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domingo, 19 de abril de 2015

China: Por que prender uma jornalista de 71 anos?

Gao Yu foi condenada por divulgar um documento considerado superconfidencial, mas os seus advogados garantem que a condenação foi feita a partir de uma confissão forçada. Há neste momento 44 jornalistas presos na China. 

Por Tomi Mori.

Gao Yu já cumpriu mais de sete anos de prisão por defender a liberdade de informação.
Gao Yu já cumpriu mais de sete anos de prisão por defender a liberdade de informação.
O governo chinês pôs atrás das grades, na sexta-feira, a jornalista Gao Yu. Esta venerável senhora, de 71 anos, foi condenada em novembro do ano passado, num julgamento a portas fechadas, de divulgar um documento considerado superconfidencial, o Documento nº 9, elaborado pelo Partido Comunista, que dirige a segunda potência econômica mundial.
Segundo um dos seus advogados, Mo Shaoping, a condenação foi feita a partir de uma confissão forçada. As autoridades chineses tinham ameaçado o filho dessa jornalista, o que a fez, sob pressão, confessar atos que não cometera.
Segundo outro advogado, Shang Baojun, o editor da Mirror Books, Ho Pin, que seria o receptor da informação, negou, em telefonema à agência de notícias Reuters, ter recebido tal documento.
Como vemos, trata-se de mais uma farsa da justiça chinesa atrelada ao Partido Comunista. Mas, por que a segunda potência econômica do mundo teme a voz de uma senhora de 71 anos? Que perigo pode representar esta senhora para o Estado chinês?
Gao Yu e a defesa da liberdade de imprensa
O temor da elite chinesa deriva, em parte, do currículo desta jornalista. Gao Yu começou a sua carreira na China News Service, em 1979. Após a derrota do movimento democrático da Praça da Paz Celestial, Tiananmen, em Pequim, em 1989, foi presa por mais de um ano. Em 1993, num julgamento cujos detalhes não são muito conhecidos, mais uma vez foi posta atrás das grades, agora por mais seis anos. Essa trajetória, pautada na defesa da liberdade de imprensa foi, ao que parece, o motivo principal da nova prisão.
A China, pelo papel que ocupa no cenário mundial, deixou de ser motivo de critica por parte de qualquer potência que se diga democrática. Os seus dirigentes são recebidos com honrarias por reis, imperadores e todos os governantes.
É essa situação que permite à China manter o posto numero 1 no ranking de ataque à liberdade de imprensa. Segundo o Comité de Proteção aos Jornalistas, localizado em Nova York, agora, com a prisão de Gao Yu são nada menos que 44 jornalistas encarcerados, segundo estatísticas de dezembro de 2014.
A outra parte da explicação é o temor que uma democracia, mesmo controlada, possa levar à perda de controlo. Nas últimas semanas, a imprensa mundial divulgou a prisão de 5 jovens feministas pelo governo chinês. A prisão dessas jovens levou a uma rápida campanha de solidariedade através de assinaturas, artigos, e, também, protestos em várias embaixadas chinesas. As jovens foram libertadas, mas estão longe de estar a salvo das garras das autoridades.
Segundo informações do The Guardian, nos últimos dias o governo chinês tem desencadeado uma dura campanha de repressão aos dissidentes, advogados e intelectuais. Ao que parece, de acordo com algumas opiniões, trata-se da maior repressão em décadas na China.
Também as redes sociais e os sites têm sido alvo de ameaças do governo, o que é prática comum nos últimos anos. Recentemente, o governo ameaçou o popular Sina Weibo de fecho caso não aumente a censura no site.
Greves, protestos e revoltas populares no centro das preocupações do governo
Ao contrário dos que acreditam que o ascenso da China ao topo das potências econômicas levará à transformação do país num regime democrático, as atitudes demonstram exatamente o contrário.
O primeiro exemplo disso é a negativa de propiciar à população de Hong Kong o direito democrático ao sufrágio universal. As divergências de opinião entre a elite chinesa e a população de Hong Kong têm sido o motivo de grandes protestos e da recente Revolução das Sombrinhas que, apesar de sofrer uma derrota conjuntural, foi um espinho na garganta do governo que ficou entalado por 75 dias, desde que a juventude passou a ocupar locais importantes da cidade. Ainda que a Revolução das Sombrinhas tenha recuado, ninguém pode afirmar categoricamente que não poderá voltar ainda este ano, com a recém chegada Primavera.
Os outros exemplos são as greves, que continuam a agitar o país, como a recente greve, em março, dos trabalhadores da Yue Yuen Industrial Holdings, a maior fabricante de calçados do mundo, que produz para marcas mundiais como Adidas, Nike, Timberland, Puma e Converse. Segundo os trabalhadores, eles fabricam os calçados, mas os seus baixos salários jamais permitiram que os usem.
Também os 200 trabalhadores da fabrica de bolsas, de propriedade japonesa, Cuiheng Co, protagonizaram uma heroica greve que durou um mês e que só acabou devido à truculência com que a polícia se lançou contra os trabalhadores indefesos.
Dias atrás também vimos a Revolta de Luoding, na província de Guangdong. Um protesto de dez mil pessoas deixou um rasto de vários carros policiais destruídos, bem como uma esquadra policial. A revolta ocorreu pela decisão das autoridades de construir uma central incineradora na cidade. Segundo os moradores rebelados, a cidade já sofre da grande poluição provocada pela existência de uma fábrica de cimento. A construção de uma central incineradora iria atrair lixo de outras localidades para ser incinerado.
A outra questão que continua explosiva é a das minorias étnicas, como as do Tibet e Uighur. Na ultima quarta-feira, Nei Kyab somou-se à lista das dezenas de pessoas que se imolaram no Tibet, em protesto contra a ocupação chinesa do país.
A China, apesar da desaceleração económica provocada pela deterioração e agravamento da crise mundial, continua com um impressionante processo de urbanização. Todas essas questões sociais, que no caso da China são milenares, só podem ser controladas à base do chicote e, tal facto, a direção chinesa já deu mostras de compreender muito bem.

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