Brasil precisa voltar a pensar com sua cabeça - Blog A CRÍTICA

"Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados." (Millôr Fernandes)

Últimas

Post Top Ad

quinta-feira, 12 de março de 2015

Brasil precisa voltar a pensar com sua cabeça

Comentário de Luiz Carlos Bresser-Pereira

O Brasil vive um momento cheio de contradições. No curto prazo há uma relativa crise econômica causada pelo fato que o superávit primário zerou e a inflação aumentou - o que levou o governo a uma crise de confiança nos mercados financeiros nacional e internacional. Para enfrentar o problema o governo decide pelo ajuste fiscal, embora o desemprego esteja aumentando, mas que se justifica porque é condição de recuperação da confiança.

Luiz Carlos Bresser-PereiraNo mesmo curto prazo, há uma grave crise política, que começou dois anos antes da eleição, quando aos erros do governo na área econômica, que levaram à crise de confiança, somou-se o julgamento do mensalão. A partir desse momento os ricos inclusive a alta classe média passaram a olhar o PT e a presidente com ódio - algo que eu nunca havia visto no Brasil. E esse ódio apenas aumentou quando Dilma Rousseff foi eleita por pequena maioria. Ao invés de dizerem-se a si próprios que agora tratava-se de ajudar a presidente a governar, as elites continuaram indignadas. Do que se aproveitou o partido liberal-conservador - o PSDB - a advogar o impeachment, como se o Brasil estivesse ainda nos anos 1950, no tempo da UDN também liberal, conservadora e golpista.

Terceiro, o país vive uma quaes-estagnação de longo prazo. Entre 1981 e e 2014, a taxa média de crescimento per capita foi de 0,94% ao ano. Se excluirmos um período excepcionalmente negativo (os ano 1980, em que o país estagnou devido à crise financeira da dívida externa) e se também excluirmos o boom de commodities (2004-10), essa taxa é ainda menor: 0,78% ao ano.

Essa crise decorre, no plano político, da perda de ideia de nação que nos torna incapaz de criticar as políticas econômicas que nos são recomendadas pelos países ricos e pela alta preferência pelo consumo imediato que elites e povo demonstram no Brasil. São essas duas distorções que explicam que explicam a incapacidade dos brasileiros de enfrentar e resolver os dois principais fatos históricos novos que explicam essa quase-estagnação.

Primeiro, desde os anos 1980 o Estado brasileiro deixou de ter uma poupança pública de 3% do PIB e passou a ter uma despoupança pública de 2% - o que representa 5% do PIB de perda de investimentos.

Segundo, desde 1990-91, quando houve a abertura comercial, o Brasil deixou de neutralizar a doença holandesa, que antes estava embutida no sistema comercial, e, em consequência, as empresas brasileiras industriais e de serviços comercializáveis (tradable) passaram a ter uma desvantagem competitiva de cerca de 20% em relação às empresas dos demais países que exportam para terceiros países.

A análise dessa crise de longo prazo está em meu artigo ainda não publicado, mas que acabo de colocar em meu site, "A quase-estagnação brasileira e sua explicação novo-desenvolvimentista", que poderão ler no link http://www.bresserpereira.org.br/view.asp?cod=5834.

A crise econômica de curto prazo foi causada pelos erros cometidos pelo governo desenvolvimentista nos últimos dois anos. Neste ano teremos aumento do desemprego e recessão, mas o ajuste fiscal é inevitável, porque é condição do retorno da confiança.

Mas, ao contrário do que pensam os economistas liberais, o ajuste não resolverá o problema econômico de longo prazo, que só se resolverá quando os brasileiros voltarem a pensar com sua própria cabeça, lembrando que são uma nação, e quando conseguirem rejeitar a preferência pelo consumo imediato, que se expressam em poupança pública negativa e elevados déficits em conta-corrente. Déficits e despoupanças que limitam tanto os investimentos privados como os públicos, que são essenciais para a retomada do crescimento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Post Bottom Ad

Pages