Chicó e Heidegger - Blog A CRÍTICA

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sábado, 13 de dezembro de 2014

Chicó e Heidegger

"A cachorrinha cumpriu sua sentença, encontrou-se com o único mal irremediável. Encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca do nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo, morre." (Em: O Auto da Compadecida)

Para Chicó "tudo que é vivo morre", a morte faz com que tudo acabe e iguala a tudo e a todos, é uma sentença inapelável com uma condenação. Tudo que é vivo morre significa que o homem morre da mesma forma que os animais outros ou as plantas morrem. Não há chance.

Em concepções do tipo Hipótese Gaia tudo morre e continua num grande organismo vivo como um todo, incluindo, inclusive, a matéria não viva. Tudo que morre retorna à biosfera como componente da vida. Haveria, assim, apenas um processo, de forma que a morte não existiria, pois, a vida seria, de fato, no todo da biosfera.

Mas, diferente da hipótese de Chicó era ou é a do filósofo alemão Martin Heidegger, para o qual os animais findam, apenas o homem morre; o homem morre por que sabe que morre; era o que Rousseau lamentava, o fato que trazia uma preocupação para a vida dos homens: quando passaram a ter consciência passaram a morrer.

Mas para Chicó todos são condenados e isso alivia a culpa, dentro da concepção católica de mundo. Ariano Suassuna transfere para a sua novela o mundo que ele vira no Sertão; "de que adianta ter riquezas quando se morre não leva nada", diz-se.

A própria cachorra cumpriu sua sentença mesmo sem saber morreu, uma condenação kafkiana; o que não era possível de acordo com Heidegger.

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