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domingo, 25 de outubro de 2015

A Mulher na Presidência da República: Artigo de Câmara Cascudo em 1959

De Luis da Câmara Cascudo*
Declaro, de público e raso, que teria honra excelsa votando numa mulher para Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil.
Das possibilidades masculinas já temos conhecimento, mas não memória. Cada eleição acreditamos nas promessas, endoidecemos de esperanças e rompemos amizades com quem discorda do entusiasmo sonoro.
Meu sonho radioso é ver uma brasileira presidir o Brasil durante o quinquênio constitucional. Governar mesmo, quem governa sempre é a mulher.
Já me explicaram que o perigo é a Presidente apaixonar-se e deixar-se guiar pelo seu amor. Respondo que os homens também se apaixonam e se deixam guiar pelos seus amores.
Tanto a mulher é passível de influência quanto o homem. O espírito é o mesmo no plano da assimilação para o Bem e para o Mal.
A superioridade feminina está na sensibilidade recatada, na serenidade orgulhosa do sexo elevado à suprema administração, na compostura nata, congênita, natural.
O homem educa-se. A mulher nasce educada. Uma mulher grosseira é uma exceção. Um homem mal educado é uma normalidade.
As mulheres vencem o SEXO FRACO (o homem nunca, jamais, em tempo algum, foi SEXO FORTE) pela assiduidade, tenacidade, disciplina funcional, receio da punição excessiva. Para vingar-se o homem mata e a mulher chora. O homem apela para a “peixeira” e a mulher para Deus.
Imagine-se um Brasil vigiado, policiado, fiscalizado pela desconfiança de uma mulher, sacudida pelo temor do ladrão, do cínico, do atrevido e estimulada pela responsabilidade da função!…
Imagine-se a exigência moral, o cuidado na aplicação fiscal, a suspeita do peculato e a malversação dos dinheiros públicos!…
Gastar mesmo, naturalmente, gasta em vestido, perfume, cinema, cabelo, pele, unha, sapato. Não faz questão de beber, de comer e de viajar.
Não existe financista que possa comparar-se com a argúcia feminina no tocante à prestação de contas do marido. Aplicando-se a virtude ao genérico, podemos pensar no Presidente da República preparando o orçamento, abrindo créditos especiais, medindo os pedidos de verbas extraordinárias.
Pela subalternidade dos recursos financeiros que dispõe, a mulher é funcionalmente econômica, equilibrada, inesgotável de atenção para as despesas.
Arrancar dinheiro a uma mulher, Presidente da República, seria milagre. E como ninguém nesse mundo engana uma mulher (no máximo ela finge que está acreditando), não nasceu ainda um político, um financista, um técnico de imaginação fervente, nessas campanhas de “recuperação”, para enganar, ludibriar, mistificar uma mulher desconfiada…
Todos os psicólogos sabem, ou devem saber, que a mulher só se rende onde, como e quando quer. Deduzam a Presidente da República numa conferência, congresso, encontro, simpósio, debatendo assuntos inadiáveis, pondo em ação os inesgotáveis meios e processos para afastar, dispersar, ladear os problemas que não podem ser resolvidos, imediata e formalmente.
Imagine-se a batalha que será a escolha de uma MISS BRASIL quando o júri for composto exclusivamente pelo mesmo sexo das candidatas!… Mulher enxerga defeitos onde nós, homens, vemos belezas sugestivas.
No ponto de vista da História Universal não preciso recordar as grandes mulheres que governaram países e os tornaram grandes, prósperos e felizes.
Tem a mulher superioridades notórias. Pode desmaiar, chorar, ter chiliques nas horas supremas, comovendo, arrebatando, emocionando assistências amigas ou adversárias. Quem é que vai agredir, insultar, vilipendiar um nome feminino na consciência fria da intenção?
Era uma grande experiência para o Brasil. Para todo continente e países insulares.
Declaro que serei o primeiro cabo eleitoral.
Falta a candidata!…


A República, Natal, 17 de Outubro de 1959

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