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sábado, 20 de agosto de 2016

As mulheres nas Olimpíadas do Rio 2016

Artigo de José Eustáquio Diniz Alves

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As mulheres ficaram de fora da primeira Olimpíada da era moderna, que aconteceu em Atenas, em 1896. Mas o tempo não para, o mundo gira e a realidade foi mudando nos jogos seguintes. O percentual de países que enviaram atletas do sexo feminino passou para 2% em Paris (1900), chegou a 9% nas Olimpíadas de Londres (1908), a 45% nas Olimpíadas de Antuérpia (1920), a 54% em Amsterdã (1928), a 70% em Montreal (1976), a 85% em Atlanta (1996), a 96% em Pequim (2008) e finalmente chegou a praticamente 100% em Londres (2012) e no Rio (2016)
Mas o caminho da inclusão feminina não foi fácil. Foi sob pressão recente do Comitê Olímpico Internacional que três países muçulmanos que resistiram à inclusão feminina cederam e enviaram mulheres aos jogos de 2012 e 2016. Foi o resultado de um esforço de um século para reduzir o hiato de gênero, que esteve presente desde o início do movimento olímpico moderno.
Mas o percentual de mulheres ainda não atingiu a paridade, embora falte relativamente pouco. Entre 1900 e 1920 o percentual de atletas do sexo feminino no total de atletas dos jogos ficou entre 1% e 2%. Atingiu o percentual de 10% em 1920, ultrapassou 20% em 1976, 34% em 1996, chegou a 42% em Pequim (2008), alcançou 44% em 2012 e ficou praticamente em 45% no Rio de Janeiro em 2016, conforme mostra o gráfico acima. Em Londres havia 10.774 atletas, sendo 6.098 homens e 4.676 mulheres (44% do total). No Rio de Janeiro, em 2016, foram 11.549 atletas, sendo 6.364 homens e 5185 mulheres (45% do total).

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Os Estados Unidos, que lideram o quadro de medalhas das Olimpíadas modernas, trouxeram para o Rio 292 mulheres, 52,6% da equipe. A grande novidade da delegação americana em 2016 é a ginasta negra Simone Biles, de 1,45 m de altura, que tem sido considerada uma atleta quase perfeita na ginástica olímpica.
A China, que tem disputado a liderança do quadro de medalhas e que tem uma população predominantemente masculina, trouxe uma delegação ainda mais feminina, com 160 homens, 256 mulheres (representando 61% da delegação). Sem dúvida, as mulheres têm sido fundamentais para os dois países líderes do quadro de medalhas ficarem no topo do ranking internacional.
As Olimpíadas tem sido um megaevento da sociedade do espetáculo que visa muito mais o lucro das grandes empresas que promovem os jogos do que um evento de paz, solidariedade e confraternização entre os atletas e as nações. É grande o nacionalismo, o bairrismo, o racismo e a disputa acirrada pela projeção das medalhas de ouro. Existem diversas denúncias de corrupção no COI, no COB e em todo o processo de preparação dos jogos. Os escândalos de doping se multiplicam e o caso da Rússia é apenas o mais evidente. Além da poluição, da imobilidade urbana e das filas, houve roubo de técnicos, atletas e turistas, morte do soldado brasileiro que entrou por engano em uma favela e alteração na cor das piscinas, dentre outros eventos indesejáveis.
O número de turistas ficou abaixo do esperado e muitas arenas ficaram vazias durante as competições. Como legado para o Rio, os jogos 2016 vão deixar uma montanha de dívidas e “elefantes brancos” que terão de ser pagos pelo povo brasileiro. Com toda a fortuna gasta para fomentar o nacionalismo, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) pretendia colocar o Brasil no top 10 do ranking olímpico, mas, por enquanto, o Brasil não está nem entre os 15 países com mais medalhas. No quadro de medalhas, o Brasil, mesmo disputando em casa, deve ficar atrás da Nova Zelândia, que tem menos de 5 milhões de habitantes (menor que a população da cidade do Rio de Janeiro). Também, pode ficar atrás até mesmo da Jamaica – que é um país pobre de menos de 3 milhões de habitantes. Talvez teremos um dos piores resultados de um país-sede de Olimpíada.

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Mas o lado positivo é que as Olimpíadas estão reduzindo o hiato de gênero e o número de atletas de ambos os sexos caminha para a paridade. Pela primeira vez, uma equipe de refugiados disputa Olimpíada. As atletas muçulmanas Doaa Elgobashy e Nada Meawad disputaram o vôlei de praia com calças, mangas compridas e véu, mesmo com as adversárias usando o tradicional biquíni. Também ganhou repercussão a atitude da gerente do estádio em Deodoro, Marjorie Enya, 28, que publicamente pediu em casamento a atleta brasileira Isadora Cerullo, 25, que, chorando, disse “sim”, além da presença da modelo transgênero Lea T à frente da delegação brasileira na cerimônia de abertura.
Portanto, há maior diversidade de gênero e as mulheres estão participando cada vez mais dos jogos olímpicos, mostrando tolerância e sendo protagonistas de um novo estilo de vida e de comportamento.

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

in EcoDebate, 19/08/2016

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