catástrofe climática, sublinhou a ativista.
“A ideia de os governantes assumirem compromissos voluntários e não vinculantes é um insulto para centenas de milhares de pessoas que morrem a cada ano pelos impactos da mudança climática”, afirmou Bhatnagar. “Necessitamos que os países industrializados assumam objetivos de redução de emissões equitativos, ambiciosos e vinculantes, não um desfile de governantes que querem causar boa impressão. Mas este desfile falso é só o que vamos ver nesta Cimeira de um dia”, opinou.
No dia 21, dois dias antes da Conferência, centenas de milhares de pessoas farão uma manifestação contra as alterações climáticas em cidades de todo o mundo. “Nesse dia, estaremos nas ruas de Nova Iorque como parte da maior marcha climática na história, que enviará uma mensagem forte e clara para que os líderes mundiais ajam agora”, explicou Martin Kaiser, líder do projeto Política Climática Mundial, do Greenpeace.
Kaiser sugeriu que as empresas devem anunciar datas concretas a partir das quais operarão com 100% de energia renovável. Além disso, “os governos devem comprometer-se a eliminar gradualmente os combustíveis fósseis até 2050 e tomar medidas concretas, como acabar com o financiamento das centrais elétricas movidas a carvão”, destacou. “Também esperamos que os governos anunciem dinheiro novo e adicional para o Fundo Verde para o Clima, a fim de ajudar os países vulneráveis a se adaptarem aos desastres climáticos”, afirmou.
“Precisamos que o Norte industrial entregue fundos públicos seguros, previsíveis e obrigatórios ao Sul em desenvolvimento por intermédio do sistema da ONU”, disse Bhatnagar, da Amigos da Terra Internacional. Os líderes dos países industrializados estão a descuidar a sua responsabilidade para evitar as catástrofes climáticas, impulsionados pelos estreitos interesses econômicos e financeiros das elites ricas, da indústria dos combustíveis fósseis e das corporações transnacionais, acrescentou.
“O que se necessita para deter a mudança climática são objetivos de redução de emissões equitativos, ambiciosos e vinculantes dos países desenvolvidos, junto com a transferência de fundos e tecnologia aos países em desenvolvimento. Também precisamos de uma completa transformação dos nossos sistemas de energia e alimentos”, enfatizou Bhatnagar.
Nesse sentido, é preciso maior transparência para decidir se os anúncios feitos são coerentes com as últimas conclusões científicas sobre o clima e se protegem os interesses dos mais vulneráveis diante dos impactos climáticos, detalhou Gore. Em relação ao papel do setor privado, “precisamos que os empresários combatam as alterações climáticas, e estão a surgir bons exemplos de empresas que estão à altura da ocasião”, acrescentou.
No setor de alimentos e bebidas, por exemplo, a Oxfam trabalhou com companhias como Kellogg e General Mills para que estas assumam compromissos de redução das emissões das suas cadeias de fornecimento agrícola, extremamente contaminantes. “Mas, em geral, essa Cúpula mostra que há muitas partes do setor privado que ainda não estão à altura, já que as iniciativas que serão apresentadas não cumprem com a  transformação que precisamos”, destacou Gore.
“Isso serve para recordarmos a importância fundamental que tem a forte liderança governamental na mudança climática. As iniciativas voluntárias de baixo para cima não são um substituto da ação real do governo”, afirmou Gore.
Artigo publicado no portal da IPS

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