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quarta-feira, 6 de maio de 2015

Arábia Saudita bombardeia o Iêmen, depois doa ajuda milionária

Os sauditas são acusados de bombardeamentos indiscriminados que causaram a morte de 1.080 pessoas, na sua maioria civis. Como se quisesse compensar os seus pecados, a Arábia Saudita anunciou a doação de 274 milhões de dólares “para as operações humanitárias no Iêmen”. 

Por Thalif Deen.

Casas destruídas em Sana após bombardeamentos da coligação árabe, liderada pela Arábia Saudita

A mão direita da Arábia Saudita não sabe o que faz o seu pé esquerdo, afirma um diplomata asiático para descrever a paradoxal política militar em curso no Iêmen.

Os sauditas, que lideram uma coligação de países árabes em apoio ao presidente iemenita, Abdu Rabbu Mansur Hadi, cujo governo foi derrubado por forças rebeldes xiitas hities em janeiro, são acusados de bombardeamentos indiscriminados que causaram a morte de 1.080 pessoas, na sua maioria civis, e deixaram 4.352 feridos, o que criou uma crise humanitária em grande escala no Iêmen.

Como se quisesse compensar os seus pecados, a Arábia Saudita anunciou no mês passado a doação de 274 milhões de dólares “para as operações humanitárias no Iêmen”, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).

No dia 22 de abril a Arábia Saudita suspendeu temporariamente os ataques aéreos, que duraram quase um mês, presumivelmente pela pressão dos Estados Unidos, cujo governo se preocupa com a mortandade civil. O jornal “The New York Times” perguntou a um funcionário norte-americano não identificado por que Washington interveio para que Riad cessasse os bombardeamentos. “Muito dano colateral”, respondeu, referindo-se às mortes de civis.

Os ataques da chamada Operação Tempestade Decisiva no Iêmen demoliram fabricas e bairros residenciais, e também afetaram um centro de armazenamento pertencente à organização humanitária Oxfam, com sede em Londres, que informou que ali eram guardadas provisões humanitárias sem valor militar. A Oxfam recebeu com satisfação o anúncio sobre a suspensão dos bombardeamentos no Iêmen, mas alertou que o trabalho para levar ajuda a milhões de iemenitas apenas começou.

Grace Ommer, diretora da organização no Iêmen, afirmou à IPS que os bombardeamentos aéreos e a violência dos últimos 28 dias antes da trégua teriam matado 900 pessoas, das quais metade eram civis. “A notícia de que os ataques aéreos terminaram, pelo menos temporariamente, é bem-vinda e esperamos que isto prepare o caminho para que todas as partes no conflito atual encontrem uma paz negociada permanente”, afirmou.

Segundo Ommer, “a notícia também dá enorme alivio aos 160 trabalhadores iemenitas que temos no país, bem como ao resto da população civil, que luta para sobreviver a esta última crise no seu frágil país”. Como a instabilidade, a insegurança e os combates continuam, as partes em conflito devem permitir que as organizações de ajuda entreguem a assistência humanitária aos milhões de pessoas que dela precisam, acrescentou.

A Oxfam também informou que o Iêmen é o país mais pobre do Médio Oriente, onde 16 milhões dos seus 26 milhões de habitantes dependem da ajuda para sobreviver. A recente escalada da violência só agravou a catástrofe humanitária existente, ressaltou a organização.

Sara Hashash, da Amnistia Internacional disse que mais de 120 mil pessoas foram obrigadas a abandonar as suas casas desde que começou a campanha militar saudita em março, o que provocou “uma crescente crise humanitária”.

O porta-voz da ONU, Stephane Djurric, disse à imprensa que a doação saudita será destinada às necessidades de 7,5 milhões de iemenitas nos próximos três meses. Os fundos proporcionarão “assistência alimentar a 2,6 milhões de pessoas, água potável e saneamento a cinco milhões de pessoas, serviços de proteção a 1,4 milhões e apoio nutricional para cerca de 79 mil pessoas”, acrescentou.

No mês passado os bombardeamentos destruíram uma fábrica de produtos lácteos matando 31 trabalhadores, e um bairro inteiro, com saldo de 25 mortos. “Os ataques aéreos reiterados contra uma fábrica de produtos lácteos situada perto de bases militares mostram um cruel desprezo pelos civis por ambas as partes do conflito armado no Iêmen”, disse Joe Stork, subdiretor para o Oriente Médio e norte da África da organização de direitos humanos Human Rights Watch (HRW).

“O ataque pode ter violado as leis da guerra, por isso os países envolvidos devem investigar e tomar as medidas apropriadas, incluindo a indemnização das vítimas dos ataques ilegais”, afirmou Stork. A morte de civis não implica necessariamente que se tenha violado as leis da guerra, mas a elevada perda de vidas numa fábrica aparentemente utilizada com fins civis deve ser investigada de maneira imparcial, recomendou a HRW em comunicado.

“Se os Estados Unidos proporcionaram informação ou outro apoio direto aos bombardeamentos, compartilharia, como parte no conflito, da obrigação de minimizar os danos a civis e investigar supostas violações das leis”, acrescentou a HRW. Segundo a organização, a coligação liderada pela Arábia Saudita e responsável pelos ataques aéreos é integrada por Bahrein, Egito, Emirados Árabes Unidos, Jordânia, Kuwait, Marrocos, Qatar e Sudão.

Para Stork, “se os Estados Unidos estão a fornecer informação (para realizar os bombardeamentos) é uma parte no conflito e está obrigado a acatar as leis da guerra. Embora não seja assim, no seu apoio à coligação Washington irá querer garantir que a totalidade dos bombardeamentos e demais operações sejam feitas de modo a evitar perda de vidas e propriedades civis, que já atingiram níveis alarmantes”.

Quanto às denúncias de mortes civis, Dujarric disse que “à primeira vista, esse tipo de denúncia é extremamente preocupante quando se vê a probabilidade de um nível elevado de vítimas civis. Mas, creio que toda a violência que temos visto serve como lembrança para que as partes atendam ao apelo” feito pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, no dia 17 de abril, para que “cessem as hostilidades e se pronuncie o cessar-fogo”.

Artigo de Thalif Deen, publicado por Envolverde/IPS

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