Consumismo desenfreado - Blog A CRÍTICA

"Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados." (Millôr Fernandes)

Últimas

Post Top Ad

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Consumismo desenfreado

Na passada sexta-feira “celebrou-se” o Black Friday, a “festa” por excelência do consumo e dos preços baixos. O consumismo desenfreado parece não ter limites. E os grandes centros comerciais são os seus principais promotores.

Esther Vivas

Se o início dos saldos se estreia aqui com grandes aglomerações, filas e empurrões para aceder aos centros comerciais, que os meios de comunicação nos retransmitem temporada após temporada, noutros países vão um passo mais além.
Na passada sexta-feira “celebrou-se” o Black Friday, a “festa” por excelência do consumo e dos preços baixos, concebida nos Estados Unidos e que pouco a pouco se estende a outros países. As imagens que nos deixava esta “efeméride”, especialmente nos supermercados britânicos, dizem tudo a respeito desta celebração: duas mulheres brigando para levar o mesmo televisor,avalanche de pessoas no chão e pisando-se à entrada de um centro, famílias a lutar para obter outros objetos cobiçados. Alguns estabelecimentos temendo pela sua segurança e pela dos seus alienados clientes, e incapazes de controlar a situação, acabaram por chamar as “forças da ordem”.
No entanto, ano após ano repetem-se as mesmas imagens. Em 2011, nos Estados Unidos, uma mulher chegou mesmo a aspergir com gás pimenta outros compradores em pleno combate pelas mercadorias desejadas. O consumismo desenfreado parece não ter limites. E os grandes centros comerciais são os seus principais promotores.
Agora parece que a “tradição” chega aqui, na linha de importar outras celebrações anglo-saxónicas, desde o São Valentim passando pelo Pai Natal até ao Halloween, que na maioria dos casos e sob o slogan do amor, da solidariedade e da festa nos vendem o mais estrito consumo. As grandes empresas esfregam as mãos, negócio é negócio. Aqui, El Corte Inglés, Amazon, Worten, Carrefour, Media Markt, Vodafone, Decathlon juntaram-se rapidamente à caravana.
Dizem-nos que todos ficaremos a ganhar: mais compras, mais baratas, mais trabalho. Que mais podemos pedir! Mas o entusiasmo consumista só beneficia uns poucos, e não precisamente aqueles que levam as “melhores” ofertas. O consumismo exacerbado dá importantes lucros às grandes empresas do setor, que produzem mercadorias em grande escala, em péssimas condições laborais, gerando empregos precários, e vendem-nas a nós como necessárias… e “ao melhor preço”. A pergunta é: realmente precisamos delas? Se pensarmos duas vezes, talvez disséssemos “não”. A publicidade, pelo contrário, apresentam-nas como imprescindíveis, “uma ocasião que não podes deixar escapar”.
O Black Friday prolongar-se-á por todo o fim de semana. Vão perdê-lo?
Artigo publicado a 29 de novembro de 2014 em blogs.publico.es
Esther Vivas
Ativista e investigadora em movimentos sociais e políticas agrícolas e alimentares. Licenciada em jornalismo e mestre em sociologia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Post Bottom Ad

Pages