Noam Chomsky: Por que escolho o otimismo e não o desespero - Blog A CRÍTICA

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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Noam Chomsky: Por que escolho o otimismo e não o desespero

“Podemos ser pessimistas, desistir e ajudar a garantir que o pior aconteça”, afirma Noam Chomsky. “Ou podemos ser otimistas, e aproveitar as oportunidades que certamente existem e talvez ajudar a tornar o mundo melhor”. 

Entrevista conduzida por C.J.Polychroniou, Truthout.

Uma das questões centrais e mais perturbadoras da filosofia é “Quem somos nós?”. De facto, virtualmente todas as questões essenciais da civilização humana – poder, autoridade e governo decorrem da pergunta sobre que tipo de seres somos.
Mas haverá realmente algo que nos distinga como espécie? Ou, para colocar a questão num contexto filosófico mais tradicional, haverá algo como “natureza humana”? Filósofos clássicos como Platão e Aristóteles pensavam que sim, da mesma forma que a maioria dos filósofos que fazem parte da tradição moderna, de Thomas Hobbes a Nietzsche. Claro, os cientistas também investigaram a natureza humana, e continuam a fazê-lo até hoje, sendo a questão de particular interesse para linguistas, biólogos evolucionistas, neurocientistas e psicólogos.
Noam Chomsky, um dos linguistas mais influentes do mundo (o mesmo estudioso fecundo conhecido em todo o mundo pela sua crítica mordaz à política externa dos Estados Unidos e análise crítica num amplo leque de temas sociais e políticos), também se ocupou, em grande parte da sua vida, com a questão perene de que tipo de ser nós somos. As suas contribuições inovadoras no campo da linguística avançaram consideravelmente a nossa compreensão da mente humana – o que por sua vez influenciou diversas áreas de estudo, da ciência cognitiva e ciência da computação até a filosofia e a psicologia.
O livro mais recente de Chomsky, que acaba de ser lançado pela editora da Universidade Columbia (Columbia University Press), é adequadamente intitulado “Que tipo de seres somos nós?” (“What Kind of Creatures Are We?”). O livro é um conjunto de palestras feitas por Chomsky na Universidade de Columbia em dezembro de 2013, nas quais investiga áreas como ciência cognitiva, linguística, filosofia e teoria política. Conversei com Chomsky sobre o livro, a sua exploração científica da linguagem e da mente, e a sua visão sobre sociedade e política nesta entrevista exclusiva.
O seu livro mais recente reúne as suas investigações sobre mente e linguagem e a forma como vê, há muito tempo, a sociedade e a política. Começo por perguntar se sente que a abordagem biolinguista sobre linguagem que desenvolveu nos últimos 50 anos ainda está aberta a explorações adicionais e, se sim, que tipo de questões a respeito da aquisição da linguagem permanecem sem resposta.
Não só eu, de forma alguma. Várias pessoas. Um dos verdadeiros pioneiros foi Eric Lenneberg, um grande amigo do início dos anos 1950, quando essas ideias estavam a fermentar. O seu livro,Biological Foundations of Language (Fundamentos Biológicos da Linguagem), é um clássico que permanece.
O tema está muito aberto a novas explorações. Há questões não respondidas bem na fronteira da investigação, do tipo crucial para avançar no que Tom Kuhn chamou de “ciência normal”. E as questões que estão além são tradicionais e tentadoras.
Um tópico que está a começar a ser aberto a investigação séria é a realização da capacidade para a linguagem e o seu uso no cérebro. Isso é muito difícil de estudar. Questões assim são extremamente difíceis mesmo no caso de insetos, e para os humanos são incomparavelmente mais duras, não apenas devido à complexidade do cérebro, muito maior. Conhecemos um bocado sobre o sistema visual humano, mas isso porque é mais ou menos o mesmo sistema visual de gatos e macacos, e (corretamente ou não) permitimos experiências invasivas com esses animais. Isso é impossível para humanos, porque a capacidade humana da linguagem é muito isolada, biologicamente. Não há analogias relevantes noutros pontos no mundo biológico. É um tópico fascinante por si mesmo.
Apesar disso, novas tecnologias não invasivas estão a começar a prover evidências importantes, que às vezes até começam a influenciar, de forma interessante, questões em aberto sobre a natureza da linguagem. Elas estão nas fronteira da investigação, juntamente com uma grande e desafiadora massa de problemas sobre as propriedades da linguagem e os princípios que as explicam. Muito, muito além – além talvez até do alcance humano – estão perguntas como as que animaram o pensamento (e imaginação) tradicionais sobre a natureza da linguagem. Refiro-me às questões de grandes figuras, tais como Galileu, Descartes, von Humboldt e outros. Entre elas, é fundamental o que tem sido denominado de “os aspetos criativos do uso da linguagem”, a habilidade de todo o ser humano para construir na mente, e compreender, um número ilimitado de novas expressões para exprimir os seus pensamentos, e usá-los de maneira apropriada às circunstâncias – mas não causada por elas – uma distinção crucial.
Somos “estimulados e inclinados”, mas não “compelidos”, na terminologia cartesiana. Estes não são, de modo algum, assuntos restritos à linguagem. A questão é colocada graficamente por dois expoentes da neurociência, que estudam movimento voluntário, Emilio Bizzi e Robert Ajemian. Revendo o estado atual da arte, eles observam que estamos a começar a entender alguma coisa sobre o boneco e os cordéis, mas quem manipula a marioneta mantém-se um total mistério. Devido à sua centralidade nas nossas vidas, e o seu papel crítico na construção, expressão e interpretação do pensamento, o uso normal da linguagem ilustra essas capacidades misteriosas de um modo particularmente dramático. Essa é a razão por que o uso da linguagem, para Descartes, era uma distinção fundamental entre os humanos e qualquer animal ou máquina, e a base para o seu dualismo corpo-mente – o qual, ao contrário daquilo que se pensa frequentemente, era uma hipótese científica legítima e sensata nos seus dias, com um destino interessante.
Qual é, a seu ver, a relevância filosófica da linguagem?
Os comentários acima começam a lidar com essa questão. Reconhece-se, tradicionalmente, que a linguagem humana é uma propriedade da espécie, comum aos humanos exceto em casos de patologias graves e, em essência, exclusiva dos humanos. Uma das contribuições de Lenneberg foi começar a fundamentar essa descontinuidade radical na moderna biologia, e o trabalho subsequente tem apenas fortalecido esta conclusão (um assunto que é contestado com ardor, mas de forma equivocada, acredito). Além disso, um trabalho iniciado também por Lenneberg revela que a capacidade humana da linguagem parece ser muito nitidamente dissociada de outras capacidades cognitivas. A linguagem é, além disso, não apenas o veículo do pensamento, mas também, provavelmente, a fonte geradora de partes substanciais do nosso pensamento.
O estudo da linguagem provê também muitos insights para problemas filosóficos clássicos, sobre a natureza dos conceitos e a sua relação com entidades externas à mente — uma questão muito mais intrincada do que frequentemente se imagina. E, de modo mais genérico, sugere caminhos para investigar a natureza do conhecimento e do julgamento humanos. Noutro domínio, um trabalho importante e recente de John Mikhail e outros forneceu suporte substancial para algumas ideias negligenciadas de John Rawls sobre as relações entre as nossas teorias morais intuitivas e a estrutura da linguagem. E muito mais. Há boas razões por que o estudo da linguagem sempre foi uma parte central do discurso e da análise filosóficos, e novas descobertas e insights, penso eu, têm relação direta com muitas preocupações tradicionais.
O conhecido linguista Neil Smith argumenta, no seu livro Chomsky: Ideas and Ideals(Chomsky: Ideias e Ideais, Cambridge University Press, 1999), que põe de molho a problemática mente-corpo, não para mostrar que temos uma compreensão limitada sobre a mente, mas sim que não podemos definir o que é o corpo. O que Smith pode estar a querer dizer com isso?
Não fui eu que pús o assunto de molho. Quem fez isso foi Isaac Newton. A ciência moderna inicial, de Galileu e seus contemporâneos, era baseada no princípio de que o mundo é uma máquina, uma versão muito mais complexa dos notáveis autómatos que eram então construídos por artesãos e excitavam a imaginação científica daqueles dias, tal como computadores e o processamento de informações fazem, hoje. Os grandes cientistas daquele tempo, inclusive Newton, aceitaram essa “filosofia mecânica” (significando a ciência da mecânica) como fundamento dos seus empreendimentos. Descartes acreditou que havia estabelecido praticamente a filosofia mecânica, incluindo todo o fenómeno do corpo, embora reconhecesse que alguns fenómenos estavam além do seu alcance – inclusive, de forma crucial, os “aspetos criativos do uso da linguagem” descritos acima. Então, de forma plausível, postulou um novo princípio – na metafísica daquele tempo, uma nova substância, res cogitam, substância do pensamento, mente. Os seus seguidores inventaram técnicas experimentais para tentar determinar se outros seres possuíam essa propriedade e, como Descartes, estavam preocupados em descobrir como as duas substâncias interagiam.
Newton demoliu esse cenário. Demonstrou que a visão cartesiana do corpo estava incorreta, e além disso, que não poderia haver uma descrição mecânica do mundo físico: o mundo não é uma máquina. Newton considerou essa conclusão tão “absurda” que ninguém capaz de boa compreensão científica poderia sustentá-la. Por conseguinte, Newton destruiu o conceito de corpo (material, físico etc.), da forma como era compreendido então, e não há realmente nada para substituí-lo, além “daquilo que nós entendemos mais ou menos”. O conceito cartesiano de mente permaneceu intocado. Tornou-se convencional dizer que nos livrámos do misticismo do “fantasma na máquina”. Muito pelo contrário: Newton exorcizou a máquina, deixando o fantasma intacto, uma consequência muito bem compreendida pelos grandes filósofos do período, como John Locke.
Locke continuou a especular (no idioma teológico então aceito) que, assim como Deus deu à matéria as propriedades de atração e repulsão, que são inconcebíveis para nós (como demonstrado pelo “sensato Mr. Newton”), do mesmo modo podemos ter “acrescentado” à matéria a capacidade de pensar. A sugestão (conhecida como “sugestão de Locke” na história da filosofia) foi amplamente perseguida no século 18, particularmente pelo filosofo e químico Joseph Priestley, adotada por Darwin, e redescoberta (aparentemente sem consciência das origens anteriores) pela filosofia e pela neurociência contemporâneas.
Há muito mais a dizer sobre essas questões, mas isso, essencialmente, é a que se referia Smith. Newton eliminou o problema mente-corpo na sua forma cartesiana clássica (não está claro que exista qualquer outra versão coerente), eliminando o corpo, e deixando intacta a mente. E, ao fazer isso, como concluiu David Hume, “embora Newton parecesse tirar o véu de alguns dos mistérios da natureza, mostrou ao mesmo tempo as imperfeições da filosofia mecânica… e assim restaurou a essa obscuridade os segredos finais [da natureza], que sempre existiram e sempre vão existir”.
Quando inovou o estudo da linguística, a abordagem comportamental verbal de B.F. Skinner dominava o campo e era amplamente empregada nos campos de marketing e promoções. A sua crítica à abordagem de Skinner derrubou o paradigma que prevalecia naquele tempo, mas também estabeleceu uma nova abordagem para a linguística. Parece, contudo, que o behaviorismo ainda prevalece no domínio público quando se trata de marketing e comportamento de consumo. Qual a sua explicação para essa aparente incongruência?
Métodos comportamentais (embora não exatamente o de Skinner) podem funcionar razoavelmente bem para moldar e controlar pensamentos e atitudes, e induzir ao consumismo. A necessidade de controlar o pensamento é uma doutrina-chave da enorme indústria de Relações Públicas, que desenvolveu-se nos países mais livres do mundo, Reino Unido e Estados Unidos, motivada pelo reconhecimento de que as pessoas conquistaram muitos direitos para serem controladas pela força, de modo que era necessário criar outros métodos: o que um dos fundadores da indústria, Edward Bernays, chamou a “engenharia do consentimento”.
No seu livro Propaganda, um documento fundador da indústria de marketing, Bernays explicou que as engenharias do consentimento e “arrebanhamento” eram necessárias em sociedades democráticas, de modo a assegurar que a “minoria inteligente” estivesse apta a agir (para o benefício de todos, claro…) sem a interferência da irritante população, que deve ser mantida passiva, obediente e distraída; consumismo apaixonado é o instrumento óbvio, baseado em “criar desejos” por vários meios.
Como explicou o intelectual Walter Lippmann, seu contemporâneo companheiro liberal, o intelectual público de maior prestígio naquele tempo, os “outsiders ignorantes e intrometidos”– o público em geral – precisam ser “colocados no seu lugar” como “espectadores”, não “participantes”, enquanto os “homens responsáveis” precisam ser protegidos do “esmagamento e rugido de um rebanho desnorteado”. Este é um princípio essencial da teoria democrática dominante. Marketing para arquitetar o consenso – por meio do controlo do pensamento, atitudes e comportamento – é uma alavanca crucial para alcançar esses objetivos – e, de passagem, manter os lucros correntes…
Muitos mantêm a visão de que, como humanos, somos propensos à agressão e à violência, o que na realidade explica o aumento da opressão e das instituições repressivas que definiram muito da civilização humana em todo o mundo. Como responde a essa visão sombria da natureza humana?
Na medida em que existem, a opressão e a repressão são reflexos da natureza humana. O mesmo é verdade quanto à simpatia, solidariedade, gentileza e cuidado com os outros – e para algumas grandes personalidades, como Adam Smith, estas são as qualidades essenciais dos humanos. A tarefa das políticas sociais é desenhar os modos como vivemos e a estrutura institucional e cultural das nossas vidas, de forma a favorecer os aspetos benignos e suprimir os aspetos grosseiros e destrutivos de nossa natureza fundamental.
Embora seja verdade que os humanos são seres sociais e que, portanto, o nosso comportamento depende de dispositivos sociais e políticos nas nossas vidas, haverá tal coisa como um bem comum para todos os seres humanos que vá além das aspirações básicas, tais como necessidade de alimento, teto e proteção contra ameaças externas?
Estas são as que Marx certa vez denominou “necessidades animais”, que, esperava, seriam providas pela realização do comunismo, libertando-nos para a produção das nossas “necessidades humanas”, que de longe transcendem aquelas em significado e sentido – embora não possamos esquecer-nos da advertência de Brecht: “primeiro, alimente a face”.
Em suma, como define a natureza humana ou, de modo alternativo, que tipo de seres somos nós?
Inicio o meu último livro a dizer que “não estou suficientemente iludido para pensar que podemos oferecer uma resposta satisfatória” a esta questão. Para acrescentar que “parece razoável acreditar que, pelo menos em alguns terrenos, particularmente face à nossa natureza cognitiva, há insights de algum interesse e significado, alguns dos quais novos, e deveria ser possível afastar parte dos obstáculos que bloqueiam uma investigação mais ampla, entre eles algumas doutrinas amplamente aceitas, cujas bases são muito menos estáveis do que pensamos”. Não me desiludi mais, desde então.
Definiu a sua filosofia política como socialismo libertário / anarquismo, mas recusa-se a aceitar o ponto de vista segundo o qual o anarquismo, como uma visão da ordem social, flui naturalmente das suas visões sobre linguagem. A relação é apenas de coincidência?
É mais que coincidente, mas muito menos que dedutiva. Num grau suficiente de abstração, há um elemento comum – que foi às vezes reconhecido, ou ao menos vislumbrado pelo Iluminismo e na era romântica. Em ambos os domínios podemos perceber, ou ao menos esperar, que o centro da natureza humana é o que o [anarquista russo Mikhail] Bakunin chamou de “um instinto pela liberdade”, que se revela tanto no aspeto criativo do uso da linguagem normal quanto no reconhecimento de que nenhuma forma de nominação, autoridade ou hierarquia é auto justificada. Cada uma precisa de justificar a si mesma e se não pode, o que normalmente ocorre, deve ser desmantelada, a favor de mais liberdade e justiça.
Esta parece-me a ideia central do anarquismo, derivada das suas raízes clássicas, liberais, e de perceções mais profundas – ou esperanças – sobre a essência da natureza humana. O socialismo libertário vai além, ao reunir ideias sobre simpatia, solidariedade, auxílio mútuo, e também raízes do Iluminismo e conceções sobre a natureza humana.
Mas as visões anarquista e marxista não foram capazes de recuperar terreno, nos nossos dias, e seria possível argumentar que as perspetivas de superar o capitalismo parecem ter sido maiores no passado do que hoje. Se concorda com esta afirmação, que fator pode explicar o fracasso na construção de uma ordem social alternativa – ou seja, capaz de superar o capitalismo e a exploração?
Os sistemas anteriores, que fracassaram, foram formas particulares de capitalismo de Estado. Na geração passada, eles foram piorados por doutrinas neoliberais, num assalto à dignidade humana e mesmo às “necessidades animais” da vida humana comum. De modo ainda mais ameaçador, a implementação destas doutrinas, exceto se revertida, destruirá as próprias possibilidades de existência humana decente, num futuro não distante.
Mas não há nenhuma razão para supor que estas tendências perigosas sejam o nosso destino. Elas são o produto de circunstâncias particulares e decisões humanas específicas, que foram bem estudadas em muitos trabalhos e que não há como expor nesta entrevista. Elas podem ser revertidas, e há ampla evidência de resistência a elas – algo que pode crescer, e na verdade precisa crescer e tornar-se força poderosa, se é que há esperança para a nossa espécie e para o mundo que elas, em grande medida, governam.
Desigualdade económica, ausência de crescimento e de novas ocupações e declínio dos padrões de vida tornaram-se características chave das sociedades avançadas contemporâneas. Ao mesmo tempo, as mudanças climáticas parecem oferecer uma ameaça real ao planeta.
Tem esperanças de que possamos encontrar a fórmula correta para enfrentar os problemas económicos, evitando, ao mesmo tempo, uma catástrofe ambiental?
Duas sombras sinistras pairam sobre tudo o que consideramos: a catástrofe ambiental e a guerra nuclear – a segunda, muito subestimada, na minha opinião. No caso das armas nucleares, ao menos sabemos a resposta: eliminá-las, como a varíola, com medidas adequadas, que são tecnicamente viáveis; garantir que não surjam novamente. No caso da catástrofe ambiental, ainda parece haver tempo para evitar as piores consequências, mas isso exigirá medidas muito mais relevantes do que as adotadas até agora – e há grandes obstáculos a superar, entre elas o Estado mais poderoso do mundo, o único que reivindica para si a condição de hegemónico.
Nos relatos das recente Cúpula de Paris sobre o clima, as observações mais importantes foram as que destacaram: o acordo de cumprimento obrigatório a que os negociadores esperavam chegar estaria “morto à partida”, quando chegasse ao Congresso dos Estados Unidos, controlado pelo Partido Republicano. É chocante, mas todos os pré-candidatos republicanos à presidência ou negam completamente as mudanças climáticas, ou são céticos que se opõem à ação governamental. O Congresso norte-americano celebrou a Cúpula de Paris restringindo até mesmo os limitados esforços do presidente Obama para evitar o desastre.
A maioria republicana no Legislativo (que corresponde a uma minoria no voto popular) orgulhosamente anunciou cortes de fundos para a Agência de Proteção Ambiental – uma dos poucos travões contra a destruição –, para dominar o que Hal Rogers, presidente do Comité de Verbas da Câmara, chamou de “agenda reguladora desnecessária e eliminadora de empregos”. Deve-se frisar que, na novilíngua contemporânea, a palavra “empregos” é um eufemismo para uma impronunciável palavra de seis letras, “lu–os”.
Em termos gerais, é um otimista sobre o futuro da humanidade, dado o tipo de seres que somos?
Temos duas escolhas. Podemos ser pessimistas, desistir e ajudar a garantir que o pior aconteça. Ou podemos ser otimistas, agarrar as oportunidades que certamente existem e, talvez, ajudar a tornar o mundo melhor. Na verdade, não é bem uma escolha…

Artigo publicado na Truthout
Tradução de Inês Castilho para o Outras Palavras


C.J. Polychroniou é um economista e cientista político que trabalhou em universidades e centros de pesquisa na Europa e Estados Unidos. Os seus principais temas de interesse estão na integração econômica europeia, globalização, economia política dos Estados Unidos e desconstrução do projeto político-econômico do neoliberalismo. É colaborador regular de Truthout e membro do Projeto Intelectual Público do Truthout. Publicou diversos livros e os seus artigos apareceram em diversos jornais, revistas e websites. Muitas das suas publicações foram traduzidas em diversas línguas, entre elas francês, grego, italiano, português, espanhol, turco e croata.

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