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segunda-feira, 6 de abril de 2015

O complexo do esculacho

O nós no caso brasileiro é sempre melhor do que o eles, porque assim assumimos a responsabilidade e deixamos de jogar lixo nas ruas, ocupar vagas de portadores de deficientes, evitamos as carteiradas e não nos aproveitamos da presença de parentes ou "amigos" no serviço público para obter certos privilégios.

Luiz Rodrigues - editor

Ao longo do século XX estudamos a fundo o Brasil, os intelectuais se voltarão para sua terra de forma sistemática, embora no século XII, e mesmo nos séculos anteriores, já houvessem cronistas, mas a partir da obra de Gilberto Freyre se inicia um percurso de busca de conceituar, entender e por que não solucionar os problemas brasileiros (fome sendo o maior e mais elementar de todos).

Freyre percebera logo o tipo de justiça pessoal do senhor de terras:

“As condições de colonização criadas pelo sistema político das capitanias hereditárias e mantidas pelo econômico, das sesmarias e da grande lavoura – condições francamente feudais – o que acentuaram de superior aos governos e à justiça Del-rei foi o abuso do coito ou homizio pelos grandes proprietários de engenhos; e não pelos catedrais e pelos mosteiros. Criminoso ou escravo fugido que se apadrinhasse com senhor de engenho livrava-se na certa das iras da justiça ou da polícia. Mesmo que passasse preso diante da casa-grande bastava gritar: - “valha-me, seu coronel fulano”. E agarrar-se à porteira ou a um dos moirões da cerca. Da mesma maneira que outrora, em Portugal, refugiando-se o criminoso à sombra das igrejas escapava ao rigor da justiça Del-rei” (Gilberto Freyre).

E a expressão mais conhecida, talvez, seja o "jeitinho brasileiro"; se de um lado a gente quer um Brasil moderno, desenvolvido, por outro enfrentamos o dilema do esculacho: "Isso é Brasil", que serve mais para se auto desresponsabilizar-se do que para qualquer outra coisa; mas dizemos que amamos o Brasil mas sentimos vergonha e coloca a culpa em alguém, na maioria das vezes abstrato, dependendo do momento.

O nós no caso brasileiro é sempre melhor do que o eles, porque assim assumimos a responsabilidade e deixamos de jogar lixo nas ruas, ocupar vagas de portadores de deficientes, evitamos as carteiradas e não nos aproveitamos da presença de parentes ou "amigos" no serviço público para obter certos privilégios. Da mesma forma que o servidor público passe a ser um burocrata no sentido weberiano original do termo, atua com respeito ao público e não pensando que aquela merda é patrimônio da sua família.

Pois bem, esse complexo do esculacho tem suas cegueiras e aberrações; e,  a coisa se complica por que o Brasil precisa sim ser criticado, o amor incondicional também cega e para se apoiar um tipo de governo do tipo verde e amarelo como já tivemos se diz que somos isso e aquilo; mas hoje o reverso do esculacho também aparece e sem qualquer olhar mais apressado dizemos que tudo tá imprestável.

O regime de 1988 conseguiu reduzir de forma expressiva, diria até descobriu o caminho de contorná-lo, o nosso problema histórico mais aberrante: a fome. A fome de pessoas que trabalham de antes do amanhecer ao por do sol e passavam fome, os fabianos. O Brasil hoje é considerado referencia internacional no combate a fome pela ONU.

Claro, sabemos de outras questões que impactam numa economia moderna: baixo empreendedorismo, competitividade, produtividade, todos fazendo parte de um outro ponto chave, depois da fome, o mai importante, que é a questão da educação.

Mas não contribui em nada as "teses" do plano cubano de formação da grande pátria comunista, da "intervenção" militar (a ditadura militar também, mesmo com um governo forte, foi 'monturo', ou seja, deixou quase tudo virar sucata - Mobral, Programa de Reforma Agrária etc). O primeiro passo para não ser idiota é não dar atenção a idiotas que não medem as consequências do ódio entre grupos. 

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