A mão (in)visíviel - Blog A CRÍTICA

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sexta-feira, 13 de maio de 2016

A mão (in)visíviel


Para os não-economistas importa saber que o conceito de mão invisível não é uma coisa qualquer; pelo contrário, é algo da maior relevância em qualquer economia do mundo.

Para amenizar dúvidas, de pronto, pode-se dizer que a mão invisível, assim como a moeda, é uma luva ou um véu no âmbito das relações de mercado, i.e., sem a mão invisível os mercados não funcionariam.

A propósito, quem surgiu primeiro: O mercado ou a moeda? O mercado ou o Estado?

Sem dúvida, foi o mercado, quando das realizações das trocas de mercadorias ofertadas pelos caixeiros-viajantes que buscavam por um lugar comum que concentrasse um número de pessoas interessadas nas trocas, o que deu início ao fim do feudalismo com esse escambo a partir de uma economia mercantil de trocas diretas de mercadorias (M-M).

Moedas das mais rudimentares e Estados dos mais absolutistas que existiram vieram depois, sendo que as primeiras vieram para facilitar as trocas diretas e o Estado para possibilitar a ordem, a justiça, a distribuição e a segurança.  

Mas afinal o que seria essa mão invisível?

SMITH, A. (1776) sentenciou: “Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro e do padeiro que esperamos o nosso jantar, mas da consideração que ele tem pelos próprios interesses.”

Isto quer dizer: “mão invisível é um mecanismo de coordenação pelo qual nossas ações egoístas acabam gerando um aumento do bem-estar geral.” (DELFIM NETTO, A.  1999)

O auto-interesse é que define o equilíbrio dos mercados, segundo Smith, pois, com o mercado livre os agentes irão buscar o lucro (seus interesses), naturalmente, porém, pautados pela racionalidade e eficiência.

Racionalidade e eficiência essas que o pensador escocês enfatiza em sua fábula dos alfinetes ao pormenorizar a divisão do trabalho quando mencionou: “... no ambiente da fábrica ao invés de um trabalhador desenrolar, cortar, afinar, encabeçar, niquelar e acomodar em caixas os alfinetes; o ideal era fazer uma ou duas dessas atividades, ao máximo, o que resultaria num fabuloso aumento de produtividade beneficiando a sociedade em geral.”    

Portanto, mão invisível é o mercado autorregulado pelas ações (interesses) dos agentes econômicos que possibilita a concorrência.

No entanto, o circuito produtivo de uma economia mercantil simples, autônoma e independente (M-D-M), desviou-se para uma economia capitalista complexa, autônoma e interdependente (D-M-D’), com ganhos dos capitalistas sobre as mercadorias vendidas, numa reprodução ampliada do capital frenética e desenfreada, ou seja, mais dinheiro sem lastro produtivo.

A contradição efetiva foi o ganho sem produção, quer dizer, dinheiro fazendo dinheiro (D-D’) na ciranda financeira das bolsas de valores decorrente do boom produtivo momentâneo dos países pós-primeira Grande Guerra, exceto Europa, mas que terminou numa crise sem igual na história dos mercados mundiais.

Mister se faz pormenorizar o que ficou conhecido com a crise de 1929/1930 – a Grande Depressão.
Foi uma crise de superprodução, já que não havia demanda suficiente para absorver toda a oferta (no Brasil, pasmem, queimou-se cafezais para tentar estabilizar preços), o que fez com que sobrassem muitos produtos sem serem consumidos, e, como conseqüência, uma queda generalizada dos preços (deflação).

Como decorrência disso, uma redução expressiva da renda dos empresários que por sua vez reduziram substancialmente os investimentos, afetando significativamente o nível de emprego.

Toda essa conjuntura depressiva da economia resultou numa diminuição acentuada do valor das ações das empresas, o que causou um movimento de venda generalizada no mercado acionário, a Bolsa de Valores, acarretando queda no valor das ações e alastrando, por toda a economia, as conseqüências da depressão.

E cadê a mão invisível? Foi pro “béléléu”, oportunizando o “quid pro quo” (no popular dizemos quiprocó) referenciado acima.

Quem a substituiu? A mão visível do Estado. Como? A partir da implementação de políticas fiscais e monetárias no combate ao ciclo descendente e aquela crise destrutiva e perversa.

Para não me alongar mais e não cansar prezadas e prezados leitores, para que entendam um “xiriri” o que sejam políticas fiscais e monetárias, basta que reparem bem para o orçamento público brasileiro, hoje deficitário, e para as nossas taxas de juros extremamente elevadas, tendo em mente a dívida pública, e, principalmente, os juros de outros países (de rendas semelhantes ao Brasil ou não) numa modesta análise comparativa.

Recado para os economistas e políticos em momento crítico da economia brasileira: não confundir teoria econômica com economia política, mesmo porque, vejam que a Alemanha fez as reformar necessárias, o que a qualifica como umas das economias mais sólidas da Zona do Euro, e me parece, que a Grécia dos sábios voltou a ser sábia em decisão recente do seu Parlamento no mesmo sentido da Alemanha.

Que haja respeito, confiança e compromisso cooperativo entre as mãos invisível (Mercado), visível (Estado) e as calejadas mãos do Povo Brasileiro.

E é só.


Escrito por Ernani Lúcio Pinto de Souza 

Economista do Niepe/Fe/Ufmt, ms. em planejamento do desenvolvimento pela Anpec/Naea/Ufpa e conselheiro do Codir/Fiemt pelo Corecon-Mt.

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