Nos últimos dias, a imprensa nacional vem noticiando o grave erro
cometido pelo IBGE no calculo de dados da Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios (PNAD) de 2013. Como resultado, foram divulgados
indicadores incorretos. Dentre eles, o índice que mede a desigualdade,
que na divulgação inicial apontava para o aumento desta. Curiosamente,
em vésperas de uma eleição presidencial, cuidou-se às pressas de
informar que havia um erro e que a desigualdade não havia aumentado. Com
a correção, o que haveria, seria uma leve queda. O fato vem a ratificar
o fundamento das denúncias feitas pelos servidores do IBGE,
recentemente, durante a greve que durou quase três meses. Eles cruzaram
os braços em sinal de protesto para denunciar o grave quadro de
sucateamento que hoje se verifica na instituição. Os sucessivos cortes
orçamentários acabaram sendo refletidos em condições de trabalho que
pioraram a cada dia. Tal situação passou a comprometer, inclusive, a
qualidade das pesquisas, o que culminou com o movimento grevista. A
direção do IBGE negou o fato de a instituição estar mergulhada em uma
crise e pouco dialogou com os grevistas durante o movimento. E ainda, em
uma tentativa desesperada de contê-lo, demitiu, no Brasil inteiro, 189
servidores temporários que haviam aderido à greve. Dentre os demitidos,
estavam 35 do Rio Grande do Norte, incluindo uma servidora grávida e um
servidor portador de necessidades especiais. A greve chegou ao seu fim
após negociação entre o sindicato nacional dos servidores e a
presidência da instituição. Esta, numa atitude intransigente e
irredutível, não aceitou readmitir administrativamente os servidores
demitidos. O argumento utilizado foi o de que a questão estava
judicializada, nada mais havia a ser feito pelo IBGE.
Alguns
dias após o retorno ao trabalho, a presidência noticiou internamente que
o IBGE não realizaria as atividades censitárias previstas para 2016,
pois a instituição sofrera de um novo corte orçamentário do governo,
desta vez em 76% dos seus recursos previstos. Estas mesmas atividades já
haviam sido adiadas em um ano, também por falta de orçamento. Deixar de
realizar a pesquisa “carro-chefe” da casa, vitrine do IBGE para a
sociedade, evidencia o que já fora denunciado pelos seus servidores
durante o recente movimento grevista. Os fatos comprovam que a
instituição vive um momento ímpar de crise institucional e que a direção
apenas assiste inerte aos cortes do governo, permitindo o cancelamento
de pesquisas importantes e ainda divulgando dados de pouca
confiabilidade, diante das condições oferecidas aos servidores para
desempenhar as suas atividades.
Durante a greve, no Rio Grande
do Norte, foram feitas reivindicações que foram além da pauta nacional.
A representação local do sindicato protocolou junto à chefia estadual
do IBGE, um ofício com pauta local de reivindicações dos servidores.
Foram listados itens de competência do gestor local para que ele
apreciasse e discutisse sobre o atendimento. Ocorre que a pauta não foi
sequer discutida com os servidores. O chefe da Unidade Estadual do IBGE
no RN, também fechou os olhos para a crise e em represália aos grevistas
demitiu 35 servidores temporários que estavam no movimento.
Encerrado
o movimento de greve, um grupo de servidores da instituição no estado,
motivados por sua discordância com o atual modelo de gestão do IBGE em
nível local e nacional, entregou seus cargos de supervisão e
coordenação. A entrega também manifesta o sentimento de repúdio destes
servidores em relação às situações graves de desrespeito e afronta ao
direito, à ética e à justiça presenciadas durante o recente movimento
grevista vivenciado na Instituição. Em mais uma atitude intransigente, o
gestor local não abriu o dialogo com os supervisores e coordenadores. O
natural seria avaliar o que poderia ser atendido para que todos se
mantivessem nos cargos, visto que esta entrega significa a interrupção
nos trabalhos desenvolvidos por estes servidores, o que certamente se
refletirá na qualidade dos dados coletados, se propagando na cadeia
subsequente de tratamento, análise e divulgação.
A greve dos
servidores do IBGE serviu como um sinal de alerta para a sociedade,
expondo o seu quadro de crise, o que foi ratificado pelo cancelamento do
Censo e agora pela divulgaçao deste erro na PNAD. Caso mantenha-se este
modelo de gestão, todo o planejamento do país estará pautado em dados
de baixa confiabilidade, o que resultará em políticas públicas
inadequadas para a solução dos problemas em nível local e nacional.
Ademais, caso este modelo de gestão permaneça no IBGE, não é excessivo
imaginar um cenário futuro onde o governo passe a se aproveitar da
fragilidade da instituição para manipular os dados produzidos ou mesmo
chegue à sua extinção na etapa final de uma estratégia perversa que, ao
que parece, já se iniciou.
ASSIBGE-RN
Núcleo Sindical
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