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quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Argentina: integração subordinada


por Luiz Carlos Bresser-Pereira


O presidente liberal Mauricio Macri assumiu hoje a Presidência da República argentina, substituindo uma presidente desenvolvimentista, Cristina Kirchner. Seu primeiro objetivo é "integrar-se ao sistema internacional", do qual a Argentina se desvinculou no plano financeiro ao ter negociado com sucesso a reestruturação de sua dívida externa.

Luiz Carlos Bresser-PereiraMas o que significa essa integração? Será uma integração soberana, ou será uma integração subordinada, como é a regra definida pelo Oeste imperial? “Não se trata disso, nos dirá o economista liberal e cosmopolita, queremos apenas recuperar o crédito internacional da Argentina, que, assim, poderá se endividar em moeda estrangeira para crescer”. Ora, essa forma de integrar-se – endividando-se em moeda estrangeira e para com as empresas multinacionais – que é a forma subordinada. A Argentina, hoje, não tem dívida externa, e, como existe uma relação direta entre o déficit em conta-corrente, e como este é praticamente zero porque a Argentina não tem crédito internacional, a taxa de câmbio não está fortemente apreciada e a economia argentina continua relativamente equilibrada – em uma situação bem melhor do que a situação da economia brasileira. Se o governo dos Kirchner não tivessem usado o câmbio para segurar a inflação, a taxa de câmbio estaria plenamente competitiva, e o país estaria crescendo muito mais.

Agora, a partir do momento em que o governo promova a liberalização geral e retire a retenção sobre as commodities exportadas, a Argentina recuperará seu crédito internacional ao mesmo tempo que haverá uma desvalorização do peso. Parece bom, mas não é. Essa depreciação durará pouco tempo. Com a abertura da economia e a recuperação do crédito, entrarão capitais, e o peso voltará a se apreciar, mas agora sem o limite imposto pela impossibilidade de o país obter crédito no exterior. Em pouco tempo o déficit em conta-corrente se tornar grande, e teremos lá o que temos aqui no Brasil: uma integração subordinada, baseada no endividamento externo e na busca de crédito.

Agora, um Oeste feliz estará transferindo seus capitais para a Argentina, e o peso se apreciará em termos reais bem mais do que hoje já está apreciado. Em consequência, as empresas industriais e as de serviços sofisticados deixarão de ser competitivas, o processo de sofisticação produtiva, que, primeiro, o presidente Eduardo Duahalde (2002-03), e depois, os dois Kirchner (2003-2015) tentaram reconstruir na Argentina terminará, e o país ficará semelhante ao Brasil: integrado subordinadamente ao Oeste e, por isso e pelo populismo interno, sem perspectivas de crescer e fazer o catching up ou alcançamento dos níveis de renda dos países centrais.

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