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sábado, 22 de novembro de 2014

Caravanas da Indignação reúnem-se em manifestação gigante na Cidade do México

Familiares dos 43 estudantes desaparecidos percorreram o país em três frentes até se concentrarem numa gigantesca manifestação na capital mexicana. Neste dia 20, houve manifestações em muitas cidades do país e do mundo. Está colocada a possibilidade do fim do governo Peña Nieto.

Tomi Mori

A indignação contra os crimes do narco-estado atinge milhões. Foto de Mario Acosta Garcia

Após dias percorrendo uma vasta área do México, as três caravanas dos pais dos 43 estudantes desaparecidos encontraram-se, na Cidade do México, neste dia 20, dia global de solidariedade aos estudantes de Ayotzinapa.
Durante os últimos dias, os familiares dos 43 estudantes, divididos em três frentes, locomoveram-se por uma ampla área do país. Viveram dias em que a dor, a indignação, foram levadas e também manifestadas em todos os locais por onde passaram. Foi memorável a chegada da caravana a Chiapas, no sul do pais, o bastião da rebelião zapatista que dura há muitos anos. Os pais foram recebidos pelos dirigentes zapatistas, entre os quais o Comandante Moisés, que é atualmente o seu principal líder. As caravanas tinham o objetivo não apenas de expressar a sua justificada raiva como também de angariar apoio para uma dura e histórica luta que apenas começou. Os zapatistas prometeram engrossar a luta nacional já que, durante todos estes anos, também foram vítimas de perseguições e mortes.
Desde a manhã ocorreram confrontos, perto do aeroporto internacional, entre manifestantes e a tropa de choque do governo Peña Nieto. Houve manifestações em todo o México. Em Iguala, onde ocorreram as mortes ou desaparições, a população também saiu às ruas em protesto.
Os estudantes universitários realizaram varias greves, como as da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), Universidade Autônoma Metropolitana (UAM) e Pedagógica Nacional (UPN). Em Texcoco, a Universidade Autônoma de Chapingo e a Escola Normal de Texcoco também pararam as suas atividades.
Durante a noite, as marchas unificaram-se numa multitudinária manifestação de milhares de pessoas, como podemos ver pelas fotos da imprensa mexicana, mas, até o momento, não foi divulgado o número dos participantes. Durante o protesto foi queimado um gigantesco boneco do presidente Enrique Peña Neto. A palavra-de-ordem “Fora EPN!” tem sido um brado ouvido nas manifestações em todos os cantos do país. A ultima notícia divulgada pelo jornal La jornada, da capital mexicana, mostrava uma foto da tropa de choque atacando violentamente os manifestantes que não paravam de chegar ao Zócalo, mesmo após a manifestação ter sido oficialmente finalizada.
Uma luta abraçada a nível internacional
Manifestação em Madrid de solidariedade aos mexicanos.











Ainda que, como sempre, a imprensa ignore os factos tais como se apresentam, foram realizadas dezenas de manifestações de apoio em todos os continentes. No Japão, nos EUA, em Barcelona, na Europa, em Porto Rico. Particularmente em vários países da América Latina, com protestos diante das embaixadas e consulados mexicanos, onde a indignação dos ativistas políticos se tornou mais acentuada, com esse episódio hediondo de massacre capitalista, realizado diretamente pelo narco-estado mexicano. Cabe lembrar que, infelizmente, devido à fragilidade da esquerda mundial é muito raro vermos ações e mobilizações como as que ocorreram neste dia 20, abrangendo dezenas de países. A mesma solidariedade não tem sido dedicada à luta de dois meses que os estudantes e a população de Hong Kong tem travado pela democracia, contra uma das mais odiosas ditaduras da história humana: a do Partido Comunista Chinês.
O derrube de Enrique Peña Nieto abrirá a longa luta por uma verdadeira democracia
Desde que começou a Primavera Árabe, temos visto as massas a derrubarem vários governos, na Tunísia, na Líbia, Iêmen, Egito e outros. No entanto, é um facto que essas poderosas mobilizações não trouxeram ainda um resultado palpável, onde os povos em luta possam usufruir plenamente dos seus resultados. No caso do Egito, por exemplo, após uma espetacular revolução, vimos os mesmos militares apoderarem-se do poder pelo trágico facto de que a esquerda socialista não conseguiu superar as suas debilidades históricas e tomar as redes do processo histórico.
Também no México, baseado na profundidade desse movimento histórico que envolve as camadas mais oprimidas da população mexicana, é possível crer que no próximo período conseguirão derrubar o governo genocida de Enrique Peña Nieto.
Sem duvida, será um passo colossal e um dos momentos importantes da moderna história da América Latina. No entanto, na ausência de uma poderosa esquerda revolucionária e democrática, é possível imaginar que o derrube desse odioso governo será apenas uma primeira fase de uma luta mais ampla das camadas mais oprimidas do povo mexicano. Não será ainda a luta por uma sociedade socialista, como bem poderia ser nessa altura do desenvolvimento histórico. Mas será um passo nesse caminho.
Além dos 43 desaparecidos, existem centenas de presos políticos
O governo transformou o país não apenas num mar de covas, que vão sendo descobertas durante as buscas dos estudantes desaparecidos, como também num regime policial onde os oposicionistas são metidos na prisão sem nenhum julgamento. Essa é a situação em que se encontram centenas de ativistas, particularmente membros das polícias comunitárias que lutam contra o narcotráfico. Este é o caso da comandante Nestora Salgado, detida na prisão de máxima segurança de Nayarit já por mais de um ano. Também continua detido o principal líder das auto-defesas, o Doutor Mireles, cujo “crime” foi organizar as autodefesas armadas para se defender e defender a população do narcotráfico.
A ampliação da democracia, com a libertação dos presos políticos, a eleição de uma Assembleia Constituinte democrática e soberana, assim como a formação de um governo dos trabalhadores são alguns dos pontos importantes da atual luta democrática no México.

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