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domingo, 21 de fevereiro de 2016

As finanças do Estado Islâmico

Os recursos anuais do Daesh situam-se entre um e três bilhões de dólares, o que faz dele a organização terrorista mais poderosa do mundo. Quais as suas principais fontes de receita? Artigo da União Sindical Solidaires.

Ainda que o Daesh se financie parcialmente com os mesmos métodos da al-Qaeda (de onde surgiu em parte), esse tipo de recursos é ultrapassado por aqueles provenientes do seu controle de um território.
Al-Qaeda
A al-Qaeda era financiada inicialmente pelos seus fundadores, como o bilionário saudita Osama Bin Laden, bem como por doadores ricos dos países do Golfo.
A estes juntaram-se:
– O apoio de muitos governos durante a guerra do Afeganistão (1980-1989). Os atentados de 11 de setembro de 2001 puseram fim a esta opulência e a uma época onde os recursos financeiros deste movimento ultrapassavam por vezes o orçamento de alguns Estados.
– A ajuda dos regimes baathistas iraquiano e sírio quando nasceram muitos grupos jiadistas.
– Os movimentos de capitais informais através de homens de negócios, agindo sob a sua capa profissional. Entre eles, membros da Associação dos homens de negócios turcos muçulmanos (ISIAD), e/ou de homens de negócios que participaram no contornar do embargo imposto pela ONU ao Iraque entre 1991 e 2003.
– Os fundos que transitavam pelas associações caritativas turcas e/ou cataris.
– Os resgates pagos em troca da libertação de estrangeiros capturados com esse objetivo. A al-Qaeda optou por esta estratégia no norte de África, Sahel e Somália e conseguiu dessa forma recursos financeiros importantes.
Estado Islâmico
Controlar um território permitiu ao Daesh dar um salto qualitativo. O Estado Islâmico dispõe de uma autonomia de decisão, incluindo em relação dos financiadores salafistas petromonárquicos.
Os seus recursos anuais situam-se entre um e três mil milhões de dólares, o que faz dela a organização terrorista mais poderosa do mundo.
Recursos do Daesh
– Doadores estrangeiros: 40 milhões de dólares (cerca de 3% dos recursos)
– Os doadores ricos vêm sobretudo da Arábia Saudita, do Catar e do Kuwait.
– Cada vez mais, o Estado Islâmico organiza campanhas de financiamento internacional através das redes sociais e de um software inacessível aos motores de busca tradicionais como o Google.
– Transferência de fundos
– Transferências de dinheiro por via eletrônica, usadas habitualmente pelas diásporas para pequenos montantes.
– Transporte de dinheiro pelos seus correios.
– Movimentos internacionais de capitais pelas filiais de sociedades sedeadas em Damasco. Seria surpreendente que os paraísos fiscais não participassem nestas redes.
– Corrupção de funcionários de bancos locais para obter falsos empréstimos, creditados em contas abertas com identidades falsas, com o dinheiro a ser levantado em seguida em qualquer parte do mundo. As autoridades britânicas admitiram que a City “é um exportador líquido dinheiro terrorista”, com os jiadistas a usarem o principal centro financeiro internacional mais para obter dinheiro do que para ali o colocar.
– Raptos: 40 milhões (cerca de 3% dos recursos). Os resgates ligados aos raptos valeram 40 milhões de dólares em 2014, dos quais 18 milhões foram pagos pela rança para libertar quatro dos seus jornalistas.
Tráfico de antiguidades: 100 milhões (cerca de 7% dos recursos). Estas são provenientes de pilhagens de museus e de coleções privadas, como de novas escavações, uma vez que um terço dos sítios arqueológicos iraquianos estão sob controlo do Daesh. As licenças de exploração são vendidas, os produtos encontrados são avaliados e taxados entre 20% a 50% do preço de venda antes de passar pelo contrabando para países vizinhos e depois para a Europa. Foram encontradas peças bizantinas e cerâmicas romanas à venda em Londres.
– Venda de jóias roubadas
– Produtos agrícolas: 200 milhões (13% dos recursos). Cerca de 40% da produção iraquiana de trigo e cevada está nas mãos dos jiadistas que o vendem no mercado negro, rendendo 200 milhões. Os agricultores veem também o seu material agrícola confiscado, sendo obrigados a alugá-lo para poderem continuar a trabalhar.
– Petróleo: 200 a 300 milhões (17% dos recursos). A posse de petróleo, de eletricidade e de gaz foi um objetivo estratégico do Daesh desde a sua criação.
O ciclo de comercialização envolve um circuito indireto que abarca as autoridades sírias enquanto compradoras, homens de negócios iraquianos – árabes, curdos e turcomanos – e intermediários sírios. Uma rede paralela turca encarrega-se de facilitar o transporte e a comercialização dos produtos.
O petróleo bruto é vendido a dinheiro a um preço equivalente a cerca de 20% do preço mundial. O crude é vendido em parte ao regime sírio ou é levado pelos intermediários para o mercado internacional através da Turquia, com a caução da União Europeia.
A refinação faz-se nas instalações móveis que os bombardeamentos aliados tentam destruir. São precisos 230 mil dólares e dez dias para reconstruir cada uma destas instalações.
– Cimento, fosfato, algodão, etc.
– Produtos proibidos pela religião muçulmana, como estupefacientes.
– Venda de mulheres e crianças
– Venda de órgãos humanos. As fatwas 61-62 e 64-68, do início do ano 2015 permitem retirar tecidos ou órgãos de um prisioneiro ou apóstata, mesmo que essa operação leve à sua morte.
– Confisco de ativos bancários. O Daesh tomou conta de uma centena de agências bancárias no Iraque. A tomada de Mossul rendeu-lhes 500 milhões de dólares em dinheiro e duas dezenas de milhões foram apreendidos na Síria.
Impostos: 300 milhões. A sua cobrança faz-se de acordo com o modo mafioso:
– sobre homens de negócios em troca de “proteção” do Daesh;
– sobre empresas situadas nas localidades sob o seu controlo (8 milhões de dólares por mês em Mossul), como as farmácias, operadores telefônicos;
– sobre os intermediários que fazem circular as mercadorias (portagens, direitos aduaneiros sobre os produtos importados);
– sobre estudantes ou grupos cristãos.  
Despesas do Daesh
O Estado Islâmico controla um território da dimensão do Reino Unido, gerindo-o com uma administração encarregue da polícia, das escolas e dos tribunais.
Os dirigentes fornecem às populações o acesso à água, à eletricidade (fornecimento de geradores) e à alimentação (pão subsidiado).
Os soldados recebem entre 300 a 500 dólares por mês, uma fortuna naquele sítio. Recebem ainda subsídios familiares para as suas mulheres e filhos, que continuam a ser ajudados em caso de morte em combate.
As somas de dinheiro recebido pelos membros do Daesh são infinitamente superiores às prestações pagas por outras organizações jiadistas e, naturalmente, pelas forças governamentais. Desta forma, a noção de jihad confunde-se com a de mercenarismo.  
Gratuita e generosamente, o Daesh distribui aos seus membros uma parte dos bens, casas, viaturas e comércios provenientes de pessoas assassinadas ou obrigadas ao exílio.
Têm também acesso a estes benefícios os apoiantes do Daesh em todo o mundo que respondam ao apelo do califa al-Baghdadi para se irem instalar no território do Estado Islâmico, sob o modelo sionista da migração para a Palestina.

Artigo publicado no portal Europe Solidaire
P.S.: Este texto é um anexo de «Daech : un monstre contre-révolutionnaire et totalitaire». Um segundo anexo sobre as raízes religiosas do Daesh estará disponível em breve.
Fontes:
- Haytham Manna (septembre 2014) : Dossier sur le Califat de Daech
- MC Ebrari (avril 2015) : Islamic state framework text
- Christian Chavagneux : L’argent de Daech (Altereco, 18 novembre 2015)

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