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domingo, 22 de maio de 2016

O lugar de todas as crises humanitárias

O Oriente Médio é o lar ou o lugar de procedência de uma em cada três pessoas refugiadas ou deslocadas no mundo. 

Por Baher Kamal

Foto de Sayed Muhammad Shah/Unama

Os inúmeros delegados do Oriente Médio que participaram, em março de 2015, numa reunião em Amã, na Jordânia, para preparar a Cimeira Humanitária Mundial (CHM), que se realiza esta segunda e terça-feira na cidade turca de Istambul, seguramente deram-se conta de que a sua região era, e ainda é, “a mãe de todas as crises humanitárias”. Só para lembrar, a Organização das Nações Unidas (ONU) destacou: “A vida de milhões de pessoas, da Líbia à Palestina, do Iêmen à Síria e ao Iraque, ficaram destruídas pela violência”.
Mais deslocados do que após a 2ª Guerra Mundial
Além disso, a ONU apontou que o enorme número de pessoas afetadas pelos conflitos, pela violência e pelo deslocamento pouco fizeram para serem vítimas do verdadeiro trauma experimentado. E informou que atualmente “há mais pessoas deslocadas por conflitos do que em qualquer outro momento desde 1945”. Os dados não deixam dúvidas: 60 milhões de pessoas deslocadas, seja dentro ou fora dos seus países, em todo o mundo.
Entre elas:
– cinco milhões de palestinos ainda dispersos, principalmente em países vizinhos como Líbano, Síria e Jordânia, segundo a Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina (Unrwa);
– um milhão e meio de pessoas estão sitiadas no território palestino de Gaza e sofrem uma crise humanitária permanente;
– quatro milhões de civis sírios fugiram da guerra, convertendo-se em refugiados que buscam proteção na região e na Europa como consequência imediata dos cinco anos de conflito na Síria, segundo estimativa do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur);
– um milhão de sírios tiveram de abandonar as suas casas e procurar segurança noutras partes do seu país, de acordo com a ONU;
– um milhão de pessoas na Líbia sofrem os incontroláveis confrontos armados no seu próprio e instável país. “A informação procedente da Líbia é alarmante em relação à ocorrência de graves atos que poderiam constituir crimes de guerra”, denunciou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, no dia 6 de março deste ano;
– cinco milhões de pessoas tiveram que abandonar suas casas em busca de refúgio dentro do seu próprio país ou no exterior;
– em julho de 2015, uma alta funcionária da ONU no Iraque qualificou de “devastador” o encerramento de serviços vitais no país para as pessoas mais necessitadas, e realçou que o facto terá impacto direto em mais de um milhão de pessoas, entre elas 500 crianças que não serão imunizadas, o que implica o risco de focos de sarampo e poliomielite;
– um milhão de refugiados sírios residem no Líbano. A ONU informou, há seis meses, que cerca de 70% deles vivem em condições de extrema pobreza;
– dois milhões de civis no Iémen fugiram para a Somália, outro Estado assolado pela guerra há tempos, devido ao conflito atual no seu país. Mais de 15,2 milhões de pessoas no Iémen carecem de acesso a serviços de saúde, bem acima da metade dos seus 25 milhões de habitantes e, no entanto, faltam 55% dos fundos internacionais solicitados para enfrentar esta crise, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Uma em cada três pessoas refugidas são oriundas do Oriente Médio
Por outras palavras, o Oriente Médio é o lar ou o lugar de procedência de uma em cada três pessoas refugiadas ou deslocadas no mundo. Os dados anteriores referem-se à região “tradicionalmente” conhecida como Oriente Médio, constituída por 22 nações árabes e Israel. Mas os números são maiores se contemplarem o “grande Médio Oriente” e forem acrescentados os conflitos armados no Afeganistão e no Paquistão.
"O mundo é testemunha do maior grau de necessidade humanitária desde a Segunda Guerra Mundial", afirma o porta-voz da Cimeira.
Nesse caso, a região estendida será o lar ou lugar de procedência de dez milhões de refugiados ou deslocados, quase metade de todas as pessoas que estão nessa situação no mundo. No entanto, não são só as guerras e violência que afetam o Médio Oriente, mas também os desastres naturais que causam mais danos, duram mais e, em muitos casos, ocorrem antes que as pessoas possam recuperar do anterior, segundo a ONU.
O que também converte o Médio Oriente na “mãe das crises humanitárias”são outros factos dramáticos, como:
– a região corre o risco de ficar inabitável pelas consequências negativas da mudança climática;
– dois em cada três países árabes já sofrem uma grave escassez hídrica, e a terça parte restante é considerada insegura no tocante à disponibilidade de água;
– a ONU prognosticou um défice hídrico de 40% até 2030. O Médio Oriente é uma das regiões onde o impacto será maior.
Definitivamente, uma região inteira de quase 400 milhões de pessoas já sofre desastres derivados da ação humana, sejam guerras ou outros tipos de violência ou, simplesmente, a resposta prevista da natureza.
A CHM irá concentrar-se em cinco áreas estratégicas: prevenir e acabar com os conflitos, respeitar as leis da guerra, não deixar ninguém para trás, trabalhar de outra maneira para acabar com as necessidades e investir na humanidade. Ao anunciar a realização da Cimeira, altos funcionários da ONU, encabeçados por Ban Ki-moon, alertaram reiteradamente para o facto de o mundo estar a sofrer a pior crise humanitária em mais de 70 anos.
Numa coluna para a IPS, o porta-voz da cimeira, Hervé Verhoosel, escreveu: “Chegámos a um ponto sem retorno. O mundo é testemunha do maior grau de necessidade humanitária desde a Segunda Guerra Mundial” (1939-1945). E acrescentou que “a catástrofe humana é de escala titânica. Cerca de 125 milhões de pessoas têm necessidade extrema de ajuda, mais de 60 milhões foram deslocadas pela força, e houve 218 milhões afetadas por desastres naturais todos os anos nos últimos 20 anos”.
Estes dados equivalem a 400 milhões de vítimas, aproximadamente 80% da população europeia. Além disso, Verhoosel enfatizou que são necessários mais de 20 mil milhões de dólares para ajudar os 37 países atualmente afetados por desastres e conflitos.“A menos que sejam tomadas medidas imediatas, 62% da população mundial, quase dois em cada três de nós, poderá viver em 2030 no que se considera uma situação frágil. Uma e outra vez ouvimos que o nosso mundo chegou a um ponto de inflexão. Atualmente, essas palavras são mais certas do que nunca”, pontuou.
A situação golpeou-nos de perto, ressaltou Verhoosel. “Lentamente compreendemos que nenhum de nós está imune à reação em cadeia dos conflitos armados e dos desastres naturais. Chocamos cara a cara com os refugiados dos países assolados pela guerra e experimentamos na própria carne as consequências do aquecimento global e no nosso próprio território”, observou. “Vemos,vivemos e não podemos negá-las”, destacou.
Publicado em 17 de maio no site Envolverde

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