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sábado, 20 de fevereiro de 2016

UMBERTO ECO FALECEU E A LITERATURA FICOU MAIS POBRE

O autor de "O Nome da Rosa", morreu ontem (19) aos 84 anos, em sua casa em Milão. Pensador, filósofo, ensaísta, romancista e crítico literário e figura de renome no meio acadêmico e referência em semiótica, Umberto Eco ganhou sucesso internacional com o romance "O Nome da Rosa", obra adaptada para o cinema em 1986 pelo diretor Jean-Jacques Annaud, com Sean Connery no papel principal. No enredo, ambientado em 1327, um monge franciscano tem a missão de descobrir as misteriosas mortes de sete monges em sete dias.
Ele nasceu em Alexandria, na Itália, no dia 5 de janeiro de 1932. Em 1988, fundou o Departamento de Comunicação da Universidade de San Marino. Desde 2008 era professor emérito e presidente da Escola Superior de Estudos Humanísticos da Universidade de Bolonha.
Formou-se em filosofia em 1954, na Universidade de Turim, defendendo uma tese sobre a estética de São Tomás de Aquino. Em 1956, Eco publicou seu primeiro livro, uma extensão de sua tese intitulada "O problema estético em São Tomás de Aquino".
Um dos semiólogos e intelectuais europeus mais importantes deste século, ele também escreveu obras como "O Pêndulo de Foucault" (1988) e "O Cemitério de Praga" (2010), além de ensaios "O Problema Estético" (1956), "O Sinal" (1973), "Tratado Geral de Semiótica" (1975) e "Apocalípticos e Integrados" (1964), referência nos cursos de comunicação em todo o mundo.
Crítico do papel das novas tecnologias no processo de disseminação de informação, Eco disse, em julho do ano passado, que as redes sociais dão o direito à palavra a uma "legião de imbecis" que antes falavam apenas "em um bar e depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade". "Normalmente, eles [os imbecis] eram imediatamente calados, mas agora eles têm o mesmo direito à palavra de um Prêmio Nobel", disse o intelectual durante um evento em que recebeu o título de doutor honoris causa em comunicação e cultura na Universidade de Turim, norte da Itália.
Em uma de suas últimas colunas publicada pelo UOL, em janeiro deste ano, Eco fala de sua visão sobre a humanidade. "Na medida em que envelheci, comecei a odiar a humanidade. Portanto, se eu tivesse um poder absoluto, deixaria que ela continuasse em seu caminho de autodestruição. Ela seria destruída e eu ficaria mais feliz. Pessoas como eu são intelectuais: nós fazemos o nosso trabalho, escrevemos artigos, temos maneiras de protestar, mas não podemos mudar o mundo. Tudo o que podemos fazer é apoiar a política de empatia", escreveu ele.
Aqui, indico cinco obras para se conhecer melhor o trabalho do italiano:
“O Nome da Rosa” – livro mais famoso de Eco, narra uma história que se passa em 1327 em um mosteiro franciscano na Itália. Um frei é enviado ao lugar para apurar supostos pecados cometidos por alguns monges. No entanto, uma série de misteriosos assassinatos leva o investigador a uma trama cheia de reviravoltas, marcada pelo mistério e pelo herege erotismo.
“O Pêndulo de Foucault” – dentre as obras de ficção, é a segunda mais conhecida de Eco. Publicada em 1988, segue fórmula semelhante àquela adotada em “O Nome da Rosa”. Na década de 1980, profissionais de uma editora encontram pistas de que, em 1312, haveria acontecido uma fraude na Ordem dos Templários que traria consequências até a realidade do século 20.
“Apocalípticos e Integrados” – Uma das principais características de Eco foi saber integrar o saber acadêmico com o universo pop. Neste livro de 1965 está presente “O Mito do Super-Homem”, ensaio no qual o autor equipara as histórias em quadrinhos com outras artes até então consagradas. O texto foi largamente reproduzido, integralmente ou parcialmente, em diversos artigos que enaltecem as HQs.
“Não Contem com o Fim do Livro” – outro traço fundamental na biografia de Eco é o amor aos livros. Aqui, em parceria com o francês Jean Claude-Carrière, outro célebre bibliófilo, o italiano recorre à história das publicações impressas para garantir em uma série de ensaios que, independente das inovações tecnológicas, os calhamaços feitos de papel não deixarão de existir.
“Número Zero” – lançado em 2015, é a última obra de ficção de Umberto Eco. Mesmo sendo um texto aquém de trabalhos anteriores – o próprio “O Nome da Rosa”, por exemplo -, a leitura é válida por abordar temas inerentes à sociedade atual, como a parcialidade da mídia e questões relacionadas ao poder político e aos interesses da sociedade.
Seu último livro, "Numero Zero", foi lançado no ano passado e critica o mau jornalismo, a mentira e a manipulação da história. Uma paródia sobre tempos convulsos, porque "essa é a função crítica do intelectual". "Essa é minha maneira de contribuir para esclarecer algumas coisas. O intelectual não pode fazer nada, não pode fazer a revolução. As revoluções feitas por intelectuais são sempre muito perigosas", explicou o autor na época à agência de notícias EFE.

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