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sábado, 14 de novembro de 2015

Renato Janine: "O desastre de Mariana simboliza bem o fim de uma fase de nossa História"


Comentário de Renato Janine Ribeiro em seu Facebook



O desastre de Mariana - que se estendeu por todo o Vale do Rio Doce - simboliza bem o fim de uma fase de nossa História. 

Vivemos há décadas uma redução de nossa indústria. Nossa exportação foi apostando mais nas commodities, que têm pouco valor agregado pelo trabalho humano. Depois dos decênios de indústria, voltamos aos ganhos retirados da natureza - agricultura, pecuária, extrativismo. Sem dúvida, com um processamento mais inteligente. Mas com menos aporte de valor-trabalho.

A prosperidade dos anos Lula deve bastante à China, que importava nossas commodities, e à China, que nos exportava produtos industriais baratos. (Alberto Carlos Almeida comentou mais de uma vez que, se não desindustrializássemos, não teria havido o aumento de renda que houve dos mais pobres. Simplesmente, a indústria brasileira teria aumentado os preços e os pobres perderiam na hora de comprar o que receberam na hora de ganhar).

Essa situação acabou. A China diminuiu seu avanço do PIB. Mas, mais que isso, essa situação tão vantajosa não era sustentável a longo prazo.

As barragens da Vale+BHP representam a falência desse sistema. Para render mais a exportação, deve-se ter investido menos na segurança. Resultado, a Vale mata o Rio Doce que lhe dava nome. 

Daí, uma certa situação de barata tonta em dia de chuva. A quem culpar? O secretário de Estado de Minas Gerais defende a empresa. O governo federal demora a atuar. O candidato derrotado do PSDB diz que não é hora de procurar culpados. Todos no mesmo barco, de certa forma, porque nenhum deles assume quão fundo é o buraco.

O fato é que mais uma vez o Brasil dependeu de exportar sua natureza, e mais uma vez isso se mostrou insuficiente.

Solução: é claro que depende da educação. Precisamos melhorar a produtividade de nossa economia. Precisamos ter trabalhadores, entre outras coisas, mais curiosos e mais empenhados em aprender. A economia não pode se sustentar em serviços como os que temos. Uma economia não se sustenta em shoppings.

Mas aí se abre outra discussão. A educação não pode ser mais do mesmo. Tem que ser uma educação com maior componente técnico (o que também precisa ser mais bem definido, nao concordo totalmente com o que os especialistas de sempre dizem), fortalecendo o espírito crítico mas sem descambar para a ideologia (que é também uma forma de negar o espírito crítico), em suma, não é apenas criar ou manter escolas e faculdades como as que temos. 

O Brasil não pode continuar postergando estas questões. Adiá-las começa a matar, não só gente, mas a natureza e o próprio futuro.

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