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sábado, 25 de outubro de 2014

México: pelo aparecimento com vida dos 43 estudantes

Petição internacional afirma que os fatos ocorridos em Iguala, Guerrero a 26 de setembro de 2014 são uma das manifestações mais execráveis na história do México e exige das autoridades o castigo dos culpados, afirmando que nenhum governo pode permitir que sejam realizem atos de barbárie como os acontecidos.

Texto da Petição, que está aberta à subscrição:

A todas as mexicanas e mexicanos

A todas as pessoas que fora de México seguem os acontecimentos violentos recentes

À opinião pública

Aos 43 estudantes de Ayotzinapa desaparecidos, a seus familiares e colegas,

Acadêmicos mexicanos e de diversas nacionalidades, radicados no estrangeiro, unimo-nos às vozes de preocupação pela violência que impera no México. Os factos ocorridos em Iguala, Guerrero a 26 de setembro de 2014 são uma das suas manifestações mais execráveis na história do país. Não há palavras para expressar o horror e a raiva que sentimos pelo assassinato de seis pessoas, entre elas três estudantes da Escola Normal “Raúl Isidro Burgos” de Ayotzinapa (um deles de forma por demais selvagem), e pelo desaparecimento, a mãos do governo e da polícia local, de outros 43 estudantes.

Solidarizamo-nos com as exigências de justiça e compartilhamos a dor das famílias, amigos e colegas dos estudantes de Ayotzinapa. Indigna-nos profundamente que diante da magnitude dos factos, o governo mexicano faça declarações contraditórias e apresente resultados não só nulos como também mesmo mais preocupantes: as irregularidades da investigação aumentam a cada dia sem que se saiba nada respeito da prisão dos culpados ou do paradeiro dos 43 estudantes e, em contrapartida, descobriram-se muitas valas mais, muitos cadáveres mais. De que tamanho são as valas neste país, quantos mais cabem nelas, quantos mais esperam o mesmo destino?

Até agora não se deram a conhecer o nome dos detidos nem as linhas de investigação. São lamentáveis a lentidão e a aparente negligência com que avançam as investigações. As próprias autoridades têm posto obstáculos à participação de um grupo de forenses argentinos especializados na identificação de cadáveres, e os pais dos desaparecidos encarregaram-se praticamente sozinhos da busca. Se o ocorrido é por si terrível, a atitude geral dos órgãos de governo é uma afronta ao sentido de humanidade e à inteligência de quem observa à distância. Indigna-nos a maneira como as autoridades mexicanas têm tratado este grupo de estudantes, um dos mais vulneráveis do país.

A realidade que o México tem mostrado ao mundo é dececionante. O caso de Iguala, somado a muitos outros acontecimentos nos últimos meses, tem deixado claro que não se pode falar já de criminosos comuns mas sim da criminalidade de representantes do governo tanto local como estadual e federal, que por ação ou omissão permitiram que isto ocorresse e agora não parecem fazer o necessário para resolver e restaurar a confiança nesse mesmo governo. Não entendemos que o governador de Guerrero não tenha renunciado ainda, e que as autoridades federais estejam de acordo com esta situação. Todos sabemos que o governador estava a par da situação em Iguala – ele mesmo o declarou e assegurou que também o Exército e a Procuradoria Geral da República tinham conhecimento. Perguntamos-nos então, que outras situações de conluio entre crime e governo, que nenhum estado de direito poderia tolerar, são do conhecimento das autoridades?

Escrevemos porque México e a sua gente merecem bem mais: um verdadeiro estado de direito, justiça. Nenhum governo pode permitir-se realizar nem que sejam realizem atos de barbárie como os acontecidos em Ayotzinapa.

Por isso, exigimos:

1. O aparecimento com vida dos 43 estudantes.

2. O fim das represálias e perseguição aos estudantes da Normal de Ayotzinapa, e aos estudantes em geral.

3. Que o Prefeito de Iguala licenciado, José Luis Abarca, e sua esposa María dos Anjos Pineda Villa sejam imediatamente detidos, processados e castigados dentro do marco da lei.

4. A renúncia do Procurador Geral da República, Jesús Murillo Karam, se se demonstrar que teve conhecimento das ações ilícitas do prefeito Abarca e que foi omisso a respeito.

5. A imediata demição de Ángel Aguirre Rivero, governador de Guerrero, mas também a de Iñaki Blanco Cabrera, Procurador do mesmo estado e de todos os membros do Exército que tenham sabido, encoberto ou participado nestas ações.

6. Uma investigação confiável, real e transparente, com a participação de peritos e observadores internacionais, como a Equipa Argentina de Antropologia Forense.

Não nos cansaremos nem deixaremos de insistir desta e doutras formas. Continuaremos atentos aos acontecimentos e ampliando as redes de informação entre colegas, estudantes e amizades no México e no estrangeiro. Não podemos permitir que se repitam massacres como o do movimento estudantil de 1968 ou a perseguição e aniquilamento de populações camponesas como as de Acteal e Águas Brancas. Ayotzinapa ultrapassou um limite que não deveria ter sido nunca cruzado. Juntamos a nossa indignação e a nossa solidariedade para com os estudantes mexicanos e as suas famílias.

Queríamos que os 43 desaparecidos pudessem ler esta carta algum dia também. Dirigimo-la a eles, mas também a todos aqueles enterrados em valas clandestinas que não param de ser descobertas, a todos os que merecem bem mais que uma carta e que um protesto. Eles merecem todo o esforço deste governo e dos cidadãos dentro e fora do país. Devemos assumir a nossa responsabilidade diante esta situação inaceitável e exigir sem descanso justiça, um verdadeiro estado de direito, uma política ao serviço e proteção da cidadania e total transparência nas ações dos funcionários públicos e representantes da nação. Cada desaparecido e a cada assassinado por criminosos, militares ou polícias representam uma perda incalculável para o nosso país. Ayotzinapa toca-nos muito profundamente a todas e todos os que assinamos esta carta. Por eles e por nós exigimos justiça. Vivos levaram-nos e vivos os queremos!

Tradução de Luis Leiria para o Esquerda.net

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