AMY GOODMAN: Sobre o que está acontecendo agora no Brasil, onde os protestos continuam ao longo da votação do Legislativo para suspender a presidente Dilma Rousseff e colocá-la em julgamento? Agora El Salvador recusou-se a reconhecer o novo governo brasileiro. O presidente salvadorenho, Cerén, disse que o afastamento de Rousseff teve, "a aparência de um golpe de Estado." O que está acontecendo lá? E o que dizer da diferença entre a parecia que talvez Bush, salvou a América Latina simplesmente por não incidir sobre ela, totalmente embrulhado no Iraque e no Afeganistão. Parece que a administração Obama está pagando uma atenção um pouco maior.
NOAM CHOMSKY: Bem, eu não acho que é apenas uma questão de não prestar atenção. A América Latina, de forma significativa, libertou-se da dominação estrangeira, principalmente dos EUA, nos últimos 10 ou 15 anos. Isso é um desenvolvimento dramático nos assuntos mundiais. É a primeira vez em 500 anos. É uma grande mudança. Assim, a chamada falta de atenção é em parte o fato de que os EUA de alguma forma foram expulsos do hemisfério, diminuindo o que pode fazer. Era capaz de derrubar governos, realizar golpes à vontade e assim por diante. Ele tenta. Houve três talvez, depende de como você contá-os - golpes e tentativas de golpe neste século. Um na Venezuela, em 2002, conseguiu por um par de dias, apoiado pelos EUA, derrubado por reação popular. Um segundo no Haiti de 2004, conseguiu. Os EUA e a França-Canadá ajudou - sequestrou o presidente, enviou-o para a África Central, não permitirá que seu partido para concorrer nas eleições. Isso foi um golpe bem sucedido. Honduras, sob Obama, houve um golpe militar, derrubou um presidente reformista. Os Estados Unidos estavam quase praticamente sozinhos em legitimar o golpe, você sabe, alegando que as eleições sob o regime golpista eram legítimas. Honduras, sempre foi uma sociedade muito pobre, reprimida, tornou-se uma câmara de horror total. O fluxo enorme de refugiados, nós jogamos de volta na fronteira, de volta para a violência, que ajudamos a criar. No Paraguai, houve uma espécie de semi-golpe. O que aconteceu também, para se livrar de um padre progressista que estava correndo o país brevemente.
O que está acontecendo no Brasil agora é extremamente lamentável de muitas maneiras. Em primeiro lugar, tem havido um enorme nível da corrupção. Lamentavelmente, o Partido dos Trabalhadores, o partido de Lula, que teve uma oportunidade real para alcançar algo extremamente significativo, e fez algumas mudanças positivas consideráveis, no entanto, se juntou ao resto da elite tradicional no roubo apenas por atacado. E isso deve ser punido. Por outro lado, o que está acontecendo agora, o que você citou de El Salvador, penso eu, é bastante preciso. É uma espécie de um golpe suave. A elite detestava o Partido dos Trabalhadores e está usando esta oportunidade para livrar-se do partido que ganhou as eleições. Eles não estão esperando para as eleições, que provavelmente iriam perder, mas eles querem se livrar dele, explorando uma recessão econômica, o que é grave, e da corrupção maciça que tem sido exposto. Mas como até mesmo The New York Times apontou, Dilma Rousseff é talvez um líder-político que não tenha roubado a fim de beneficiar a si mesma. Ela está sendo acusada de manipulações no orçamento, que são bastante normais em muitos países, tirando de um bolso e colocando em outro. Talvez seja uma má ação de algum tipo, mas certamente não justifica impeachment. Na verdade, Ela está - temos um líder político que não tenha roubado para enriquecer a si mesma, que está sendo acusada por uma gangue de ladrões, que fizeram. Isso conta como uma espécie de golpe suave. Acho que está correto essa suposição.
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